sábado, 17 de outubro de 2015

III CONFERÊNCIA ESTADUAL DE PROMOÇÃO DE IGUALDADE RACIAL

São Luís, 16 de agosto de 2013
Memória nº 22/2013
MEMÓRIA DE PARTICIPAÇÃO DO SENAI-MA NA “III CONFERÊNCIA  ESTADUAL DE PROMOÇÃO DE IGUALDADE RACIAL”.

Apresentamos a V.S.ª o Relatório de participação na III Conferência Estadual de Promoção de Igualdade Racial, realizada em São Luís no Auditório Paulo Freire da UFMA, no período de 14 a 16/09/2013. A referida teve o objetivo precípuo de elaborar 40 propostas que permitam criar políticas que reduzam as desigualdades raciais que dificultam os povos tradicionais ao acesso de bens, serviços e direitos sociais.
A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) é um órgão do Poder Executivo do Brasil. Instituída pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 21 de março de 2003.Tem como objetivo promover a igualdade e a proteção de grupos raciais e étnicos afetados por discriminação e demais formas de intolerância, com ênfase na população negra.

_A Conferência foi aberta pela Ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPIR-PR, Luiza Helena de Bairros; contou com a participação de 120 Delegados Regionais representando os 217 municípios maranhenses; participação de empresas industriais, instituições públicas e privadas; OBS.: sofreram acirrada crítica as instituições quem não participaram, uma vez que os debates requeriam respostas dos representantes das instituições públicas e particulares.
_No cerimonial de abertura foi mencionada e agradecida a presença do SENAI-MA na pessoa do prof. Raimundo Flor Monteiro, representando o Diretor Regional do SENAI-MA, Dr. Marco Moura da Silva;
_A palestra magna, tema central da conferencia “Democracia e Desenvolvimento: por um Brasil afirmativo”, foi proferida pela Profª Maria de Lourdes Siqueira;
Principais reivindicações, entre as 40 propostas aprovadas, que afetam o SENAI-MA.:
_Buscar alianças para implementar o desenvolvimento de “ações afirmativas” com o Sistema S;
_Negociar parcerias para formação, capacitação e qualificação profissional dos povos tradicionais nos princípios do agronegócio com parâmetro da ancestralidade;
_Negociar parcerias para formação, capacitação e qualificação profissional comunitária aos agentes de saúde da ACS, respeitando os conhecimentos científicos, culturais demais saberes tradicionais decorrentes da ancestralidade;
_ Intensificar a educação básica e profissional nos quilombolas e demais áreas demais de vivencia dos tradicionais;
_Reclamada o não cumprimento do marco regulatório, Lei 10.639/2003, que altera a LDBEN, tornando obrigatória a inclusão da História e Cultura Afro-brasileira no currículo.
Parecer técnico:
Nestes últimos anos com o crescimento do emprego no Maranhão, o SENAI-MA vem promovendo a ampliação das oportunidades de formação profissional. Desse modo, as ações afirmativas do SENAI-MA junto aos povos tradicionais contribuirá para a redução das desigualdades sociais através da capacitação profissional resultando em ampliação da geração de trabalho e renda, em cadeias produtivas regionais e arranjos produtivos locais.
Ante ao exposto, sugerimos a atuação do SENAI-MA através do PAM junto aos povos tradicionais, no que tange a, após celebração de convênio, diagnosticar, planejar e desenvolver programas de educação profissional gratuita, que possa subsidiar a vocação econômica da comunidade para além da produção para a subsistência.
O SENAI-MA e as empresas industriais podem priorizar as ações em comunidades de povos tradicionais do entorno, fortemente afetados pela escassez de recursos resultantes da instalação dos empreendimentos industriais. Essa parceria deve viabilizar a formação profissional em duas dimensões.: a primeira para qualificar profissionalmente jovens e adultos pertencentes aos povos tradicionais para engajarem os quadros de funcionários da empresa instalada; a segunda para capacitar jovens, adultos e idosos em atividades cujo eixo está na potencialidade local, através da superação de técnicas de produção artesanais de alimento e produtos de primeira necessidade.
1. Preparação de alimentos; 2. Produção de roupas; 3.Alfabetização; 4. Manutenção de veículos (bicicleta/moto);
Conclusão:
Nos congressos de “educação e igualdade étnico-racial”, realizados este ano, constatamos in loco as reclamações da sociedade civil quanto a ausência de um braço de atuação social do “Sistema S”. Desse modo, acreditamos que o SENAI-MA deve reposiciona-se com vistas a garantir visibilidade junto à sociedade civil. Uma das estratégias para garantir a imagem é atuar em comunidades, em parceria com as empresas industriais no que tange ao atendimento aos povos tradicionais do entorno dos grandes empreendimentos industriais. Ressaltamos que a proposta em apreço já compõe o leque das 40 propostas elaboradas pelos Delegados e aprovadas em plenária.
* Luiza Helena de Bairros (Porto Alegre27 de março de 1953) é uma administradora  brasileira. Foi ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil entre 2011 e 2014.
Fez sua carreira política na Bahia, onde é radicada. Formada em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, possui Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia e doutorado em Sociologia pela Universidade de Michigan.



