AS
CONTRIBUIÇÕES DA TRIZIDELA PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL, ECONÔMICO E POLÍTICO
DE BACABAL.
Autor: Raimundo Flor
Monteiro
1a edição:
2a revisão: 30/10/2009
3a revisão: 22/07/2017
4a revisão iniciada em 20/06/2024 a...
RESUMO
As contribuições do Bairro Trizidela para o desenvolvimento social, econômico e
político da cidade de Bacabal apresentadas, retrata o modo de vida, dos grupos sociais, hoje denominados "povos e comunidades tradicionais". Iniciamos com um breve contexto sócio histórico
da cidade de Bacabal a luz da premissa marxista de que "é o modo de produção que determina
a história de um povo". Assim, analisamos e resgatamos dados históricos social, cultural e produtivo, resultando nas
contribuições da comunidade do Bairro da Trizidela para a cidade de Bacabal.
Fig.: 01 - Vista do Bairro Trizidela em 2008
Fonte: do autor
I INTRODUÇÃO Segundo Cruz, 2012, as mudanças sociopolíticas da década de 1980 na dinâmica social da A. Latina e no Brasil, no que tange os conflitos sociais do mundo rural e das periferias das grandes cidades, faz surgir uma polifonia política" de vozes, caracterizando grito dos excluídos. Emergem dessa objetivação em diversos grupos singulares, o ecoar de vozes tímidas, como um lamento a procura de espaços, a reivindicar seus direitos sociais e políticos. Esses grupos ganham visibilidade por saírem da indigência e entrarem na agenda acadêmica das ciências sociais e humanas como grupos denominado "povos e comunidades tradicionais". Mas tarde entram na agenda política e social por sua centralidade empírica (histórica e política), na academia como "categoria de estudo" e na política como cidadão com direito a voto ávidos por sua inclusão na cidadania, dada a oportunidade de se fazerem reconhecidos como cidadãos. Os moradores do bairro Trizidela, em suas características, estão incluídos nessa categoria de "povos e comunidades tradicionais", na forma da legislação, direitos e políticas públicas em que vão ganhando espaços os grupos sociais, movimentos sociais, indígenas, ONGs, por estudos científicos, divulgação da mídia e posterior inclusão pelo Estado brasileiro. Para Cruz (2012) apud Paul Litlle (2006) as origens desse povo estão entrelaçados em dois campos: o das lutas por direitos culturais e territoriais de grupos étnicos e no campo ambiental, ligados a preservação, conservação, biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
1. CARACTERÍSTICAS
SOCIOECONÔMICAS DO MUNICÍPIO DE BACABAL
1.1- LOCALIZAÇÃO E SÍNTESE
HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE BACABAL
A cidade de Bacabal é cortada pela Rodovia Federal BR 316. Sua história começa quando o Coronel Lourenço da Silva resolveu fundar, em 1876, uma fazenda situada
as margens do Rio Mearim onde atualmente fica a Praça do Caldeirão, antiga
praça N.Sª da Conceição. O empreendimento destinava-se a policultura que incluía o cultivo de arroz, feijão,
milho, algodão e mandioca. O aumento do fluxo migratório trouxe o desenvolvimento do comércio em fluxo cada vez mais crescente de novos camponeses que fixavam morada no Município. Daí, a cada vez mais crescente necessidade de estabelecer uma ligação
comercial mais rápida e intensa com a capital São Luís e demais centros de consumo.
Trinta
e sete anos depois, em 1913, foram criadas as Coletorias Estadual e Federal e em
17 de abril de 1920, pela Lei Estadual de número 932, foi assinalada pelo governante
do Estado do Maranhão Dr Urbano Santos Sousa, a Lei que elevou a categoria de Vila. No
dia 07 de setembro de 1931 foi inaugurada a primeira a primeira rede de
iluminação elétrica cuja usina, posteriormente, foi substituída por outra mais
possante. Assim, segundo o Prof. Neto (2006), o Município de Bacabal foi criado em 06 de dezembro de 1938, pelo
Decreto Lei n°159.
A
inspiração do nome do município originou-se da grande quantidade de florestas de
palmeira de "bacaba", fruta nativa existente em abundância na época de sua
fundação e que, posteriormente, veio à extinção.
A
primeira autoridade formal foi o prefeito Jorge José de Mendonça que foi
nomeado pelo então Governador do Estado do Maranhão Urbano Santos.
Em
1993 o poder judiciário era representado por 03 juízes e o ministério público por
três promotores. Naquele ano achavam-se habilitados ao exercício da profissão um quantitativo de 15
advogados.
Os
limites da extensão de Bacabal são: ao Norte: Lago Verde; Sul: São Luís Gonzaga
e Lago do Junco; Leste: Coroatá e São Mateus; Oeste: Olho d’agua das Cunhãs,
Vitorino Freire e Lago da Pedra.
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Fig.: 01 - Início do séc. XX. Uma ponte sobre balsas foi o primeiro elo de ligação
depois das canoas, é claro, entre a Trizidela e Bacabal. Fonte: Internet |
1.2 - ATIVIDADES
SOCIOECONÔMICAS DO MUNICÍPIO DE BACABAL NAS ÁREAS URBANAS E RURAL
Destaca-se no município em Bacabal um conjunto variado de atividades econômicas, relacionadas a
prestação de serviços, como a educação, o transporte, a saúde, o comércio,
entre outras importantes, apesar do baixo poderio produtivo inerente as atividades relacionadas a
produção industrial.
Entre as atividades econômicas preponderantemente,
se destaca o setor terciário. Assim, o subsetor comércio se constitui, enquanto
vetor econômico preponderante, na atividade geradora de emprego e renda para
seus moradores; não obstante, com pujança, o subsetor de serviços, os mais
variados, tais como: saúde, educação, hoteleiro, bancário, serviço público etc.
Tem grande relevância. Em menor escala, o outrora significativo setor primário,
hoje, em menor escala, Conforme a
pesquisadora Ottati (2022, p.18), citada por Monteiro (2023, p.12), Bacabal é
um dos 18 municípios da região do Médio Mearim, com influência na atividade de
produção bovina, ou seja, um dos que pratica uma pecuária empresarial com ponto
de corte entre 2000 e 2010 com rebanhos a partir de 90 mil cabeças. No setor
primário, Bacabal ainda detém em menor escala, a extração vegetal, e a também outrora forte
atividade de pesca. Segue algumas atividades importante para o município:
1.2.1
– Extração vegetal - a extração do babaçu, especialmente explorada pelas
quebradeiras de coco, continua como uma das atividades econômicas relevantes,
como um dos principais produtos explorados no município. Permanece a contínua extração
da madeira enquanto uma das principais fontes energéticas, em bora combatida pelo
poder de repressão governamental.
1.2.2
- Extração animal – destaque para a piscicultura, uma vez que com os incentivos
disponibilizados pelo governo federal, ganhou destaque a distribuição de
alevinos ante a apresentação de projetos de piscicultura. A pesca no Rio
Mearim, lagos e lagoas continuam com atividades preponderantes para a
manutenção da sobrevivência, em especial do povo da Trizidela, que oferta nos
mercados, açougues e peixarias da cidade, os produtos que a
natureza oferecia em abundância, hoje, porém em quantidade bem reduzida.
1.2.3
– Agricultura – a maioria dessa atividade se processa de forma extensiva com
pequenos produtores familiares. Apresenta-se ainda marcada pelo atraso
tecnológico e o baixo investimento. Desconhece-se o sistema intensivo e por
falta de investimento municipal, estadual e federal, historicamente, faz-se a
manutenção do sistema de roça, com queimadas, etc. destaca-se o cultivo da
mandioca, feijão, milho, arroz, abacaxi, banana.
1.2.4
– Pecuária – a cidade sempre se destacou por ser um celeiro de pecuaristas de
grande porte. A criação de gado para o abate e a produção de leite, tem sido,
através dos anos, um destaque econômico do município. Do abete originou-se
atividades em salgadeiras de tratamento do couro, a ser posteriormente enviados
para o sul do país.
1.2.5
- Não é atoa que na década de 60 Bacabal chega a ter mais de trezentos
comerciantes compradores de babaçu e a Brasóleo como uma das principais indústria de alta produção
de óleo.
