quinta-feira, 29 de junho de 2017

A POLÍTICA DOS RESTAURANTES POPULARES NO MARANHÃO


A POLÍTICA DOS RESTAURANTES POPULARES NO MARANHÃO
Por Raimundo Flor Monteiro

Dia 21 de junho o governador Flávio Dino publica em sua página do Facebook: mais uma conquista do nosso governo: estamos chegando ao TRIPLO de restaurantes populares que herdamos. Rede de segurança alimentar eu vi
acompanhando uma reportagem do blog de J.M Cunha Santos (http://jmcunhasantos.blogspot.com.br/2017/06/novo-restaurante-popular-do-maiobao-e.html?spref=tw&m=1): "Carne assada, dobradinha, arroz, feijão branco, farofa com carne e saladas fizeram parte do cardápio de reinauguração do Restaurante Popular do Maiobão nesta terça-feira (20). 

A refeição completa e balanceada ao valor de R$ 2 recebeu elogios de todos os públicos, inclusive das crianças. Carlos Augusto, de 9 anos, faz questão de se alimentar todos os dias no restaurante. “Eu gosto mais da comida daqui do que a da minha mãe e ainda tem suco e fruta”. 

Adeu Barros, professor e amigo meu da cidade de Açailândia comenta: "Aqui em Açailândia tem um proprietário de uma lanchonete localizada dentro da rodoviária, o mesmo tem várias kitnets na cidade, e todo dia almoça no restaurante popular", que tal?

Nos preocupa os alarmantes índices de pobreza que se multiplicam exponencialmente no Maranhão, no Brasil e no mundo. Nós do Maranhão elegemos um governo do PC do B, socialista por natureza, para implantar políticas públicas de redução, até a completa extinção da miséria que assola a maioria do nosso povo. O que estamos vendo, em alguns casos, é a apropriação pelo atual governo, das políticas paleativas de seus antecessores, politicas como as de suprimento imediato da falta de comida de caráter populista. O problema é que essas políticas, tidas como assistencialistas, não alteram as estruturas sociais que subsidiam o funcionamento do metabolismo capitalista. Ao contrário, essa política gera, cada vez mais, um exército de zumbis famintos e dependentes de comida diuturnamente, ou seja, de manhã, à tarde e a noite.
Aberta ao público das classes D e E, que se encontram em alto risco de passar forme, esses restaurantes atraem grande numero de pessoas, cuja renda, estão acima da identificação de pobreza da classe d e E. Desse modo, sem critério de acesso ao alimento se pode contar com milhares de aproveitadores, ou seja, pessoas que tem condições de ase alimentarem, mas, por comodismo e apropriação indébita, comem a comida destinada aos miseráveis. deixando sem comida alguns de seus prioritários consumidores.

Num sistema altamente excludente como esse, onde a voracidade de acumulação do capital se torna a cada dia mais predador, a prática do dá o peixe, pelo governo, gera uma cultura da acomodação num batalhão de cidadãos. Desprotegidos das oportunidades históricas, não geradas por um Estado omisso, esses cidadãos a quem tudo lhes foi negado, adquirem o habito de ser e se sentirem incapazes. Não porque queiram, mas sim pela real falta de manutenção política social do Estado capitalista.

Historicamente abandonados, enquanto legado de políticas vitorinistas e sarneistas, a maioria da população maranhense pertence a geração que nasceu e se desenvolveu no seio dos governos de Vitorino Freire, em governador do Maranhão da década de 40 e 50 e do eminente presidente Sarney. Apesar do discurso progressista desses governos, esses grupos sempre negaram a educação com fator de geração de uma consciência existencial e política crítica para os cidadãos maranhenses. Porque chamo de consciência existencial? A maioria dos cidadãos maranhenses, mais de 51% analfabetos, atribuem a si seu próprio fracasso, conforme preconiza os valores ideológicos do capitalismo. Eles não entendem que foi a omissão, negligencia, irresponsabilidade e a maldade do Estado populista, assistencialista de pequenas causas que os levou a fome, ao analfabetismo, a miséria e a indigência. Foi para salvaguardar os seus interesses escondidos num status quo de grandes fortunas e acumulação do capital, que esse modelo tornou-se permanentemente hegemônico na política econômica mundial, local e regional.