Participou de projetos do PNUD de combate ao racismo. Ocupava desde 2008 a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Bahia no governo Jaques Wagner quando foi convidada pela presidente Dilma Rousseff a participar de seu ministério.
Em outubro de 2015 a secretaria será incorporada ao novo Ministério da Cidadania, que unirá a Secretaria de Política de Promoção da Igualdade Racial, a Secretaria de Direitos Humanos, e a Secretaria de Políticas para as Mulheres.

Raimundo Flor Monteiro
Assessor Técnico em Educação profissional
COEPT – Coordenadoria de Educação Profissional
SENAI-MA



sábado, 3 de outubro de 2015

OUSADIA NO MODO DE VESTIR



OUSADIA NO MODO DE VESTIR.
(Veruska Oliveira - FIEMA - Divulgação).
Natural de Trízidela do Vale e alu­no da Unidade Raimundo Fran­co Teixeira do Serviço de Apren­dizagem Industrial (Senai), em São Luís, Willame Leite de Sousa Filho, 21 anos, foi um dos nove alunos do Se­nai de todo o país a participar do Brasil Fashion 2015, evento paralelo ao WorldS- kills, maior competição de educação pro­fissional do mundo. No desfile, os alunos selecionados apresentaram três looks - conceito, prêt-à-porter e streetwear - pro­duzidos por eles durante a competição.
Na temática utilizada por Willame, ele priorizou o artesanato aliado à alta cos­tura, criando peças à base de algo total­mente inusitado, mas que tem referên­cia cultural com o Maranhão: o crochê e o chifre de boi. Além disso, o jovem esti­lista usou um leque de técnicas, texturas e trabalhos manuais que inovam e fazem da sua moda algo surpreendente, o que chamou a atenção do seu coach, o renomado estilista Alexandre Herchcovitch.
“Eu procuro transformar o que é obvio e comum em algo que as pessoas não ima­ginam que possa ser usado como roupa. Para o desfile, tivemos que seguir a temáti­ca influência do mundo no Brasil, por isso, fui buscar inspiração na França, já que o Maranhão é o único estado com capital fundada pelos franceses, e vem deles a alta costura na moda. Trago nas minhas peças a alta costura aliada aos trabalhos feitos a mão”, explicou. A ideia de utilizar chifre de boi nas roupas surgiu num pas­seio pelo Centro Histórico de São Luís, onde encontrou, em lojas de artesana­to, diversos produtos como anel, joias, colheres e canecas feitas do material.

Para o diretor regional do Senai-MA e superintendente do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Marco Antonio Moura da Sil­va, a participação do Maranhão no Bra­sil Fashion reafirma o trabalho que vem sendo realizado pela área de vestuário, assim como a formação de grandes ta­lentos para a indústria da moda. “Esse resultado também é fruto da sinergia da T&l -
tecnologia e inovação - na educa­ção profissional, que são áreas que precisam andar em paralelo, agregan­do valor aos trabalhos desenvolvidos no Maranhão”.
Para Willame, foram essas referên­cias que o levaram a buscar o Senai para se qualificar, onde pôde aliar o que já sabia ao ensinamento que a ins­tituição proporciona, além do suporte técnico e da credibilidade. “Não tenho como mensurar o tamanho e a opor­tunidade que o Senai dá para o alu­no, além da própria segurança de que tudo vai dar certo. O Brasil Fashion é a oportunidade da minha vida”.
O Brasil Fashion é desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Indús­tria Química e Têxtil (CETIQT), escola de moda do Departamento Nacional do Senai, onde são formados profis­sionais para o segmento, e tem como principal objetivo promover a integra­ção de alunos e ex-alunos com a in­dústria e com o mercado de trabalho, ao estimular a qualificação profissio­nal e dar visibilidade a novos talentos.

AS CONTRIBUIÇÕES DA TRIZIDELA PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL, ECONÔMICO E PÓLITICO DE BACABAL.

AS CONTRIBUIÇÕES DA TRIZIDELA PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL, ECONÔMICO E POLÍTICO DE BACABAL.
Autor: Raimundo Flor Monteiro
1a edição:
2a revisão: 30/10/2009
3a revisão: 22/07/2017
RESUMO
As contribuições do Bairro Trizidela para o desenvolvimento social, econômico e político da cidade de Bacabal apresentadas, retrata o modo de vida, dos grupos sociais, hoje denominados "povos e comunidades tradicionais". Iniciamos com um breve contexto sócio histórico da cidade de Bacabal a luz da premissa marxista de que "é o modo de produção que determina a história de um povo". Assim, analisamos e resgatamos dados históricos social, cultural e produtivo, resultando nas contribuições da comunidade do Bairro da Trizidela para a cidade de Bacabal.