1.3 – PRINCIPAIS BAIRROS QUE
COMPÕE A CIDADE DE BACABAL
Bairro
D’areia, Cohab I, Cohab II, Cururupú, Trizidela I, Trizidela Nova II, Ramal, Bosque Aracati, Recanto das
Palmeiras, Vila São João, Santos Dumont, Coelho Dias, Madre Rosa, Multirão, Cidade do Sol, Bairro da mangueira, Rua Nova, etc. Caatinga, Bom Jesus, Alto dos Colar,
Sto Antônio, Luziana do Bubú, etc.
2 – ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DO BAIRRO
TRIZIDELA
2.1 – A GÊNESE DA TRIZIDELA
É
provável que os primeiros recrutamentos de mão de obra para trabalhar nas
lavouras da fazendo do Coronel Lourenço da Silva, tenham sido trabalhadores
braçais moradores na Trizidela. Em geral esses profissionais sobreviviam do
corte de juquira e a pesca. Com a valorização das terras das terras do Coronel,
o número de trabalhadores da Trizidela era cada vez maior. Dai a origem e a
consolidação do bairro enquanto opção de moradia praticamente sem custos. De fato, povos e comunidades tradicionais, procuram de todas formas se absterem de territórios de alta especulação imobiliária. Não porque não queriam residir em locais melhores, mas sim por suas condições de humildade e pobreza. Com a
apropriação das terras da Trizidela pelos avôs do proprietário, conhecido como Dr. Araújo, iniciou-se a
cobrança de taxas de aquisição, transferência, mensalidade sobre as moradias e
terrenos da Trizidela. Esses tributos eram cobrados pelo proprietário do território, através de um escritório cujo gerente arrecadador era o Sr. Dias.
2.2 – A RELAÇÃO ENTRE A
CIDADE DE BACABAL E A TRIZIDELA
A
cidade de Bacabal tem na população da Trizidela, constituída em sua maioria por
cidadãos de baixa renda, os seus cidadãos mais sofridos. Ao fixarem moradia localizando-se
do outro lado da margem do Rio Mearim, aquele lado que anualmente é incomodado
pelo flagelo, ou seja, pelas enchentes, os moradores passam por situações calamitosas
e vexatórias. Esse ensaio de sociologia crítica mostra que essa comunidade sempre
conviveu ativamente em desvantagem com a sociedade bacabalense dos anos 60, 70,
80 e, ao final dos anos 90, nos aspectos sociais, político e econômico, uma vez
que os serviços de educação, saúde, saneamento básico eram propiciados pelos
grupos sociais que se fixavam na cidade para a cidade e não para o povo da
Trizidela. Todavia, como veremos a seguir os produtos e serviços gerados pelo
trizidelenses sempre foram ofertados para os moradores de Bacabal, que deles
usufruíam. Dai a necessidade de intenso translado de pessoas da Trizidela para
Bacabal e vice versa, no que tange a compra e venda de produtos e serviços,
cujos ofertantes era e ainda hoje são os trizidelenses.
2.3 – O POVO, CIDADÃOS HISTÓRICOS.
A genealogia que fez surgir o termo "povos e comunidades tradicionais", conforme a pesquisadora cruz (2012), surge nas décadas de 1970 e 1980, porém em 1990, com a questão ambiental o termo se popularizou. Assim, os ribeirinhos entram para essa "categoria de análise para a academia" e tem seu reconhecimento pelo Estado, como sendo povos e comunidades que têm identidade, diversidade cultural e um modo de vida próprio, peculiar de sua condição de vida e passam a ter os requerimentos para sua visibilidade, o reconhecimento de seus direitos, a preservação de sua cultura, suas crenças e seus direitos ao território.
Do outro lado da cidade estavam e permanecem até hoje, os cidadãos históricos que direta e
indiretamente conviviam com o povo da Trizidela. Alguns desses personagens históricos,
alguns eram famosos na cidade, por se destacar enquanto pessoa e enquanto profissionais de ilibado esmero, entre os quais podemos destacar: Raimundo Gangá,
Ferramenta, Manoel da Bomba - que era dono da arrozeira Vale do Mearim, Zé Longar
- comerciante, Altamiro Paiva – distribuidor de bebidas, Sr. Açair – do
cartório, Sr. Garçêz, Professor Juarez – nosso matemático mais ilustre, Professor
Valmir – CONASA – Matemática, física e Química (pense num gênio!), Prof. Clécio
- de Biologia, Mundica Semana, Dr. Pedro Brito - do Correio, Padre Jacinto, a
Enfermeira Zuzu, Cibinga, Dr Nilo Cruz, Sr. Oliveira - da farmácia, o pistoleiro
Romão, Dona Pureza, Dona Nazaré, famosas pelos leitão e frangos preparados no
forno de barro, Manoel Aleijado que tinha um buteco de pinga na beira do rio,
Sr. Artur, pai de Vale Neto, Garganta e Elvira, Dr Otávio Pinho – odontólogo, Tonico
Braga - farmacêutico; Maneco - gerente do Armazém Paraíba, Dr de Paula -
dentista, Sr. Valdir – gerente das lojas pernambucanas, e muitos outros. Tais
como o locutor da rádio Jainára Osmar Nolêto, Zé do Forró, Dr. Otávio Pinho, Sr
Tonico Braga da farmácia, o jornalista Pedro Santos, Sr Milton fotógrafo, Dona
Rosemary Maranhão, Dr. Juarez Almeida, Dr. Ofélio, Dr. Prof. Valmir, Frei
Evando, frei Antônio, Prof, Mendes do SENAI, Sr Carrinho do Hotel Pingo de
Ouro, Na educação se destacou Josimar, que foi também prefeito de Bacabal, O
professor Melo, dono do Colégio Batista, A professora vereadora Zezé e o pastor
Boaventura.
2.4 - O MITO DE “EDITE A
DOIDA”
Nas
décadas de 70 e/ou 80, principalmente, perambulava nas imediações da BR 316, uma
cidadã que, aparentemente, sofria de distúrbios mentais. Contudo, não
apresentava sinais de reações violentas contra nenhuma pessoa. Postava-se
sempre a beira da BR com o olhar perdido e distante. Os mais generosos lhes
davam comida, contudo, as crianças, o insultavam. Porém, ela nunca reagia de
modo violento, apenas saia da área de penúria em que estava submetida. Essa
simples pessoa, negra, com as roupas rasgadas, abandonada por todos, certo dia,
veio a ser atropelada por uma carreta nas margens da BR 316. Essa infeliz alma que Bacabal já teve em sua história, veio a se tornar na saudosa e
milagrosa Edite. Que inédito, aquela que vagava pelas ruas de Bacabal e, muitas
vezes acoitadas por crianças que lhe jogavam pedras, pois a chamavam de “Edite a
doida”, tornou-se, após sua morte, em uma alma caridosa e milagrosa que em
muito tem ajudado e socorrido aos bacabalenses e os trizidelenses? Sim! Em
especial por esses últimos, os trizidelenses que é quem são realmente aqueles
que passam por mais dificuldades, são os que mais recorrem a ela. O tumulo de
Edite está localizado as margens da BR 316. Não obstante, tornou-se um local de
peregrinações e pagamento de promessas, um lugar santo. Eu mesmo já obtive
graças dessa alma caridosa e lá depositei minhas orações e acendi minhas velas
dedicadas de coração a ela “Edite a doida”, nossa protetora.
2.4.1 O MITO DE RIBAMAR PRETINHO
Nas décadas de 60 e 70 existiu no Bairro Trizidela um jovem negro chamado de Ribamar Pretinho. Ribamar andava sempre bem trajado e carregando sempre um baralho no bolso, sua profissão era de jogador. A noite no cabaré do mufumbo, havia os pontos de prostituição de jogo. Ribamar era daqueles profissionais que nunca perdia em jogo, por isso vivia bem. Contudo, seus adversários estavam sempre a desconfiar que ele trapaceava. O fato era que em muitos casos seus adversários após perderem tudo no jogo o desafiava para brigar de faca. Ao ser desafiado ele sorria, era sua maior habilidade, jogar facas. Costumava não matar seus adversários, só os feria em pontos não mortais. Desse modo, Ribamar Pretinho tornou-se um mito, algumas pessoas costumavam ir ao mufumbo, não para se prostituir e sim para ver Ribamar jogar facas. Até que em uma das oportunidades foi desafiado a jogar baralho e depois jogar facas com um caçambeiro conhecido pela alcunha Bibi. Não deu outra ganhou todo dinheiro do caçambeiro além de dar um show de facas em Bibi. Porém, dessa vez Ribamar não deu sorte, Bibi veio a assinar-lhe dias depois de ter sido humilhado em um jogo de facas.