O que o PC do B, na contramão da história capitalista deveria fazer, era atuar nas bases do sistema, ou seja, educação emancipadora, saúde, trabalho, moradia, transporte, segurança dentre outros lócus de atuação. Combater as variáveis que geram o atraso é perfeitamente possível, basta identificar esses elementos causais e elabora e desenvolver projetos sociais, dentre eles podemos destacar as mais fortes determinações do atraso: o analfabetismo de letras, o analfabetismo funcional, promover o acesso universalizado para a educação básica e educação profissional, nos moldes da politecnia em Marx, articulada com a saúde, ecologia, educação para o transito (que mata mais do que uma guerra civil), cultura, esportes e artes, etc. Não obstante, isso não teria sucesso sem projetos sociais de serviços e de produção voltados para priorizarem as nossa riquezas ecológicas, minerais, rurais, e de agricultura, agroindústria, turismo e demais recursos naturais abundantes nas diferentes regiões do Maranhão.
Os projetos contariam com o aval do Estado, com recursos financeiros, para gerar trabalho e renda. A concepção, implantação e coordenação ficariam a cargo da UFMA e UEMA, afinal as universidades, simbolo da inteligencia não podem se conservar isoladas das suas funções sociais, se não o ensino, pesquisa e extensão será sempre uma negação de seu papel principal sempre negligenciado pelos intelectuais megalomaníacos, hedonistas e terrivelmente chegados a lei do menos esforço, salvo raras exceções.

Portanto, concluo que os restaurantes populares pertencem ao conjunto das políticas públicas paternalista e assistencialistas de caráter populista que resolve momentaneamente a fome daqueles que estão em risco de vida imediato pela fome. Porém, a médio e longo prazo os conservará na desgraça que é a pobreza e a miséria. Como dizia Luis Gonzaga e Zé Dantas "o homem não precisa de esmola, precisa sim de um trabalho que lhe dê dignidade" ou ainda "uma esmola dada a um home sã lhe adoce ou lhe mata de vergonha".

29/06/2017

quinta-feira, 22 de junho de 2017

VETORES CAUSAIS QUE IMPEDEM O DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO AGRÍCOLA DO MARANHÃO

VETORES CAUSAIS QUE IMPEDEM O DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÔMICO AGRÍCOLA DO MARANHÃO: UMA REFLEXÃO DEPREENDIDA APÓS O II OMT - MA OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DO MARANHÃO (UFMA)

Por Raimundo Flor Monteiro

Participamos do II OMT - MA (OBSERVATÓRIO DO MERCADO DE TRABALHO DO MARANHÃO) que teve a colaboração do Prof. Dr. Marcelo Sampaio Carneiro, coordenador do Programa de Pós - Graduação em ciências sociais da UFMA e coordenador geral do OMT/MA/UFMA, com a palestra "Transformações recentes no mercado de trabalho agrícola no Estado do Maranhão: uma análise de sensos demográficos de 2000 a 2010". O evento ocorreu no dia 22 de junho de 2017 no horário das 16:00h ás 18:00 no auditório Mario Meireles do prédio CCH-UFMA.

O palestrante apresentou os dados que identificam as macrorregiões (09) maranhenses com o pior nível de formalização das relações de trabalho. Para se ter uma ideia, não chega a 20% de trabalhadores com carteira assinada; em seguida, apresentou as (06) regiões que, ao contrário, apresentavam o melhor nível de formalização das relações de trabalho, ficando em primeiro lugar a macrorregião de Coelho Neto, com  52% de formalização dos contratos de trabalho.