Fig.: 01 - Vista do Bairro Trizidela em 2008
Fonte: do autor

1. CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DO MUNICÍPIO DE BACABAL
1.1- LOCALIZAÇÃO E SÍNTESE HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE BACABAL
A cidade de Bacabal é cortada  pela Rodovia Federal BR 316. Sua história começa  quando o Coronel Lourenço da Silva resolveu fundar, em 1876, uma fazenda situada as margens do Rio Mearim onde atualmente fica a Praça do Caldeirão, antiga praça N.Sª da Conceição. O empreendimento destinava-se a policultura que incluía o cultivo de arroz, feijão, milho, algodão e mandioca. O aumento do fluxo migratório trouxe o desenvolvimento do comércio em fluxo cada vez mais crescente de novos camponeses que fixavam morada no Município. Daí, a cada vez mais crescente necessidade de estabelecer uma ligação comercial mais rápida e intensa com a capital São Luís e demais centros de consumo.
Trinta e sete anos depois, em 1913, foram criadas as Coletorias Estadual e Federal e em 17 de abril de 1920, pela Lei Estadual de número 932, foi assinalada pelo governante do Estado do Maranhão Dr Urbano Santos Sousa, a Lei que elevou a categoria de Vila. No dia 07 de setembro de 1931 foi inaugurada a primeira a primeira rede de iluminação elétrica cuja usina, posteriormente, foi substituída por outra mais possante. Assim, segundo o Prof. Neto (2006), o Município de Bacabal foi criado em 06 de dezembro de 1938, pelo Decreto Lei n°159.
A inspiração do nome do município originou-se da grande quantidade de florestas de palmeira de "bacaba", fruta nativa existente em abundância na época de sua fundação e que, posteriormente, veio à extinção.
A primeira autoridade formal foi o prefeito Jorge José de Mendonça que foi nomeado pelo então Governador do Estado do Maranhão Urbano Santos.
Em 1993 o poder judiciário era representado por 03 juízes e o ministério público por três promotores. Naquele ano achavam-se habilitados ao exercício da profissão um quantitativo de 15 advogados.
Os limites da extensão de Bacabal são: ao Norte: Lago Verde; Sul: São Luís Gonzaga e Lago do Junco; Leste: Coroatá e São Mateus; Oeste: Olho d’agua das Cunhãs, Vitorino Freire e Lago da Pedra.
Fig.: 01 - Início do séc. XX. Uma ponte sobre balsas foi o primeiro elo de ligação 
depois das canoas, é claro, entre a Trizidela e Bacabal.
Fonte: Internet

1.2 - ATIVIDADES SOCIOECONÔMICAS DO MUNICÍPIO DE BACABAL NAS ÁREAS URBANAS E RURAL

Destaca-se no município em Bacabal um conjunto variado de atividades econômicas, relacionadas a prestação de serviços, como a educação, o transporte, a saúde, o comércio, entre outras importantes, apesar do baixo poderio produtivo inerente as atividades relacionadas a produção industrial. 

Entre as atividades econômicas preponderantemente, se destaca o setor terciário. Assim, o subsetor comércio se constitui, enquanto vetor econômico preponderante, na atividade geradora de emprego e renda para seus moradores; não obstante, com pujança, o subsetor de serviços, os mais variados, tais como: saúde, educação, hoteleiro, bancário, serviço público etc. Tem grande relevância. Em menor escala, o outrora significativo setor primário, hoje, em menor escala, Conforme a pesquisadora Ottati (2022, p.18), citada por Monteiro (2023, p.12), Bacabal é um dos 18 municípios da região do Médio Mearim, com influência na atividade de produção bovina, ou seja, um dos que pratica uma pecuária empresarial com ponto de corte entre 2000 e 2010 com rebanhos a partir de 90 mil cabeças. No setor primário, Bacabal ainda detém em menor escala, a extração vegetal, e a também outrora forte atividade de pesca. Segue algumas atividades importante para o município: 

1.2.1 – Extração vegetal - a extração do babaçu, especialmente explorada pelas quebradeiras de coco, continua como uma das atividades econômicas relevantes, como um dos principais produtos explorados no município. Permanece a contínua extração da madeira enquanto uma das principais fontes energéticas, em bora combatida pelo poder de repressão governamental.

1.2.2 - Extração animal – destaque para a piscicultura, uma vez que com os incentivos disponibilizados pelo governo federal, ganhou destaque a distribuição de alevinos ante a apresentação de projetos de piscicultura. A pesca no Rio Mearim, lagos e lagoas continuam com atividades preponderantes para a manutenção da sobrevivência, em especial do povo da Trizidela, que oferta nos mercados, açougues e peixarias da cidade, os produtos que a natureza oferecia em abundância, hoje, porém em quantidade bem reduzida.

1.2.3 – Agricultura – a maioria dessa atividade se processa de forma extensiva com pequenos produtores familiares. Apresenta-se ainda marcada pelo atraso tecnológico e o baixo investimento. Desconhece-se o sistema intensivo e por falta de investimento municipal, estadual e federal, historicamente, faz-se a manutenção do sistema de roça, com queimadas, etc. destaca-se o cultivo da mandioca, feijão, milho, arroz, abacaxi, banana.

1.2.4 – Pecuária – a cidade sempre se destacou por ser um celeiro de pecuaristas de grande porte. A criação de gado para o abate e a produção de leite, tem sido, através dos anos, um destaque econômico do município. Do abete originou-se atividades em salgadeiras de tratamento do couro, a ser posteriormente enviados para o sul do país.