2.3 – A ASSISTÊNCIA DOS
SERVIÇOS PÚBLICOS A COMUNIDADE DA TRIZIDELA.
2.3.1 - MOBILIDADE SOCIAL URBANA – o ir e vir dos trizidelenses, uma vez
que a Trizidela foi, e se constitui, em um bairro integrado a economia da
cidade de Bacabal é de essencial valor. Eram apenas por canoas que as pessoas
iam e vinham, ou seja, atravessando de um lado para o outro, de uma margem para
a outra margem do Rio Mearim. O translado era possível dado à habilidade do
povo da Trizidela em manusear suas canoas. Até as crianças sabem remar muito
bem. Contudo, esse ir e vir veio a si amenizar com construção da ponte sobre o
Rio Mearim. Essa via de acesso, fez com que a Trizidela tivesse um impulso de
crescimento social e econômico. A ponte foi projetada em 1954 pelo então
governador do Estado do Maranhão Doutor Eugênio Barros, período que coincidia
com a gestão do prefeito de Bacabal o Sr. Frederico Leda. A ponte foi liberada
para trafego de veiculo em 1957 e sua inauguração oficial deu-se no ano de 1958,
tendo sido reformada no ano de 1986. Até 2006 a ponte sobre o Rio Mearim era a
única opção de translado do povo da Trizidela. Após 2006, na gestão do prefeito
José Vieira foi construída uma outra ponte para passagem de pedestres, esta
sito, nas imediações da Rua Maneco
Mendes, em frente a casa de Maria de Lourdes Monteiro Barros, já falecida.
3.3.2 – EDUCAÇÃO NEGLIGENCIADA AOS
MAIS HUMILDES DA TRIZIDELA
Embora a Trizidela nas décadas de 50, 60, 70 e 80 não fosse contemplada
com escolas, os moradores do bairro eram obrigados a colocar suas crianças nas
escolas de Bacabal. Só nos anos 80 é que a prefeitura dispôs a Escola Jorge
José de Mendonça , situada na praça de são Raimundo, destinado a alfabetização
de adultos. Uma escola partícula preferida de Bacabal era a Escola NSª da
Conceição da professora Alice Mendes, que ficava atrás da igreja Santa
Terezinha. Entre as públicas surgiram às Escolas Arimatéia Cisne, que
funcionava no sindicato dos Arrumadores; Urbano Santos, 17 de abril, Estado do
Ceará, Escola Cleômenes Falcão; Escola Juarez de Almeida; Ginásio Bandeirantes.
Dentre as escolas particulares, destacavam-se a mais famosa Colégio Nossa Senhora
dos Anjos (CONASA), onde estudava os filhos das elites bacabalenses; O Colégio
Batista, Ginásio Stª Rosa, Colégio Gunnar Vingrem, a Escola Técnica Comercial
Alfredo Benna, que tinha no professor Maninho, hoje vereador, um dos seus
principais expoentes, etc.
3.3.3 – SAÚDE
Em Bacabal o imperativo da saúde sempre foi objeto da oferta de serviço
privado. Um dos pioneiros foi o hoje em ruínas hospital Santa Terezinha de
propriedade do Dr Juarez Almeida, médico e político, prefeito de Bacabal. O
empreendimento do Hospital Veloso Costa e Laura Vasconcelos foi na mesma esfera
privada um negócio de êxito dos empresários doutores. Não obstante, os mais
Jovens, Dr José Carlos da Clinica de Olhos Santa Maria, repetiu a dose dos
negócios lucrativos no ramo da saúde em Bacabal. Desse modo, Bacabal apesar de
não ter estatísticas oficiais, sofria de epidemias de tuberculose, tifo, febre
amarela, hanseníase, etc. dizia-se em adágios populares, que Bacabal era a
cidade onde os médicos, eram todos clínicos gerais, e enricavam em pouco tempo.
Só com o prefeito José Vieira Lins é que veio se instalar a municipalização da
saúde. Dizem os boatos que não por interesse pautados em anseios da população,
mais sim por se tratar de um processo que, alinhado com o governo federal, recebia verbas regulares para a manutenção da saúde dos bacabalenses. De uma
forma ou de outra o povo de Bacabal obteve pela primeira vez os serviços de
saúde a sua disposição. Entre os Bacabalenses os Trizidelenses, é óbvio. Cabe destacar que em muitas administrações dos prefeitos ditos "médicos" ( Dr Antônio, Dr Juarez Almeida, Dr Coelho Dias, Dr Cazuza, Raimundinha Loyola), tivemos como secretário de saúde o Dr. Hidalgo Leda.
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Fig.: 03 - A gênese da Trizidela no inicio do séc. XX. Período em que o Rio Mearim era navegável.
Ver-se as crianças descalças e com sinais de desnutridas. Fonte: Internet
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3.3.4 – SANEAMENTO BÁSICO
Os serviços relativos a abastecimento da água potável, até o inicio do
novo milênio, não era ofertado pelos órgãos públicos aos moradores da
Trizidela. Nessas condições, os moradores consumiam água colhida no Rio Mearim, como se diz "in natura".
Era comum, pela manhã, um número expressivo de mulheres e crianças enchendo
água, ou seja, pegando água no rio para ser consumida nas residências. Essa
prática extremamente danosa aos moradores gerava muitos problemas de saúde na
população, especialmente verminose, em decorrência da água não tratada. Não
obstante, os índices de mortalidade infantil eram altíssimas no bairro em relação a
cidade de Bacabal.
Não obstante, não havia infraestrutura de esgoto, por isso, raras eram
as casas que eram providas de aparelhos sanitários, sendo comum buracos no chão
para coletar dejetos. Essas medidas práticas causam um forte impacto no meio
ambiente, visto que as ruas próximas ao rio Mearim tinham seus dejetos jogados
no próprio Mearim poluindo a fonte de água de beber.
3.3.5 – MORADIA
As resistências eram construídas pelos próprios moradores sem nenhuma
contribuição dos órgãos públicos municipais, estaduais e federais. As
características das moradias dos Trizidelenses nos anos 60, 70 e 80, eram de
90% das residências construídas de "pau a pique" e cobertas de palha. Eram casas
simples em geral com três cômodos: sala, quarto e cozinha. Não havia nenhuma estrutura básica instalação hidráulica (água) e instalação sanitária (banheiros). Não obstante, nesse
tipo de residências, por consequência da matéria prima utilizada era comum
haver incêndios. Nesse período de tempo as residências eram precárias
acomodações, sem conforto e ou segurança. Não havia nenhum projeto ou programa
político municipal, estadual ou federal, de qualquer natureza, que se importasse com aqueles cidadãos, embora
cerca de mais de 60% deles fossem indigentes, ou seja não possuíam se quer um documento. Daí se depreender que por ser um bolsão de pobreza, onde 99% eram analfabetos, a Trizidela contava uma quantidade muitíssimo restrita de votos.
3.3.5.1 - O IMPACTO DAS ENCHENTES DO RIO MEARIM NO BAIRRO TRIZIDELA
Além das difíceis situações de vida do povo trizidelense, pelas condições sociais em que não lhes foram ofertadas pelo poder público municipal, estadual e federal, outro importante fator impactante dificultava suas vidas. Anualmente as intempéries de chuvas e enchentes desassossegava seus humildes moradores. Os ciclos geográficos regulares anuais de inverno e verão definem seis meses de chuvas. Nesse período, gradativamente, vindo dos planos dos terrenos mais baixos para os mais altos, iam se alagando pelas cheias do Rio Mearim. Assim, pouco a pouco o povo da Trizidela iam perdendo suas casas para o rio. Não obstante, os prejuízos eram muito grandes para quem, por seu baixo poder aquisitivo, já precisava se superar para compra seus móveis básicos, tais como cama, geladeira e fogões. Parte do suor desse povo era também levado pelas águas. Retirados pelo caminhões da prefeitura, os moradores ocupavam escolas, estádio e mesmo o parque de exposição de Bacabal. Nesses períodos o governo federal costumava liberar verbas públicas para os Estados e estes repassavam ao municípios. Assim, através da Cruz Vermelha eram distribuídos arroz, feijão, farinha e charque, café e açúcar aos moradores. Ao final de quatro meses de intenso sofrimento, lá vinhamos todos nós ocupar nossas casas. Refazer as taperas estava em primeiro plano, mas também, ficavam as doenças que se proliferavam pela condição da ocupação das água. Febres, gripes, dor de cabeça e frieira nos pés era comum. Era o período em que o Sr. Oliveira e o Sr. Tonico Braga, ambos farmacêuticos da cidade de Bacabal mais trabalhavam. Os moradores se reversavam dos abrigos a vigiar suas casas para não roubarem pequenas coisas que não eram levadas para os abrigos. A meu ver o único fato positivo que havia, nesse período de enchente, era que no Rio Mearim se propagava uma enorme abundancia de peixes. Achávamos positivo. Porém hoje, talvez nem pudéssemos pescar dado que é exatamente nessa época que ocorre o período da desova. A pesca abundante naquela época responde o porque hoje os cardumes de peixes no Rio Mearim ficaram tão raros.