Pude concluir que de 2000 a 2010 não há sinais de melhoria da qualidade de vida do trabalhador e, ao contrário, com a inserção de políticas públicas e reformas restritivas ao bem-estar social promovidas pelo governo Temer, a qualidade de vida dos trabalhadores tende a precarizar-se ainda mais. Desde a década de 1970 eu vivo assustado com os números históricos de desenvolvimento do Maranhão que eu pagava no Almanaque Abril.

Fomos e estamos severamente afetados peso subdesenvolvimento econômico, social, educacional e político. Mas isso não que dizer que estamos confinados e seremos eternamente produto do atraso histórico da colonização e depois do imperialismo econômico, social, político, educacional e intelectual a que nos submete os países de economia capitalista avançada.

Essa realidade nos constrange nos deprime profundamente, uma vez que, desde os anos de 1970, eu já ouvia do Arimatéa, meu colega de trabalho, e frei Solano, meu professor de história,  comentar que no Brasil, estávamos prestes a ter uma guerra civil. Os motivos eram variados, porém, ressaltavam que, dado que as recessões econômicas constante e a falta de trabalho permanente se agravaria. Dai uma nova tomada da bastilha remanescente de 1789, na França, ocorreria no Brasil.

De lá, início da década de 1980, até aqui, 2017, o tecido social brasileiro maranhense, para a maioria dos mais necessitados, permanece opaco, complexo e precarizado. Hoje, a perspectiva de se propagar um enorme batalhão de miseráveis é imensa, principalmente, diante da redução e o fim dos programas sociais oriundos dos governos Lula e Dilma.

Mas voltemos ao II OMT, ao final da apresentação do ilustre Dr. Marcelo Sampaio abriu-se o debate. Foi aí que perguntamos o que o Maranhão deve fazer para autogerar o seu crescimento e desenvolvimento econômico agrícola? Mas, o que é necessário para que se processe o crescimento e desenvolvimento agrícola endógeno? Ficaremos inertes eternamente dependentes a espera de forças empresariais exógenas oriundas do capital transnacional para criar, crescer e desenvolver a economia maranhense? O homem maranhense, descendente da miscigenação é ou não é capaz de desenvolver o Maranhão?

Algumas dessas respostas foram meticulosas e bem argumentadas pelo palestrante ao afirmar que num primeiro plano, como vetor primeiro do processo, temos que descobrir as potencialidades e as vocações de cada um dos 2017 municípios maranhenses.  Dai, a consolidação dessas potencialidades em nível regional/ por microrregião e depois por região. considerar as potencialidades em quatro macro setores da economia. Assim, será preciso levantar as potencialidades agrícolas, industrial e de serviços com vistas a mensurar se essas vocações tem ou não consistência. De fato esse é um vetor primeiro e muito importante para armar um tripé econômico viável, capaz de geral emprego e renda em alta escala, capaz de alavancar o crescimento acompanhado do desenvolvimento econômico maranhense.

O segundo vetor  força de armação sócio-econômico-produtivo dar-se-á pela formação de técnicos especializados, com conhecimentos e habilidades capazes de tornar produtiva as potencialidades vocacionais das regiões em apreço. Hoje, pudemos depreender, da apresentação do palestrante, que  a agricultura familiar, com um trabalhador sem formação, não se desenvolve no Maranhão nem mesmo no estágio de commoditys, visto que está restrita cadeia produtiva básica alimentar, e pra piorar, ainda de base na monocultura. Ou seja, uma agricultura que mal garante a subsistência dos seus filhos. Assim, a cultura do arroz, milho, mandioca e feijão não são produzidos com excedentes necessários para amenizar ou mesmo extinguir a pobreza e a miséria do homem do campo maranhense.