1.2.5 - Não é atoa que na década de 60 Bacabal chega a ter mais de trezentos comerciantes compradores de babaçu e a Brasóleo como uma das principais indústria de alta produção de óleo.

1.3 – PRINCIPAIS BAIRROS QUE COMPÕE A CIDADE DE BACABAL
Bairro D’areia, Cohab I, Cohab II, Cururupú, Trizidela I, Trizidela Nova  II, Ramal, Bosque Aracati, Recanto das Palmeiras, Vila São João, Santos Dumont, Coelho Dias, Madre Rosa, Multirão, Cidade do Sol, Bairro da mangueira, Rua Nova, etc. Caatinga, Bom Jesus, Alto dos Colar, Sto Antônio, Luziana do Bubú, etc.

2 – ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DO BAIRRO TRIZIDELA
2.1 – A GÊNESE DA TRIZIDELA
É provável que os primeiros recrutamentos de mão de obra para trabalhar nas lavouras da fazendo do Coronel Lourenço da Silva, tenham sido trabalhadores braçais moradores na Trizidela. Em geral esses profissionais sobreviviam do corte de juquira e a pesca. Com a valorização das terras das terras do Coronel, o número de trabalhadores da Trizidela era cada vez maior. Dai a origem e a consolidação do bairro enquanto opção de moradia praticamente sem custos. De fato, povos e comunidades tradicionais, procuram de todas formas se absterem de territórios de alta especulação imobiliária. Não porque não queriam residir em locais melhores, mas sim por suas condições de humildade e pobreza. Com a apropriação das terras da Trizidela pelos avôs do proprietário, conhecido como Dr. Araújo, iniciou-se a cobrança de taxas de aquisição, transferência, mensalidade sobre as moradias e terrenos da Trizidela. Esses tributos eram cobrados pelo proprietário do território, através de um escritório cujo gerente arrecadador era o Sr. Dias.
2.2 – A RELAÇÃO ENTRE A CIDADE DE BACABAL E A TRIZIDELA
A cidade de Bacabal tem na população da Trizidela, constituída em sua maioria por cidadãos de baixa renda, os seus cidadãos mais sofridos. Ao fixarem moradia localizando-se do outro lado da margem do Rio Mearim, aquele lado que anualmente é incomodado pelo flagelo, ou seja, pelas enchentes, os moradores passam por situações calamitosas e vexatórias. Esse ensaio de sociologia crítica mostra que essa comunidade sempre conviveu ativamente em desvantagem com a sociedade bacabalense dos anos 60, 70, 80 e, ao final dos anos 90, nos aspectos sociais, político e econômico, uma vez que os serviços de educação, saúde, saneamento básico eram propiciados pelos grupos sociais que se fixavam na cidade para a cidade e não para o povo da Trizidela. Todavia, como veremos a seguir os produtos e serviços gerados pelo trizidelenses sempre foram ofertados para os moradores de Bacabal, que deles usufruíam. Dai a necessidade de intenso translado de pessoas da Trizidela para Bacabal e vice versa, no que tange a compra e venda de produtos e serviços, cujos ofertantes era e ainda hoje são os trizidelenses.
2.3 – O POVO, CIDADÃOS HISTÓRICOS.
A genealogia que fez surgir o termo "povos e comunidades tradicionais", conforme a pesquisadora cruz (2012), surge nas décadas de  1970 e 1980, porém em 1990, com a questão ambiental o termo se popularizou. Assim, os ribeirinhos entram para essa "categoria de análise para a academia" e  tem seu reconhecimento pelo Estado, como sendo povos e comunidades que têm identidade, diversidade cultural e um modo de vida próprio, peculiar de sua condição de vida e passam a ter os requerimentos para sua visibilidade, o reconhecimento de seus direitos, a preservação de sua cultura, suas crenças e  seus direitos ao território.