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Fig.: 04 - Bairro Trizidela em plena enchente do Rio Mearim. Ver-se após a descida da ponte, no primeiro plano as lavadeiras de roupa em seu trabalho, sobre a BR 316. No fundo um caminhão descarrega ou carrega arroz na Usina do Sr Francês. Fonte: Internet
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3.3.6 – REDE DE SAÚDE E AS CONDIÇÕES PARA O BAIRRO
A Trizidela nunca foi prioridade para o poder publico municipal,
estadual e/ou federal. Pelo menos nas décadas de 50, 60, 70, 80 e 90. Desse
modo, não se presenciou nesses anos a implementação de nenhum programa
preventivo, preditivo e/ou corretivo de saúde publica. O acesso da comunidade
dependia da disponibilidade de recursos próprios, que era exatamente o eles não
tinham. Assim, não recorriam aos hospitais privados, tais como Bom Pastor,
Veloso Costa, Santa Terezinha e José Amorim. Não obstante, as clinicas
particulares Santa Joana, Santa Rafaela, Clinica Pinho e Santa Apolônia.
Constata-se também que nas décadas de 60, 70 e 80 com a maioria dos moradores
indigentes as pessoas que não possuíam registro de nascimento e/ou identidade
não podiam ter acesso as instituições burocráticas.
3.4
- O
MODO DE VIDA E PRODUÇÃO DOS TRIZIDELENSES
Quando
o pensador Karl Marx (1818-1883), ao contrário do que afirmava Hegel, afirma o pressuposto
de que não são as ideias dos homens ilustres e poderosos que delineiam as ondas
da historia, mais sim, o modo como esses homens se organizam para garantirem
sua sobrevivência. Marx retira da frente histórica as ideias burguesas e coloca
a construção material inerente ao modo de produção, como motor propulsor da
história. Trazendo os pressupostos históricos de Marx para o Município de
Bacabal, podemos interpretar que foram as comunidades de trabalhadores,
sobretudo, formadas por pescadores oriundos do Bairro da
Trizidela que deram suporte e ajudaram na gênese da cidade de Bacabal, promissor
Município do Estado do Maranhão. É importante afirmar que comunidades tradicionais, a exemplo dos críticos do sistema capitalista, são parcialmente excluídas do processo do sistema capitalista. Dessa forma, para sobreviver, em condições em que lhe são negadas políticas publicas, desenvolve sua sobrevivência de modo próprio. É comum no bairro, a maioria das pessoas serem solidárias, cooperativas e gentis uma com as outras.
3.4.1
- SETOR PRIMÁRIO
São
atividades econômicas que incluem o trabalho na agricultura, na pecuária, no
extrativismo vegetal, animal e a pesca. Essas atividades, pelo menos agricultura, o
extrativismo vegetal e animal sempre se constituíram no principal motor de
sobrevivência da comunidade da Trizidela.
3.4.1.1 - A
AGRICULTURA
A
sobrevivência da maior parte das famílias da Trizidela era feita através da
agricultura, ou seja, o cultivo do arroz, feijão, mandioca, a macaxeira. Poucos
moradores tinha roça em locais mais distantes, como no Santo Antônio, Luziana do Bubú,
caso do meu pai, por exemplo. Porém, a maioria era o que podemos chamar de
pequenos produtores. Estes pequenos, realizavam o cultivo as margens do Rio Mearim. Eram
os chamados vazanteiros, ou seja, aqueles que labutavam com vazantes. Esses
cultivos eram principalmente de verduras, tais como: a macaxeira, quiabo,
maxixe, vinagreira e feijão, vendidos ainda verdes e frescos na baje nas feiras.
Muitos são os representantes entre os quais, além do meu pai Manoel Flor Monteiro, podemos citar a
família dos Jerômes, constituída pelo Srs. Pedro e Antônio Jerôme, o Sr
Raimundo, o Sr. Virgilho, o Sr. Antoninho, Sr. Valentim esposa de dona Cristina, mãe de José Esther Pinto, hoje policial, e o Sr. Gongo. Portanto, parte do
suprimento de frutas verdes e frescas ofertadas ao povo de Bacabal era
garantido pelos moradores da Trizidela.
3.4.1.2 - A PECUÁRIA
Entre
os mais humildes moradores da Trizidela, poucos eram, verdadeiramente,
economicamente humildes, entre os quais podemos destacar à família "Mendes" do pecuarista Maneco
Mendes esposo de Dona Ernestina e mais tarde, após o falecimento do Sr.
Maneco, os seus filhos Zica, Nezinho, Ivete, Iolete e Edimilson. Sua fazenda era localizada próximo da Catinga
em uma estrutura bem montada e, constantemente, lotes de gado de sua fazenda
eram vendida para o abate. Não obstante, a Trizidela não possuía apenas um
conjunto unitário de pecuaristas, existiam outros entre os quais também se destacavam
o Sr Zeca Batista, pai de Xênia e Telbaldo e o Sr. Domingos Gangá, que segundo
alguns, também era proprietário de fazendas de gado. Havia outros, todavia,
pequenos criadores com menos de 10 cabeças de gado. A importância dessa
atividade para o povo da Trizidela e para Bacabal era grande, visto que eram
fazendas produtivas que contribuíam para a oferta de abastecimento do mercado de
carne, couro e especialmente do leite, para o desenvolvimento econômico do
município de Bacabal. Não se pode esquecer o Sr. Oswaldo que era um pecuarista
da mangueira, ali próximo a Trizidela, próximo a torre da Rádio Jainára.
3.4.1.3 – EXTRATIVISMO VEGETAL E ANIMAL
A história da Trizidela também é marcada pelos seus mestres da pesca,
aqueles que eram homens notáveis que sustentaram suas famílias pela arte de
trabalhar na pesca e dela tirar o seu sustento. Podemos problematizar da
seguinte forma “Quem eram os principais pescadores do bairro naquela época”? Quem
não tem lembrança do conhecido e saudoso “LELÉ”; O Sr Antônio (meu compadre)
conhecido como Antonhão, esposo de minha comadre Mariazinha, e seu irmão Ari,
os irmãos Antônio e Jorge Café, Evangelho Monteiro e os irmãos José Ramos e
Raimundo Monteiro (esse último sou eu), meu compadre Manoel de Eugênio, entre
outros.
A arte de pescar do povo da Trizidela inicia-se quando ainda são
crianças. Essa cultura é remanescente natural do desenvolvimento da capacidade
da criança, futuro pescador, em remar e dirigir a embarcação, no caso, a canoa.
Botar a canoa nas operações de pescar exige perícia especialmente porque muitas
vezes o pescador opera a canoa à medida que executa outras operações, tais como,
por exemplo, distribuir rede ou despescar o curral. Portanto, não é só ter o
domínio das operações de remar, mais sim, contornar o barco (canoa) em diversas
operações, muitas vezes com um só braço.
O pescador do Bairro Trizidela, na terminologia moderna, pode ser
chamado de “polivalente”, uma vez que ele próprio fabrica os artefatos e
ferramentas de produção da pesca. Desse modo, confeccionar a própria canoa, as
tarrafas, os diversos tipos de enganchos (redes de pesca). O processo de
confecção desses bens de produção chega a ser altamente complexo e são, desde a
infância, repassados esses conhecimentos de pais para filhos. As técnicas ou
modalidades de pescarias são diversas, entre elas podemos destacar a pesca de
tarrafa, colocação de enganchos, colocação de corda, colocação de currais que
pode ser de diversos tipos, entre os quais o mais usado, que é o curral de
sala. Não obstante, nas lagoas se pode pescar com landuá e/ou currú.