Ao contrario de nossa realidade, nos Estados de capitalismo avançado, a agricultura familiar agrega alta performance de aparato tecnológico, tornando altamente produtiva uma quantidade pequena de recursos, no caso a terra e insumos, bem como a participação efetiva de técnicos formados e qualificados, oriundo da um sistema de formação que prima por tornar realidade o objetivo econômico de produzir com altos índices de excedentes de produção. Toda perspectiva de produção se inviabiliza sem técnicos especializados, coisa que 18 escolas do IFMA, implementadas pelo Plano de Desenvolvimento da Educação de 2007, foi capaz de iniciar no 2o mandato do governo Lula e concluir durante o primeiro mandato de Dilma Rouseff.

Vimos que os dois vetores citados necessitam de um terceiro, para que possa produzir resultados, uma vez que, com as potencialidades e os técnicos especialistas, um plano de concepção da produção deve ser prioritariamente e meticulosamente elaborado sob os auspícios técnicos. Aí não se engane, todo projeto deve passar por uma análise de consistência técnica e de viabilidade financeira. Portanto, deve entrar o poder político do Estado e suas políticas públicas pró, para viabilizar a produção, através da inserção de recursos financeiros para a aquisição de maquinários, acessórios e insumos necessários. Algo que os liberais conservadores chamam de fomento.

O que se ver hoje é a dependência da geração, crescimento e desenvolvimento econômico atrelada a vinda de grandes empresas nacionais ou transnacionais. Esse crescimento e desenvolvimento dependente do capital e da tecnologia dos países de capital avançado, se processa pela omissão do Estado. Falta, como já predizia Celso Furtado, vontade política.

Alias, o cenário mudou, mas as variáveis permanecem as mesmas, aquelas radiografadas por Celso Furtado na tese que ele chamou de "fundamentos da teoria da dependência", na qual anuncia que das forças sociais que disputam o tipo de desenvolvimento no Brasil, a burguesia nacional prioriza a permanência da dualidade social representadas pelo atraso e o moderno. Para que tudo mude e permaneça o status quo da classe burguesa que se sobrepõe as demais classes, ela supera as crises com "processos de  rearticulação do poder em conciliação de interesses de classe".

Nossa exposição centra-se no campo das hipóteses, mediante a analise de vetores substanciais que revelam e desmascaram a realidade miserável do Maranhão. Então, já que estamos no mundo de capital globalizado, como é possível se processar o crescimento e desenvolvimento endógeno sem uma reforma agrária que exorcize do campo os latifúndios improdutivos? como é possível ter sucesso sem assentar o homem no campo? Torna-se impossível alavancar o desenvolvimento no campo sem técnicos especializados e sem tecnologias?

Concluímos com as alternativas de solução teorizadas pelo grande estudioso Celso Furtado, entre as quais podemos destacar:

1. Se o Estado do Maranhão é rico em riquezas naturais, os governos devem ser protagonistas para primar, planejar e dar o sopro vital para a construção de uma sociedade igualitária e cooperativa, onde o trabalhador, aquele ser humano que transforma a natureza, possa idear, objetivar e produzir os recursos necessários e suficientes para a manutenção otimizada de sua existência.

2. O Estado do Maranhão deve, o mais rápido possível, construir sua autonomia, de modo que possa se abster da subordinação e do comando imposto pelo capital através do projeto em vigência. Esse maléfico projeto de sociedade subordinada aos interesses dos países de economia capitalista avançada, ou seja, nos abster do controle dos grandes centros hegemônicos do capital. Quebrar correntes, romper com os grilhões que nos aprisiona e amordaça nós tornando um Estado refém do grande capital.

3. Adotar um amplo projeto popular de caráter progressista, construído na vertente de nossas potencialidades humanas e materiais, rompendo com o capitalismo modernizador importado e imposto a America Latina e ao Brasil e o Maranhão, tanto no passado, quanto no presente, mas jamais admitir a manutenção desse projeto neocolonialista/neoimperialista no futuro.