Do outro lado da cidade estavam e permanecem até hoje, os cidadãos históricos que direta e indiretamente conviviam com o povo da Trizidela. Alguns desses personagens históricos, alguns eram famosos na cidade, por se destacar enquanto pessoa e enquanto profissionais de ilibado esmero, entre os quais podemos destacar: Raimundo Gangá, Ferramenta, Manoel da Bomba - que era dono da arrozeira Vale do Mearim, Zé Longar - comerciante, Altamiro Paiva – distribuidor de bebidas, Sr. Açair – do cartório, Sr. Garçêz, Professor Juarez – nosso matemático mais ilustre, Professor Valmir – CONASA – Matemática, física e Química (pense num gênio!), Prof. Clécio - de Biologia, Mundica Semana, Dr. Pedro Brito - do Correio, Padre Jacinto, a Enfermeira Zuzu, Cibinga, Dr Nilo Cruz, Sr. Oliveira - da farmácia, o pistoleiro Romão, Dona Pureza, Dona Nazaré, famosas pelos leitão e frangos preparados no forno de barro, Manoel Aleijado que tinha um buteco de pinga na beira do rio, Sr. Artur, pai de Vale Neto, Garganta e Elvira, Dr Otávio Pinho – odontólogo, Tonico Braga - farmacêutico; Maneco - gerente do Armazém Paraíba, Dr de Paula - dentista, Sr. Valdir – gerente das lojas pernambucanas, e muitos outros. Tais como o locutor da rádio Jainára Osmar Nolêto, Zé do Forró, Dr. Otávio Pinho, Sr Tonico Braga da farmácia, o jornalista Pedro Santos, Sr Milton fotógrafo, Dona Rosemary Maranhão, Dr. Juarez Almeida, Dr. Ofélio, Dr. Prof. Valmir, Frei Evando, frei Antônio, Prof, Mendes do SENAI, Sr Carrinho do Hotel Pingo de Ouro, Na educação se destacou Josimar, que foi também prefeito de Bacabal, O professor Melo, dono do Colégio Batista, A professora vereadora Zezé e o pastor Boaventura.
2.4 - O MITO DE “EDITE A DOIDA”
Nas décadas de 70 e/ou 80, principalmente, perambulava nas imediações da BR 316, uma cidadã que, aparentemente, sofria de distúrbios mentais. Contudo, não apresentava sinais de reações violentas contra nenhuma pessoa. Postava-se sempre a beira da BR com o olhar perdido e distante. Os mais generosos lhes davam comida, contudo, as crianças, o insultavam. Porém, ela nunca reagia de modo violento, apenas saia da área de penúria em que estava submetida. Essa simples pessoa, negra, com as roupas rasgadas, abandonada por todos, certo dia, veio a ser atropelada por uma carreta nas margens da BR 316. Essa infeliz alma que Bacabal já teve em sua história, veio a se tornar na saudosa e milagrosa Edite. Que inédito, aquela que vagava pelas ruas de Bacabal e, muitas vezes acoitadas por crianças que lhe jogavam pedras, pois a chamavam de “Edite a doida”, tornou-se, após sua morte, em uma alma caridosa e milagrosa que em muito tem ajudado e socorrido aos bacabalenses e os trizidelenses? Sim! Em especial por esses últimos, os trizidelenses que é quem são realmente aqueles que passam por mais dificuldades, são os que mais recorrem a ela. O tumulo de Edite está localizado as margens da BR 316. Não obstante, tornou-se um local de peregrinações e pagamento de promessas, um lugar santo. Eu mesmo já obtive graças dessa alma caridosa e lá depositei minhas orações e acendi minhas velas dedicadas de coração a ela “Edite a doida”, nossa protetora. 
2.4.1 O MITO DE RIBAMAR PRETINHO
Nas décadas de 60 e 70 existiu no Bairro Trizidela um jovem negro chamado de Ribamar Pretinho. Ribamar andava sempre bem trajado e carregando sempre um baralho no bolso, sua profissão era de jogador. A noite no cabaré do mufumbo, havia os pontos de prostituição de jogo. Ribamar era daqueles profissionais que nunca perdia em jogo, por isso vivia bem. Contudo, seus adversários estavam sempre a desconfiar que ele trapaceava. O fato era que em muitos casos seus adversários após perderem tudo no jogo o desafiava para brigar de faca. Ao ser desafiado ele sorria, era sua maior habilidade, jogar facas. Costumava não matar seus adversários, só os feria em pontos não mortais. Desse modo, Ribamar Pretinho tornou-se um mito, algumas pessoas costumavam ir ao mufumbo, não para se prostituir e sim para ver Ribamar jogar facas. Até que em uma das oportunidades foi desafiado a jogar  baralho e depois jogar facas com um caçambeiro conhecido pela alcunha Bibi. Não deu outra ganhou todo dinheiro do caçambeiro além de dar um show de facas em Bibi. Porém, dessa vez Ribamar não deu sorte, Bibi veio a assinar-lhe dias depois de ter sido humilhado em um jogo de facas.
2.3 – A ASSISTÊNCIA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS A COMUNIDADE DA TRIZIDELA.