A pesca com tarrafa consiste em o pescado ocupar, de pé, a polpa da canoa,
já com o castelo da tarrafa devidamente enrolado no braço e sustentar com a mão
esquerda a borda com chumbadas da tarrafa, enquanto a mão direita entreabre o
anel externo, seguindo-se um ágil movimento para a esquerda e rápido retorno a
direita, lançando para um plano inclinado ascendente a tarrafa, que durante o
movimento vai se abrindo até formar um circulo concêntrico perfeito. Essa
atividade requer muita habilidade, eu que o diga, pois muitas vezes, quando eu
aprendia a jogar tarrafa, meu irmão José Ramos, mestre em jogar tarrafa, insistia,
“não é força é jeito.”
Já a pesca de corda consiste em atravessar o fio de nylon de uma margem
a outra, dando o seio necessário para que após a colocação das poitas e dos
anzóis ela possa localizar-se de leito, ou seja, de fato no fundo do rio. As
cordas para serem efetivas, isto é pescar peixe, precisa ser iscadas, de acordo
com o tipo de peixe que se quer pescar. Como por exemplo: a pesca de mandi
reque anzóis médios iscados, de preferencia com minhocas; para pescar surubim,
por exemplo, uma das iscas preferidas desse peixe é a piaba olho de fogo.
Portanto, de acordo com o peixe a captura se define a iscar, que também é
capturada pelo pescador.
A pesca de engancho requer conhecimento, sobretudo, dos rios e dos lagos
em seus pontos de fluxo d’agua e passagem dos peixes em seus tipos e
características, tais como os que deslocam-se em água profundas, em água medias
e os que flutuam na parte superior. Dai o pescador escolhe o local e o tamanho
da rede e da malha que vai capturar o peixe. Dessa forma, é só esperar os
peixes caírem nas redes para poder embarcá-los na canoa. As pescas de landoá e
currú são feitas especialmente nas capturas de iscas em água paradas e lagos.
Todavia, tem suas especificidades científicas e técnicas de aplicação.
As contribuições da comunidade da Trizidela para Bacabal no campo da
pesca é de valor inestimável, uma vez que contribui no trabalho de oferta de produtos
de pescados, de diversos gêneros, para o povo da cidade se alimentar. Desse
modo, a pesca constitui também o principal sustentáculo de sobrevivência dessa
comunidade, pois se torna o fundante modus operandi de vida de uma comunidade e,
através dela, se define a história desse povo. Portanto a sociedade bacabalense
na sua totalidade, engloba, as características de parte de seu povo, aqueles
que residem na Trizidela. Em tempos de abundancia da oferta de pescado
costuma-se, não só suprir Bacabal, como também exportar para outros municípios
os excedentes. É essa renda que permite a subsistência. Convém salientar que a
cadeia de negociação do capital é perversa e aí, ao trabalho do pescador,
alia-se ao do inesperado e indesejável atravessador que, em muitos casos, ganha
muito mais que o trabalhador, pelo investimento do seu capital, em muitos
casos, antes mesmo do pescador pescar o peixe.
3.4.1.4 - PRODUÇÃO DO BABAÇU: AS QUEBRADEIRAS DE COCO DO BAIRRO.
Muitas das donas de casa da Trizidela contribuíam com os maridos, em
muitos casos pescadores, na quebra de coco babaçu. Nos idos dos anos 70 e 80
nas imediações da Catinga, do Bom Jesus, Alto dos Colar, etc. (vilarejos) havia
abundância de palmeiras de babaçu. Desse modo, as mulheres saiam de seus lares pela
manhã, com seus côfos pendurados a cintura, portando um machado e um macete
para quebrar coco. Ao final da tarde haviam quebrado cerca de 5 a 10 quilos de
coco. As amêndoas eram vendidas no quilo, em geral por um preço muito baixo.
Essa atividade consistia um certo grau de risco, uma vez que a coleta dos
frutos era feita em propriedades alheias, em que muitas vezes os donos não
concordavam com a coleta. Essa produção era vendida e outra parte revertida na
sua maioria para a produção artesanal do óleo de babaçu, um óleo comestível
muito apreciado pelos bacabalenses. Desse modo, se mantinham a manutenção da
vida pelo trabalho através da exploração e aproveitamento dos recursos
naturais, porém de propriedade privada. Certas quebradeiras eram obrigadas a vender
sua produção diária, seu coco, para os donos da terra na qual elas catavam o
produto para quebrar. O problema é tinham que vender por um preço ainda mais
barato, cerca de 1/3 a menos do valor.
Assim, a grande ascensão econômica de Bacabal nas décadas de 50, 60 e 70 no que tange a produção de babaçu, veio da contribuição da produção das amêndoas do produto obtidas através do trabalho da quebradeiras de coco do bairro. Muitas vezes, como citamos acima, em condições adversas.
3.5
-
SETOR SECUNDÁRIO DA ECONOMIA - INDÚSTRIA
3.4.1
- DA
CERÂMICA
A
indústria da cerâmica, as famosas olarias, sempre esteve presente na Trizidela. Uma das primeiras
dos anos 60 foi a grande a olaria do Sr. Francês que produzia em grande escala,
porém de forma artesanal, telhas e tijolos para viabilizar a construção de edificações
em Bacabal. Além da olaria do Francês, tivemos nas décadas de 70 e 80 outras
grandes olarias, que eram as do Sr. João Tomé, Manoel Bandeira, José Vieira e
Geraldo Vieira, e agora, recentemente, a Olaria do Tonico. Acreditamos que 80%
das edificações de Bacabal eram feitas com material das olarias da Trizidela.
Para
viabilizar a produção as olarias, no geral, mobilizavam diretamente mais de 300
trabalhadores da Trizidela e indiretamente centenas deles. Uma de minhas
primeiras atividades de trabalho foi juntando esterco de animal para vender nas
olarias, para após ser preparadas os estercos eram misturados a argila para a
produção de telhas e tijolos. A cadeia de produção de tijolos e telhas envolve
vários processos que vão desde a extração do barro, preparação do material com
potassa, esterco e outros produtos químicos, que após bem amassados, é que vão
para as formas. Após a secagem o material e armazenado em forno e queimado em
caeiras, até chegar ao ponto de fusão da argila que é também o ponto de tempera
do material, para após passar dois ou três dias no processo de resfriamento.
Era assim que os materiais oriundos das caeiras da Trizidela ganharam fama em
Bacabal, como os de mais duros, bem feitos e resistentes. Ainda hoje, muita gente
ainda no Bairro sobrevive das atividades de cerâmica (olarias). Com a evolução da tecnologia os processos são
automatizados e não são mais artesanais, o formato dos tijolos e das telhas
modificaram-se e os ceramistas da Trizidela não conseguem acompanharam essa evolução
que, praticamente, a longo prazo decreta o fim dessas atividades que durante
anos e anos alavancaram a subsistência de uma comunidade.
3.5 - DA PRODUÇÃO DO ARROZ
Nas
décadas de 60 e 70 e 80 a Trizidela contou com 02 grandes usinas de pilar
arroz. O arroz com casca era transportado pelo Rio Mearim até as mediações da
Trizidela onde era comprado e industrializado (pilado). Dois grandes
comerciantes eram os principais protagonistas do negócio nesta época, um deles
era o Sr. Maneco Mendes e sua família formada por seus filhos Zica, Nezinho e
Edmilson. A Usina se situava na rua que hoje leva o seu nome, Rua Maneco
Mendes. Sua usina de grande porte trabalhava dia e noite na industrialização do
arroz produzindo cerca de 80 sacos por dia.
Outro
usineiro do ramo do arroz era o Sr. Frances, cujo empreendimento se situava as
margens da BR 316, na Trizidela, próximo ao porto fiscal. A grande maioria
desse produto, o arroz pilado em sacos de 60 quilos, era destinado a venda para
os comércios de Bacabal. A cidade, desse modo, dependia da produção do produto
oriundo dos trizidelenses para sua alimentação e sobrevivência.
3.5
- PRODUÇÃO
DE AZEITE DE CÔCO
As
delícias da culinária trisidelense eram preparadas a base do azeite de coco.
Esse produto era obtido em pequenas fábricas artesanais destinadas a produção e
fabrico do óleo de babaçu. A maior fabricante da Trizidela era a do Sr. Gongo
que em média produzia 1.000 litros de azeite por semana. Essa produção era
vendida no mercado velho municipal de Bacabal entre outros pontos de venda. Dentre
esta produção, parte do quantitativo era exportada para outros municípios e até
para a capital do estado são Luís. Ressalta-se que muitas quebradeiras
produziam seu próprio azeite em casa posteriormente ofertando aos consumidores.