É preciso implementar políticas públicas progressistas e recuperar a crença na autonomia individual e coletiva dos maranhenses. Não chegaremos a lugar nenhum sem oportunidades sociais, sem motivação, sem empenho e sem a coragem para ressuscitar o nacionalismo brasileiro e maranhense, e não o nacionalismo fascista, mas sim aquele orgulho de estudar, gerar ideias e recursos, lutar e engrandecer os ideais de igualdade, justiça, solidariedade, democracia, autonomia e paz.

MERECEMOS UM GRANDE MARANHÃO PARA TODOS, NA PRÁTICA, COMO UM TODO, E NÃO SÓ PRA UMA MEIA DÚZIA DE PRIVILEGIADOS DESCENDENTES DA ARISTOCRACIA LOCAL.


segunda-feira, 19 de junho de 2017

PAULO FREIRE SERÁ SEMPRE UM EDUCADOR REVOLUCIONÁRIO?

PAULO FREIRE SERÁ SEMPRE UM EDUCADOR REVOLUCIONÁRIO?

Por Raimundo Flor Monteiro

  Os mais importantes estudiosos (teóricos), refiro-me aos grandes intelectuais da educação do mundo, fazem referencias ao educador brasileiro, mestre de todos, o grande educador o Paulo Freire. Também os gurus, que são os show mens que atuam para o grande capital, nos EUA, Europa e no Brasil, junto a empresas, para orientar os executivos e Rhs em como cooptar os trabalhadores para produzir mais, o respeitam. Já os intelectuais da educação atuam nas academias e geralmente analisam a educação no sistema capitalista. 
  No Brasil, a meu ver, não há a prevalência do respeito a Paulo Freire pelos intelectuais, isolados que estão na acadêmia, sobre os show mens, uma vez que estes últimos são típicos apologistas na comunidade Européia dos países desenvolvidos e também os dos países periféricos como os da América Latina. portanto, o titulo de patrono da Educação Brasileira pouco influenciou a educação brasileira.
    Desde os primeiros escritos de Paulo Freire, na década de 60 até os dias atuais, ele continua atual e revolucionário utópico, como um dos teóricos da educação mais citados pelos pesquisadores, decantado e louvado em versos e prosas, não aqui, mais fora do Brasil. 
Li a "pedagogia do oprimido" no início da década de 1980. Naquela época eu não tinha base e fiquei me perguntando o porque esse homem era tão grande, se dizia coisas sem nexo e totalmente alheia a nossa realidade. Eu estava errado quando pensei com meus botões "Paulo Freire é um sujeito alucinado que anda com os pés na terra e a cabeça no ar" um deprimente delirante.
    A verdade é, pelo menos pra mim, que não se deve ler Paulo Freire antes de uma leitura regular ou profícua da obra de Karl Marx e Friedrich Engels.
No meu caso havia outros fatores sociais que me afastavam ainda mais de entender e quando pensava que entendia não concordar em nada com as teorias e pressupostos freirianos. Para entender Paulo Freire, a meu ver, é necessário ter leitura sobre o marxismo.
    Mas quem foi Paulo Freire filósofo o grande teórico da educação? Simples, ele foi e continua a ser um neomarxista. Ou seja, sua obra está intimamente imbricada com a corrente filosófica humanista e crítica de cunho socialista contida na obra de Marx. Portanto, não se entende um sem o outro. Alias, não se entende nada do pensamento socialista sem uma correta e imparcial leitura de Karl Marx.
    Oxalá, eu fui um aprendiz de mecânica, forjado nas escolas de base de uma das mais tradicionais escolas profissionalizantes do Brasil, onde a "aprendizagem para o trabalho" era a premissa pedagógica mais importante. Ou seja, realizar tarefas e operações típicas do fordismo. Ora, estudei na década de 1970 no período de 1974 a 1975, quando conclui o curso de "Ajustador Mecânico". Paralelo aos meus estudos trabalhei, já que precisava complementar a renda mensal de minha família, na condição de biscateiro em uma empresa (oficina mecânica) de minha bela cidade natal, chamada Bacabal do Maranhão.
    Ao concluir o curso em 1975, por já ter adquirido os dois anos de experiencia profissional (1974 e 1975) na indústria, pude participar do seletivo para instrutor de Ajustagem Mecânica em que havia me formado. E o melhor, consegui aprovação. Após um ano de estágio iniciei em 1977 a carreira do magistério como instrutor de educação profissional.