2.3.1 - MOBILIDADE SOCIAL URBANA – o ir e vir dos trizidelenses, uma vez que a Trizidela foi, e se constitui, em um bairro integrado a economia da cidade de Bacabal é de essencial valor. Eram apenas por canoas que as pessoas iam e vinham, ou seja, atravessando de um lado para o outro, de uma margem para a outra margem do Rio Mearim. O translado era possível dado à habilidade do povo da Trizidela em manusear suas canoas. Até as crianças sabem remar muito bem. Contudo, esse ir e vir veio a si amenizar com construção da ponte sobre o Rio Mearim. Essa via de acesso, fez com que a Trizidela tivesse um impulso de crescimento social e econômico. A ponte foi projetada em 1954 pelo então governador do Estado do Maranhão Doutor Eugênio Barros, período que coincidia com a gestão do prefeito de Bacabal o Sr. Frederico Leda. A ponte foi liberada para trafego de veiculo em 1957 e sua inauguração oficial deu-se no ano de 1958, tendo sido reformada no ano de 1986. Até 2006 a ponte sobre o Rio Mearim era a única opção de translado do povo da Trizidela. Após 2006, na gestão do prefeito José Vieira foi construída uma outra ponte para passagem de pedestres, esta sito, nas imediações  da Rua Maneco Mendes, em frente a casa de Maria de Lourdes Monteiro Barros, já falecida.
3.3.2 – EDUCAÇÃO NEGLIGENCIADA AOS MAIS HUMILDES DA TRIZIDELA
Embora a Trizidela nas décadas de 50, 60, 70 e 80 não fosse contemplada com escolas, os moradores do bairro eram obrigados a colocar suas crianças nas escolas de Bacabal. Só nos anos 80 é que a prefeitura dispôs a Escola Jorge José de Mendonça , situada na praça de são Raimundo, destinado a alfabetização de adultos. Uma escola partícula preferida de Bacabal era a Escola NSª da Conceição da professora Alice Mendes, que ficava atrás da igreja Santa Terezinha. Entre as públicas surgiram às Escolas Arimatéia Cisne, que funcionava no sindicato dos Arrumadores; Urbano Santos, 17 de abril, Estado do Ceará, Escola Cleômenes Falcão; Escola Juarez de Almeida; Ginásio Bandeirantes. Dentre as escolas particulares, destacavam-se a mais famosa Colégio Nossa Senhora dos Anjos (CONASA), onde estudava os filhos das elites bacabalenses; O Colégio Batista, Ginásio Stª Rosa, Colégio Gunnar Vingrem, a Escola Técnica Comercial Alfredo Benna, que tinha no professor Maninho, hoje vereador, um dos seus principais expoentes, etc.
3.3.3 – SAÚDE
Em Bacabal o imperativo da saúde sempre foi objeto da oferta de serviço privado. Um dos pioneiros foi o hoje em ruínas hospital Santa Terezinha de propriedade do Dr Juarez Almeida, médico e político, prefeito de Bacabal. O empreendimento do Hospital Veloso Costa e Laura Vasconcelos foi na mesma esfera privada um negócio de êxito dos empresários doutores. Não obstante, os mais Jovens, Dr José Carlos da Clinica de Olhos Santa Maria, repetiu a dose dos negócios lucrativos no ramo da saúde em Bacabal. Desse modo, Bacabal apesar de não ter estatísticas oficiais, sofria de epidemias de tuberculose, tifo, febre amarela, hanseníase, etc. dizia-se em adágios populares, que Bacabal era a cidade onde os médicos, eram todos clínicos gerais, e enricavam em pouco tempo. Só com o prefeito José Vieira Lins é que veio se instalar a municipalização da saúde. Dizem os boatos que não por interesse pautados em anseios da população, mais sim por se tratar de um processo que, alinhado com o governo federal, recebia verbas regulares para a manutenção da saúde dos bacabalenses. De uma forma ou de outra o povo de Bacabal obteve pela primeira vez os serviços de saúde a sua disposição. Entre os Bacabalenses os Trizidelenses, é óbvio. Cabe destacar que em muitas administrações dos prefeitos ditos "médicos" ( Dr Antônio, Dr Juarez Almeida, Dr Coelho Dias, Dr Cazuza, Raimundinha Loyola), tivemos como secretário de saúde o Dr. Hidalgo Leda.
Fig.: 03 - A gênese da Trizidela no inicio do séc. XX. Período em que o Rio Mearim era navegável. 
Ver-se as crianças descalças e com sinais de desnutridas.
Fonte: Internet