Desse modo, essa atividade econômica, em muito, contribuiu para a sobrevivência
de produtores e consumidores.
4.1 - SETOR TERCIÁRIO DA
ECONOMIA TRIZIDELENSE
4.1 - O COMÉRCIO
Os
grandes comerciantes de secos e molhados e em grosso da Trizidela eram Sr.
Elias, cujo empreendimento era situado às margens da BR 316, próximo ao posto
fiscal da Trizidela; O Sr. Domingos Gangá, empreendimento situado às margens da
BR 135, do lado esquerdo da BR 316 no Bairro Trizidela; o complexo de negócio do
Sr. Maneco Mendes, as margens do Rio Mearim. A importância desses comerciantes
era grande, uma vez que atraiam muitos negócios oriundos da cidade de Bacabal e
adjacências que mobilizava cerca de 1/3 do capital de giro que movimentava a
cidade de Bacabal. Assim, muitos comerciantes de Bacabal tinham como mercado fornecedor
de seu negocio o Bairro da Trizidela, tal era a importância econômica do Bairro
para a cidade de Bacabal.
Outra
fonte de negócio era o mercado da Trizidela, este foi construído na década de
1970 onde ficava o largo de São Raimundo, local onde eram realizadas anualmente
as quermesses e novenas de São Raimundo. As atividades do mercadinho eram viabilizadas
pelos açougues, peixarias, feirantes, bancas de comida e as mercearias
adjacentes ao mercado.
Os
açougues recebiam os quartos de boi, geralmente abatidos na moita, a serem
vendidas à população da Trizidela. Havia três açougueiros no mercadinho, entre
os quais podemos destacar o açougue do Chicão marido de Florita, filha do Sr.
Faustino Pão Torrado, irmão de Massa Bruta e Faustino filho (pseudônimo de Velho);
o açougue do Chicão filho de D. Ana, irmão do Damião. Os peixeiros eram
compostos por comerciantes que compravam o peixe dos pescadores e os revendia
no marcado com uma boa margem de lucro. Entre os peixeiros podemos citar o Sr.
José Peixeiro. Dentre as feirantes que eram mulheres que vendiam frutas,
verduras e cheiro verde no mercadinho, entre as quais podemos citar Cleide,
Filha do Sr. Ozino. Já nas bancas de comida uma das representantes desse
comercio era D. Raimunda, mulher do Sr. João Germano, morado na Rua Maria
Helena, ajudada que era por sua filha-sobrinha a menina Raimunda Nonata Silva Ribeiro.
As
mercearias do entorno, nos anos 70 e 80, eram representadas principalmente pela
mercearia do Sr. Sérgio e a do Sr. Humberto, esposo de D. Dora, Mãe dos garotos
Francisco, Humberto, Celane. Dona Dora era filha do Sr. Chico Teodoro e irmã de
Dona Luiza que foi a minha primeira professora, aquela que me alfabetizou na
segunda metade da década de 60.
É
importante frisar que o mercadinho da Trizidela instado do lado do posto
fiscal, no largo de São Raimundo, sofria concorrência dos açougues instalados
do outro lado da pista, a margem da BR 316, representados pelos açougues do Sr.
Silvestre e o do Sr. Manduca Santos,
tendo ainda como forte concorrente a Mercearia do Domingos Gangá e, a ainda de
quebra, a grande mercearia do Sr. Paca, pai de Iran e irmão de Nevinha.
O
mercadinho da Trizidela veio a ser demolido na década de 90 por falta de
frequência de negociantes e compradores, dando lugar a uma escola municipal
primária.
3.6
- OS
PROFISSIONAIS LIBERAIS DA TRIZIDELA
Mesmo
os filhos dos moradores da Trizidela de melhores condições financeiras não tiveram
grandes projeções nos estudos. Portanto, nas décadas de 60, 70 e 80 a
Trizidela não produziu nenhum advogado, médico, sociólogo, pedagogo, economista
ou outras formações. O fato é que a cidade de Bacabal só obteve um campo universitário
da UFMA e UEMA em 1990. Somente na segunda metade da década de 90 é que tivemos
em 1995 a 1ª formanda pedagoga da Trizidela, que foi a Sra Tereza, esposa de
José Antônio, filha do Sr. Faustino "Pão Torrado", irmão de Maria Elvira, de
Florita, Massa Bruta e Velho. Não obstante, após, em 1996 tivemos novos
formandos pedagogos que foram Raimundo Flor, filho de D. Elvira e Francisco
Neres, filho de Evangelho, ambos da mesma família, todos formados pela CESB-
Centro de Estudos Superior de Bacabal – UEMA.
3.7
OS
TÉCNICOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL – DA TRIZIDELA
Mesmo
a Trizidela não produzindo Profissionais liberais, produziu excelentes
profissionais, não ostentando o diploma de técnico, que se notabilizaram nas atividades de construção civil de
Bacabal. O de maior destaque foi sem dúvidas Evangelho Monteiro que ainda hoje
é considerado um dos maiores profissionais da área de construção civil de Bacabal. Ele
competiu diretamente com outros excelentes profissionais, tais como Zeca de
Filuca e o Sr. Dico "boca de vaca". Em seu currículo Evangelho destaca as mansões
mais luxuosas de Bacabal construídas sob sua égide, Tais com as Mansões do finado
Bete Lago, os Hospitais, do Sr Zé Carvalho, dentre outras.
Não
obstante, Evangelho formou, na prática, uma legião de outros profissionais,
entre parentes e amigos, uma longa lista que podemos citar: Francisco Bacurau,
filho do Abel, Mendes, Toinho, Ramos, Milton, Raimundo, dentre muitos outros.
3.8 -
OUTRAS ATIVIDADES
A
luta pela sobrevivência, no dizer de Marx e Engels, constitui o principal motor
responsável pelos acontecimentos históricos. Assim, em pleno mundo pós-industrial o povo da Trizidela não tinha escolas, fontes de informação, era também desprovidos, por ausência do poder público de alguma
capacitação profissional. Esse guerreiros, invisíveis para o estado brasileiro, eram obrigados a buscar em meio ao capitalismo selvagem,
uma forma de tirar do trabalho seu sustento. Diga-se de passagem, um povo honesto
e trabalhador. Desse modo, a pesca, a caça, agricultura com roças, vazante, sem nenhuma tecnologia, eram os principais
lócus de trabalho, dos quais se destacava ainda juquireiros, ferreiros, vigias,
estivadores, pequenos comerciantes, fabricantes de azeite, pirulitos, cocadas e
bolos, e também muitos oleiros. Infelizmente, entres as forma de sobrevivência estava também a prostituição.
3.8.1
- AS PROFISSIONAIS DO SEXO
A Trizidela
velha, como é chamada hoje, divide-se em dois blocos de moradores. Um que fica
a esquerda de quem vem de Bacabal para a Trizidela, antigamente conhecido pelo
nome vulgar de “Mufumbo”, hoje atual "rua dos prazeres", e os moradores que ficam
do lado direito, lado do posto fiscal que é constituído por famílias. Ressalva-se que no mufumbo também sempre abrigou diversas famílias.
Pois
bem, o “Mufumbo” teve sua gênese nos idos de 50, anos da construção da ponte na
BR 316 sobre o Rio Mearim. O local foi formado pela aglomeração de mulheres
solteiras livres (prostitutas) que se alojavam naquela região do Bairro em
busca da garantia de sobrevivência, que era garantida pela venda de seus corpos em atividade de sexo aos trabalhadores da construção civil que tinham vindo para construir a ponte
sobre o rio Mearim. Essas mulheres eram aliciadas e alojadas por cafitinas, que
lhes davam comissões em troca de uma hospedagem e pagamento pelo tempo de uso da
chave, ou seja, do tempo que o casal gastava fazendo sexo nos quartos dos
cabarés. Em muitos casos as cafitinas ficavam com até 50% do valor do programa.
Adicionado aos ganhos obtidos nos bares que, nos cabarés, em geral, os homens
sentavam-se com a(s) companheira(s) e demoravam-se na bebida, que era vendida pelos
proprietários dos estabelecimentos, consubstanciando uma fonte de renda a mais de
alto valor agregado. Hoje, essa zona do bairro mudou muito, a maioria são de
famílias, contudo ainda funcionam alguns cabarés e atividades de prostituição.