    A premissa básica na década de 1970, em pleno regime militar - "Brasil ame-o ou deixe-o" - era educar para o trabalho, uma vez que o trabalho é um lócus que exige disciplina. A disciplina para o trabalho se concretizava por um conjunto de valores pautados no conhecimento das tecnologias, o domínio do cálculo, do desenho técnico-mecânico, bem como o coroamento final, oriundo dos três elementos anteriores, que era a prática profissional. 
Aqui interpretamos a prática profissional, como o conjunto das habilidades mentais e manipulativas, capazes de nos fazer transformar uma dada matéria bruta em produto semi-acabado ou acabado. 
    Se olharmos no retrovisor da história, veremos que vivíamos o auge da prática pedagógica propagada pela tendência tecnicista em educação tipica do modo de produção taylorista/fordista. Eu só queria saber transmitir, ensinar, demonstrar e repetir exaustivamente cada uma das operações contidas nas tarefas pertencentes a um projeto de curso de qualificação de aprediz. Minha função era transformar aqueles garotos em operários disciplinados e subservientes ao trabalho, capazes de dá até seu último folêgo para concluir um dado trabalho, para assim receber seu justo salário. 
     Mas foi ai que conheci Paulo Freire, e com ele a frase "quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor". Essa fraseme fez pensar: Qual é a finalidade da educação? Como pode o trabalhador não querer ser o patrão? Colerizado, pensei com meus botões: esse educador é um delirante e sonhador.
    Foi complexo e traumático pra mim, descobrir que minha prática pedagógica era um prática alienadora e castradora e que eu estava navegando na contra mão da história.
   Hoje posso garantir, Paulo Freire teve, tinha e terá sempre razão sobre suas conclusões educacionais, produto de suas reflexões. Mas só se pode perceber as suas teses balizadoras nas ciências humanas, si dispusermos do capital intelectual básico contido nas obras de Marx.
   Partimos do conceito de educação, daquela educação que pela primeira vez foi explicitada nos princípios da didática magna de Coménius. Ou seja, uma educação tradicional que evolui para uma educação  crítica de Marx. Freire concebeu uma “Pedagogia que fez da opressão e de suas causas objeto de reflexão dos oprimidos, da qual resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação”. (FREIRE,1968, 34).
   Depreendo portanto que, para Paulo Freire, a educação contemporânea, nos moldes do liberalismo, propicia uma formação que gradativamente vai acorrentando os educandos e, a medida que vai se processando, continua a imobilizá-los, chegando a amordaçá-los. Acorrentados pelos grilhões do capital, sob o domínio do poder das grandes corporações, os discentes oprimidos são levados pela educação liberal conservadora a enxergarem como único sonho uma mobilidade social que só se realizará quando ele passar para o status de poder daqueles que detém os grilhões que os prende e os oprime. Dessemodo, "quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor". Este será a maior aspiração do educando, que se dá por adquirir uma concepção materialista capitalista de que os bens, recursos financeiros e coisas materiais (mercadorias) são mais valiosas que as preciosas vidas e a essência humana. O fenômeno que se processa de fato é que a educação vigente, se concebe e se realiza mediante o poder do pensamento liberal capitalista conservador, que atua sobre uma prática social, âmbito da política e universo das relações de poder (SEVERINO, 1994, p. 52).