3.3.4 – SANEAMENTO BÁSICO
Os serviços relativos a abastecimento da água potável, até o inicio do novo milênio, não era ofertado pelos órgãos públicos aos moradores da Trizidela. Nessas condições, os moradores consumiam água colhida no Rio Mearim, como se diz "in natura". Era comum, pela manhã, um número expressivo de mulheres e crianças enchendo água, ou seja, pegando água no rio para ser consumida nas residências. Essa prática extremamente danosa aos moradores gerava muitos problemas de saúde na população, especialmente verminose, em decorrência da água não tratada. Não obstante, os índices de mortalidade infantil eram altíssimas no bairro em relação a cidade de Bacabal.
Não obstante, não havia infraestrutura de esgoto, por isso, raras eram as casas que eram providas de aparelhos sanitários, sendo comum buracos no chão para coletar dejetos. Essas medidas práticas causam um forte impacto no meio ambiente, visto que as ruas próximas ao rio Mearim tinham seus dejetos jogados no próprio Mearim poluindo a fonte de água de beber.
3.3.5 – MORADIA
As resistências eram construídas pelos próprios moradores sem nenhuma contribuição dos órgãos públicos municipais, estaduais e federais. As características das moradias dos Trizidelenses nos anos 60, 70 e 80, eram de 90% das residências construídas de "pau a pique" e cobertas de palha. Eram casas simples em geral com três cômodos: sala, quarto e cozinha. Não havia nenhuma estrutura básica instalação hidráulica (água) e instalação sanitária (banheiros).  Não obstante, nesse tipo de residências, por consequência da matéria prima utilizada era comum haver incêndios. Nesse período de tempo as residências eram precárias acomodações, sem conforto e ou segurança. Não havia nenhum projeto ou programa político municipal, estadual ou federal, de qualquer natureza, que se importasse com aqueles cidadãos, embora cerca de mais de 60% deles fossem indigentes, ou seja não possuíam se quer um documento. Daí se depreender que por ser um bolsão de pobreza, onde 99% eram analfabetos, a Trizidela contava uma quantidade muitíssimo restrita de votos.
3.3.5.1 - O IMPACTO DAS ENCHENTES DO RIO MEARIM NO BAIRRO TRIZIDELA
Além das difíceis situações de vida do povo trizidelense, pelas condições sociais em que não lhes foram ofertadas pelo poder público municipal, estadual e federal, outro importante  fator impactante dificultava suas vidas. Anualmente as intempéries de chuvas e enchentes desassossegava seus humildes moradores. Os ciclos geográficos regulares anuais de inverno e verão definem seis meses de chuvas. Nesse período, gradativamente, vindo dos planos dos terrenos mais baixos para os mais altos, iam se alagando pelas cheias do Rio Mearim. Assim, pouco a pouco o povo da Trizidela iam perdendo suas casas para o rio. Não obstante, os prejuízos eram muito grandes para quem, por seu baixo poder aquisitivo, já precisava se superar para compra seus móveis básicos, tais como cama, geladeira e fogões. Parte do suor desse povo era também levado pelas águas. Retirados pelo caminhões da prefeitura, os moradores ocupavam escolas, estádio e mesmo o parque de exposição de Bacabal. Nesses períodos o governo federal costumava liberar verbas públicas para os Estados e estes repassavam ao municípios. Assim, através da Cruz Vermelha eram distribuídos arroz, feijão, farinha e charque, café e açúcar aos moradores. Ao final de quatro meses de intenso sofrimento, lá vinhamos todos nós ocupar nossas casas. Refazer as taperas estava em primeiro plano, mas também, ficavam as doenças que se proliferavam pela condição da ocupação das água. Febres, gripes, dor de cabeça e frieira nos pés era comum. Era o período em que o Sr. Oliveira e o Sr. Tonico Braga, ambos farmacêuticos da cidade de Bacabal mais trabalhavam. Os moradores se reversavam dos abrigos a vigiar suas casas para não roubarem pequenas coisas que não eram levadas para os abrigos. A meu ver o único fato positivo que havia, nesse período de enchente, era que no Rio Mearim se propagava uma enorme abundancia de peixes. Achávamos positivo. Porém hoje, talvez nem pudéssemos pescar dado que é exatamente nessa época que ocorre o período da desova. A pesca abundante naquela época responde o porque hoje os cardumes de peixes no Rio Mearim ficaram tão raros.