Incluindo a vendas de bebidas alcoólicas. O Bar da chica é um desses
remanescentes que permanecem até hoje com atividades de prostituição. No
passado foram célebres o Zé da Pitú e o bar da Nazaré na Trizidela e o Preto 08
e as três com o bar do Tarrino em Bacabal.
O
mufumbo, depois rua dos prazeres, pelas características descritas acima, era um
local de risco de vida pela sua alta taxa de homicídios. Por ser uma área de
prostituição e divertimento com bebida, após embriagados era comum os
trabalhadores entrarem em conflitos uns com os outros e engalfinharem, por isso, ocorriam com frequência as brigas, e nelas o uso de armas brancas ou de fogo, culminando
quase sempre com mortes. Na década de 70 ficaram populares jovens hábeis no
jogo de briga com faca, entre eles podemos destacar o negro Ribamar Pretinho,
célebre jogador de facas, considerado imbatível. Mais tarde, no fim dos anos 70
este mesmo personagem, o negro Ribamar Pretinho, veio a ser morto a tiros pelo
caçambeiro de nome Bibi.
Contudo,
era naquelas circunstancias, que podemos considerar sub-humanas que as mulheres
cafitinas e prostitutas tiravam a sua sobrevivência. Assim, a Trizidela
contribuiu e contribui, com o dinheiro gerado na prostituição, para a
sobrevivência de seus filhos.
Na Trizidela criou-se também o mito da famosa “muda” do mufumbo. Era uma
senhora meretriz que sobrevivia de iniciar os jovens na atividade sexual, ou
seja, era uma professora de sexo. Nas
décadas de 70 e 80 dizia-se que os bacabalenses, pais de adolescentes,
condiziam os filhos até a Trizidela para que a ilustre professora os inicia-se
no sexo.
4 -
TRABALHO NO SETOR TERCIÁRIO – FRENTISTAS, ESTIVADORES, ENGRAXADORES, LUBRIFICADORES,
CARROCEIROS, ETC.
4.1- ESTIVADORES
Às
6 horas da manhã os estivadores da Trizidela saiam de casa para o trabalho e só
retornavam à noite para suas casas, esposas e filhos. A Trizidela utilizou o
braço de força econômico que embalou, carregou e descarregou inúmeras carradas de materiais diversos para o comércio de Bacabal. Não obstante, esses mesmos profissionais
embarcavam sacos e mais sacos de arroz e de babaçu durante o período áureo do
ciclo do babaçu no Maranhão, que tinha em Bacabal um dos seus principais polos
de produção. As 17 usinas de pilar arroz exigiam um contingente significativo
de arrumadores para descarregar e carregar toda essa produção de arroz. A
maioria dos estivadores eram do Bairro Trizidela. Entre muitos deles destaco o
Sr Dalici e meu compadre Anísio esposo de comadre Princesa. Eram dois negros estivadores, alto e fortes de dentes brancos e bem acabados.
4.2 - LAVADORES/ENGRAXADORES/LUBRIFICADORES.
Até
alguns anos atrás, décadas de 60, 70 e 80 em Bacabal havia poucos veículos. Era comum no cais de
Bacabal, sobre o Rio Mearim, servir de principal posto de lavagem de veículos,
onde os lavadores de carros, engraxadores e lubrificadores eram jovens e
adultos trabalhadores informais da Trizidela. Os engraxadores que faziam
ponto no porto Cinorte, no centro de Bacabal, eram da Trizidela, pelo menos
dois deles eram meus amigos e vizinhos Sr. Josias irmão do mestre Kid e o Sr. Arlindo sobrinho de D. Deusa.
4.3 - OS CARROCEIROS
Nas
décadas de 60, 70, 80 e 90 havia muito profissionais carroceiros em Bacabal,
sendo 90% desses carroceiros oriundos do Bairro Trizidela. Entre os muitos carroceiros,
havia um cidadão especial que era o Sr. Manoel Flor Monteiro, meu pai. Ele
exerceu essa profissão de 1958 data que chegou em Bacabal até 1986 ano que
deixa a profissão a passa a ser agricultor. A família teve vários carroceiros, entre eles podemos destacar os Srs. Eugênio, Sebastião, dentre ouros.
5 - A
CULTURA
O mercado
da Trizidela foi construído na década de 1970 e ficava no largo de São
Raimundo, onde eram realizadas anualmente as quermesses e novenas de são
Raimundo. Durante muitos anos, nos anos 60, ali no largo funcionou a "Voz Mearim" de propriedade do locutor Osmar Nolêto. Mais tarde essa voz passou para o
domínio da família de Hélio Santos que também foi locutor da voz Mearim por
muitos anos. Observa-se que dado à população da Trizidela ocupar baixa posição
socioeconômica a Voz Mearim era o único veículo de comunicação, cultura e lazer
do bairro, levando informação e, principalmente a música. Nesse período histórico
dos anos 60, 70 e parte da década de 80 se destacaram como locutores Osmar
Nolêto, Hélio Santos, Banana e Durval, todos na época filhos da Trizidela.
O
compositor e músico de maior destaque do Bairro Trizidela sempre foi Lindomar, apelidado de "Massa
Bruta", filho do Sr. Faustino Pão Torado, acompanhado do seu parceiro Durval, filho de Dona
Nega. Os dois, ano após anos, protagonizaram as principais composições dos
sambas enredo do "Salgueiro do Samba", escola da Trizidela. Durval também atuou como mestre de bateria do Sagueiro durante os muitos anos que a escola
desfilou. Não obstante, no cenário artístico ficou famoso como um dos maiores interpretes de samba enredo de Bacabal disputando esse pódio com Laurindo da escola "Asas do Samba". Mais tarde é que apareceu o grande talento trizidelense a cantora Zeneide Miranda, principal intérprete do
Conjunto "Carlos Miranda Show". Vale ressaltar o esforço do comerciante Domingos Gangá, que com recursos próprios alavancava, por muitos anos a presença do Salgueiro do Samba nas passarelas de Bacabal.
6 - O
ESPORTE
Nos
anais do futebol bacabalense o América Futebol Clube da Trizidela foi durante
vários anos, um dos principais clubes de futebol. Combatido, mais nunca
igualado, o América F. C. possuía uma constelação de craques que lhe permitia
enfrentar as demais equipes de igual para igual. Mais a quem chamamos demais equipes? Várias e excelentes equipes, entre as quais
se destacavam o Santos F. C, que era uma equipe orientada e organizada pelo
ilustre médico de nossa cidade o Dr. Paula; tínhamos o Botafogo de Bacabal,
equipe orientada e organizada pelo ilustre
enfermeiro Zé Correa; tínhamos o Campinense; o Tamandaré, equipe
orientada e organizada pelo autônomo
Cambota; tínhamos o Corinthias de Bacabal outra boa equipe; e o Tupã, equipe
orientada e organizada pelo ilustre bicheiro Tarrino. Os principais craques da
época do clube Santos era o craque Corrô; do Botafogo do Botafogo Kraus; do
Campinense Nonato; do Corinthias Melancia; do Tupã Raimundo de Balsas; No
América Futebol Club brilhavam sucessivamente o bom goleiro Luminoso, depois
José Gangá e depois Lorico; Raimundinho rasteiro, o ponta Arnaldo, Coquinho,
Xuxo dentre outros. Só no final dos anos 90 e inicio do milênio é que Bacabal
teve o BEC - Bacabal Esporte Club e posteriormente o Americano organizado pelo
Sr. Araújo.
Os
principais craques do futebol bacabalense de
antigamente eram Lambal, que foi jogador do América, Rato, Flaubert, Capijuba,
Zé Gangá, Coró, Pirrita, Aroldo, Naná, Emilson, (Barrão) e Paulinho.
Entre os árbitros destacavam-se o lendário arbitro de futebol da Trizidela
o sapateiro e também confeccionador e consertador de bolas de futebol Sr Coqueiro. Não
menos importante era o outro arbitro de Bacabal chamado de Telê, depois veio Sambô e o Paulinho, dentre outros de renome.
7- A CULTURA E O LAZER
A
Escola de Samba da Trizidela era destaque entre as escolas, era
denominada de ”Salgueiro do Samba” da Trizidela. Suas principais concorrentes
eram o Unidos do Bairro da Areia, O Estrela do Samba, o Carcará de Ouro do
Ramal, O Unido do Juçaral, o Asas do Samba, e o Boêmio do Samba.