   A educação contemporânea, essa de minha época, refiro-me as décadas de 70,80 e 90, com as devidas mudanças sociais que se processaram nas últimas três décadas, 2000, 2010 a 2017, mas que só afetaram o princípio do capital, em tornar-se mais voraz, em que o que importa na vida é o ter, pertence a uma estrutura educacional forjada com as políticas públicas na superestrutura (Marx, 2005, p.23) sem o devido respaldo ou participação popular. Essa educação domesticadora e adestradora tem por base conceber um cidadão subserviente aos preceitos do capital. Assim, neste cenário real, o educando será sempre um objeto dominado pelo poder das elites, cujo sonho é um dia se tornar burguês, fato que irrisoriamente acontece.
    A educação, idealizada por Freire se constitui em uma práxis educativa capaz de libertar o homem de toda situação de opressão ao qual se encontra sujeitado, através da libertação de sua consciência, tornando-o um sujeito crítico e reflexivo, capaz de transformar sua realidade e inserir-se na sociedade de forma efetiva. A educação nesta visão torna-se um instrumento de emancipação do homem diante da opressão, pois, ela desvela a realidade vivida pelo educando, incitando-lhe uma intervenção prática no ambiente social e no cotidiano escolar, de forma dinâmica, transformadora, considerando, a todo instante, a realidade concreta, singular e peculiar de cada educando.
   Assim, conforme (http://pedagogiaformacaoetica.blogspot.com.br/, 2009), A educação libertadora fornece asas pois se opõe à ausência de voou, dominação e a opressão imposta a grande massa de “desprivilegiados”. O ser social dos“marginalizados”, quando emancipados no interior da sociedade capitalista, são capazes de implementar mudanças progressivas no ser humano enquanto sujeitos inacabados. Essa mudança se dá pela conscientização dos discentes sobre sua situação de exploração e dominação imposta pelos seguimentos mais altos da sociedade.
    A alfabetização, no método Paulo Freire, propicia ao discente um resgate do sujeito através de uma ação social que produz uma consciência critica emancipatória, permitindo-lhe que se organize de forma reflexiva o pensamento crítico, tornando-se capaz de resgatar sua dignidade, que fora exaurida pelo longo processo de exclusão social, que sofrera durante toda formação da sociedade.
   Dentro da perspectiva de construir uma educação libertadora, Freire enfatiza que é preciso que se compreenda a educação como um processo de formação humana.
  Desse modo, Freire (2000), afirma que ensinar não é somente transmitir conhecimento e sim, proporcionar que o aluno aprenda de dentro para fora e, sobretudo, se emancipe, através da obtenção da capacidade de poder ler o mundo.
Hoje, sobre a tomada do título de patrono da educação brasileira, é com tristeza que vemos que:
A proposta revogaria a lei 12.612, de 2012, aprovada pelo governo e sancionada por Dilma Rousseff. São necessárias 20 mil assinaturas para que o tema seja debatido no Senado - na data de atualização desta reportagem, aproximadamente 14 mil pessoas já tinha assinado a petição. “Paulo Freire é considerado filósofo de esquerda e seu método de educação se baseia na luta de classes”, argumenta Stefanny Papaiano, autora da proposta.“Os resultados são catastróficos e tal método já demonstrou em todas as avaliações internacionais que é um fracasso retumbante”, prossegue. O projeto de lei que transformou Paulo Freire em patrono da educação é de autoria da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) e foi apresentado em 2005. Procurada, a assessoria de Erundina não se manifestou até a publicação desta reportagem. (http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/proposta-retira-de-paulo-freire-o-titulo-de-patrono-da-educacao-brasileira-d1vvgoq7qwiylouov98mnl0c4)


Com o retorno das elites ao poder, no Brasil, estamos diante de um quadro de retrocesso no campo da ideias e concepções de educação. A tendencia é que se dê um grande retrocesso desarticulando a organicidade, até a infraestrutura material e  humana no campo da educação. O Estado brasileiro, em decorrência do compromisso de passar 20 anos com investimento minimo nos serviços sociais, desativará parte dos investimentos em educação, o que fará fatalmente perder o status constitucional de garantia da qualidade da educação, conforme a Constituição Federal.