Nas
décadas de 60 e 70 fazia muito sucesso o “Cine Teatro Ideal”, localizado no
centro de Bacabal em frente à Cinorte. O cinema era de propriedade da família
Séba, entre eles o Alfredo Séba e seu irmão João de Deus. Alguns garotos da
Trizidela eram exímios frequentadores do cine ideal. Naquela época, sem muita
opção de lazer, eu era fascinado pela sétima arte. Eu e o colega José Freitas
Filhos chegávamos a ir quase todos os dias apenas para contemplar os cartazes
dos novos filmes de bang-bang e também dos épicos, aqueles que eu mais gostava.
Aos domingos, lá estávamos nós trocando e vendendo revistas de Tarzam,
Super-homem, Batmam, Fantasma, Robin Hood, entre outras. Após vender e trocar revistas
culminava com assistir ao filme. Mais tarde foi fundado o Cine Kenned, do Sr.
Leomar, situado a Rua Magalhães de Almeida, onde hoje funciona o Banco do
Brasil.
8 –
CONCLUSÃO
Embora
a Trizidela historicamente seja ignorada pelo poder público municipal, estadual
e federal em relação aos serviços de saúde, educação, moradia, saneamento
básico e trabalho, a produção de trabalho e renda dos seus moradores, sempre
esteve integrada a economia da cidade de Bacabal. Desse modo, as pessoas de
nível socioeconômico mais baixo, que são os mais pobres moradores da Trizidela,
só desenvolvem as atividades econômicas mais simples, porém não menos
importante, para a sobrevivência da população de Bacabal.
As
ocupações profissionais mais simples sempre foram os principais serviços
prestados pelo povo da trizidela ao povo de Bacabal. Longe do olhar do poder
público a Trizidela também, todos os anos, era e é vitimada pelas enchentes do
Rio Mearim. Geralmente o exercito brasileiro, quando havia tiro de guerra e às
vezes a prefeitura era que socorria o povo, com caminhões, para o translado das
bagagens dos moradores. Não obstante, com as enchentes ocorriam também as
doenças que castigava, principalmente, as crianças.
É
importante ressaltar que no inicio da década de 90 o poder público dispões aos
moradores um novo Bairro, o da Trizidela nova. Esse bairro nasceu do desejo das
autoridades de transferir todos os moradores para o novo bairro para que
ficassem livres do flagelo das enchentes. O que infelizmente as autoridades não
constataram antes da proposta de mudança é que os principais recursos para a
sobrevivência desse povo é o próprio Rio Mearim. Desse modo é impossível
separar aqueles que dependem de um recurso da natureza, no caso o rio, de
alguém que dele depende pra viver. Decorrente das condições, muitas vezes
insalubres, resulta que na década de 90 uma epidemia de tuberculose que atingiu
um elevado número de trizidelenses.
Pra
concluir trazemos alguns ilustres moradores: minha mãe que se instalou na
Trizidela em 1958 – Dona Elvira e o Sr. Manoel Carroceiro; Sr. Bendito Jorge,
esposo de D. Santana; João Tiú; Mestre Kid, Compadre Zezinho; Sr. Virgílio; Sr.
Eugênio, Sr. Ivo; Geraldo Vieira, Zequinha Cocal, Sr. Humberto, Domingos Gangá;
Faustino Pão Torrado, Zeca Batista; Sr Sérgio, Sr. Ozino. Sr. Marciano, Dona
Balbina, Sr Nonatinho, a maioria já falecidos.
Empreendimento
ideológicos midiático – destaca-se a Rádio Jainara de Bacabal propriedade do
grupo Coelho Dias, conceituado médico de Bacabal. Mais tarde, após sua morte, essa
rádio passou a ser coordenada pela sua filha Mônica Coelho. Os dois locutores
de destaque eram Osmar Nolêto e Zé do Forro.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
SOUSA,
Elane Cristina Costa1. ALVES, Maria Esterlian Ferreira da Silva2.
SOUSA,
Ana Paula Ribeiro de 3 COLÉGIO NOSSA
SENHORA DOS ANJOS
(CONASA): O ENSINO FRANCISCANO NO MUNICÍPIO DE
BACABAL - 2002
Prof. Neto.
Bacabal e sua História. Dados gerais sobre Bacabal. 2006.
Projeto
Crescer. Centro educacional de Niterói. Diagnóstico do Setor Educacional – 1992
Dicionário da Educação do Campo. / Organizado por Roseli Salete Caldart, Isabel Brasil Pereira, Paulo Alentejano e Gaudêncio Frigotto. – Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012.
MONTEIRO, Raimundo Flor. As políticas públicas sociais e o desenvolvimento
tecnológico regional do município de Bacabal-MA . São
Luís - Maranhão - 2023 (Artigo produzido pelo autor, como pré-requisito para o título de Especialista em Políticas Publicas).
Dicionário da Educação do Campo. / Organizado por Roseli Salete Caldart, Isabel Brasil Pereira, Paulo Alentejano e Gaudêncio Frigotto. – Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012.
ANEXO I
HINO DE BACABAL
LETRA: Iranise Lemos
MÚSICA: Zezíco
Miranda
Entre
tantas frondosas palmeiras
E
um leito que corre a banhar
Tuas
terras, surgiste garrida
Oh cidade que sabe cantar
Entoado tom majestoso de avanço para i
Inaltecer aos que emigram e o teu povo
Inato és futuro, és progresso, és viver.
Tens
recursos da natureza
Tens
cultura e beleza
Tens
recursos presentes da natureza
Tens
cultura e beleza
Terra
luz, céu tão azul que brilha
Refletindo
valor colossal que
Espreita
com viva esperança
CORO
Tens recursos da natureza
Se retratas por vir tão risonho
Incentivas o homem a dizer
Bacabal, Bacabal tão querida,
Tua
meta é sempre crescer
Tudo
em ti é airoso
Es
poema, es hino também
Resplandece
em tua área a nobreza
Correrás
para além muito além
Oh galante diversas
Caudeloso é teu rio Mearim
Babaçu te eleva em paisagens
Poesia, riqueza és enfim.
Linda
aurora o povo canta
Boa
terra de encantos mil
Entre
norte e nordeste ficaste
Dando
marco de amor ao Brasil.
FIM
ANEXO
II - Sambas enredo do Salgueiro do Samba
DESCENDO O MORRO (Samba do Salgueiro da Trizidela - anos 70)
LETRA: Massa Bruta
MÚSICA: Durval
Vou descendo o morro
Com esse samba pra
você sambar
O Salgueiro do Samba
Tem capacidade
Pra sambar a batucar
Segura a marcação
Segura o tamborim
Segura o contratempo
Também o ganzá
Vamos descendo
Para o centro da
cidade
Pra mostrar que o
Salgueiro
Esse ano é de abafa
Oi vou descendo o morro!
FIM
ANEXO
III – MISERÊ
LETRA: Massa Bruta
MÚSICA: Durval
Pobre não sai do
miserê
Pobre não tem o que
comer
Ai seu doutor ...
Tem com paixão
Dá ao pobre um
pedacinho de pão
Somos todos irmãos.
Pobre
não sai do miserê
Pobre
não tem o que comer
Ai seu
doutor ...
Tem com
paixão
Dá ao
pobre um pedacinho de pão
Somos
todos irmãos.
ANEXOS IIIFOTOS DA TRIZIDELA
Produzido em 20/06/2024
A Rua da Beira do Rio do Bairro Trizidela é talvez a rua mais humilde do bairro. O fato ocorre por ela se encontrar numa área baixa e muito próximo ao leito do rio Mearim. No inverno, as primeiras águas já são suficientes para retirar os moradores dessa sua que tem aproximadamente 120 casais, cada uma com suas famílias. A opção pelo incômodo local não é questão de gosto e sim um fator socioeconômico. Os terrenos nessa rua tem baixo preço, além de não se poder construir uma casa consistente, já mesmo em pequenas cheias há enchente. A estrutura dessas casa são de pau a pique, ou mesmo de palha. seus espaços são sala, quartos e cozinha, com todos os espaços da casa em chão batido e a coberta de palha, como mostra a casa acima. É preciso falar do banheiro, que fica atrás da casa. Um buraco cavado não chão com uma latrina. sem um mínimo de conforto.
Bom! muito bom!
ResponderExcluirGenial. Essa lembrança de nomes como preto 8, a muda do Mufumbo e outros me levam a um tempo de vida no Ramal, que não volta mais.
ResponderExcluirRelevante contribuição para a preservação da historia do município de Bacabal e principalmente do bairro Trizidela.
ResponderExcluirExcelente artigo, um resgate da História.
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