Fig.: 04 - Bairro Trizidela em plena enchente do Rio Mearim. Ver-se após a descida da ponte, no primeiro plano as lavadeiras de roupa em seu trabalho, sobre a BR 316. No fundo um caminhão descarrega ou carrega arroz na Usina do Sr Francês.
Fonte: Internet

3.3.6     – REDE DE SAÚDE E AS CONDIÇÕES PARA O BAIRRO
A Trizidela nunca foi prioridade para o poder publico municipal, estadual e/ou federal. Pelo menos nas décadas de 50, 60, 70, 80 e 90. Desse modo, não se presenciou nesses anos a implementação de nenhum programa preventivo, preditivo e/ou corretivo de saúde publica. O acesso da comunidade dependia da disponibilidade de recursos próprios, que era exatamente o eles não tinham. Assim, não recorriam aos hospitais privados, tais como Bom Pastor, Veloso Costa, Santa Terezinha e José Amorim. Não obstante, as clinicas particulares Santa Joana, Santa Rafaela, Clinica Pinho e Santa Apolônia. Constata-se também que nas décadas de 60, 70 e 80 com a maioria dos moradores indigentes as pessoas que não possuíam registro de nascimento e/ou identidade não podiam ter acesso as instituições burocráticas.
3.4    - O MODO DE VIDA E PRODUÇÃO DOS TRIZIDELENSES
Quando o pensador Karl Marx (1818-1883), ao contrário do que afirmava Hegel, afirma o pressuposto de que não são as ideias dos homens ilustres e poderosos que delineiam as ondas da historia, mais sim, o modo como esses homens se organizam para garantirem sua sobrevivência. Marx retira da frente histórica as ideias burguesas e coloca a construção material inerente ao modo de produção, como motor propulsor da história. Trazendo os pressupostos históricos de Marx para o Município de Bacabal, podemos interpretar que foram as comunidades de trabalhadores, sobretudo, formadas por pescadores oriundos do Bairro da Trizidela que deram suporte e ajudaram na gênese da cidade de Bacabal, promissor Município do Estado do Maranhão. É importante afirmar que comunidades tradicionais, a exemplo dos críticos do sistema capitalista, são parcialmente excluídas do processo do sistema capitalista. Dessa forma, para sobreviver, em condições em que lhe são negadas políticas publicas, desenvolve sua sobrevivência de modo próprio. É comum no bairro, a maioria das pessoas serem solidárias, cooperativas e gentis uma com as outras. 
3.4.1     -  SETOR PRIMÁRIO
São atividades econômicas que incluem o trabalho na agricultura, na pecuária, no extrativismo vegetal, animal e a pesca. Essas atividades, pelo menos agricultura, o extrativismo vegetal e animal sempre se constituíram no principal motor de sobrevivência da comunidade da Trizidela.
3.4.1.1    - A AGRICULTURA
A sobrevivência da maior parte das famílias da Trizidela era feita através da agricultura, ou seja, o cultivo do arroz, feijão, mandioca, a macaxeira. Poucos moradores tinha roça em locais mais distantes, como no Santo Antônio, Luziana do Bubú, caso do meu pai, por exemplo. Porém, a maioria era o que podemos chamar de pequenos produtores. Estes pequenos, realizavam o cultivo as margens do Rio Mearim. Eram os chamados vazanteiros, ou seja, aqueles que labutavam com vazantes. Esses cultivos eram principalmente de verduras, tais como: a macaxeira, quiabo, maxixe, vinagreira e feijão, vendidos  ainda verdes e frescos na baje nas feiras. Muitos são os representantes entre os quais, além do meu pai Manoel Flor Monteiro, podemos citar a família dos Jerômes, constituída pelo Srs. Pedro e Antônio Jerôme, o Sr Raimundo, o Sr. Virgilho, o Sr. Antoninho, Sr. Valentim esposa de dona Cristina, mãe de José Esther Pinto, hoje policial,  e o Sr. Gongo. Portanto, parte do suprimento de frutas verdes e frescas ofertadas ao povo de Bacabal era garantido pelos moradores da Trizidela.
3.4.1.2      -  A PECUÁRIA
Entre os mais humildes moradores da Trizidela, poucos eram, verdadeiramente, economicamente humildes, entre os quais podemos destacar à família "Mendes" do pecuarista Maneco Mendes esposo de Dona Ernestina e mais tarde, após o falecimento do Sr. Maneco, os seus filhos Zica, Nezinho, Ivete, Iolete e Edimilson.  Sua fazenda era localizada próximo da Catinga em uma estrutura bem montada e, constantemente, lotes de gado de sua fazenda eram vendida para o abate. Não obstante, a Trizidela não possuía apenas um conjunto unitário de pecuaristas, existiam outros entre os quais também se destacavam o Sr Zeca Batista, pai de Xênia e Telbaldo e o Sr. Domingos Gangá, que segundo alguns, também era proprietário de fazendas de gado. Havia outros, todavia, pequenos criadores com menos de 10 cabeças de gado. A importância dessa atividade para o povo da Trizidela e para Bacabal era grande, visto que eram fazendas produtivas que contribuíam para a oferta de abastecimento do mercado de carne, couro e especialmente do leite, para o desenvolvimento econômico do município de Bacabal. Não se pode esquecer o Sr. Oswaldo que era um pecuarista da mangueira, ali próximo a Trizidela, próximo a torre da Rádio Jainára.
3.4.1.3    –  EXTRATIVISMO VEGETAL E ANIMAL
A história da Trizidela também é marcada pelos seus mestres da pesca, aqueles que eram homens notáveis que sustentaram suas famílias pela arte de trabalhar na pesca e dela tirar o seu sustento. Podemos problematizar da seguinte forma “Quem eram os principais pescadores do bairro naquela época”? Quem não tem lembrança do conhecido e saudoso “LELÉ”; O Sr Antônio (meu compadre) conhecido como Antonhão, esposo de minha comadre Mariazinha, e seu irmão Ari, os irmãos Antônio e Jorge Café, Evangelho Monteiro e os irmãos José Ramos e Raimundo Monteiro (esse último sou eu), meu compadre Manoel de Eugênio, entre outros.
A arte de pescar do povo da Trizidela inicia-se quando ainda são crianças. Essa cultura é remanescente natural do desenvolvimento da capacidade da criança, futuro pescador, em remar e dirigir a embarcação, no caso, a canoa. Botar a canoa nas operações de pescar exige perícia especialmente porque muitas vezes o pescador opera a canoa à medida que executa outras operações, tais como, por exemplo, distribuir rede ou despescar o curral. Portanto, não é só ter o domínio das operações de remar, mais sim, contornar o barco (canoa) em diversas operações, muitas vezes com um só braço.
O pescador do Bairro Trizidela, na terminologia moderna, pode ser chamado de “polivalente”, uma vez que ele próprio fabrica os artefatos e ferramentas de produção da pesca. Desse modo, confeccionar a própria canoa, as tarrafas, os diversos tipos de enganchos (redes de pesca). O processo de confecção desses bens de produção chega a ser altamente complexo e são, desde a infância, repassados esses conhecimentos de pais para filhos. As técnicas ou modalidades de pescarias são diversas, entre elas podemos destacar a pesca de tarrafa, colocação de enganchos, colocação de corda, colocação de currais que pode ser de diversos tipos, entre os quais o mais usado, que é o curral de sala. Não obstante, nas lagoas se pode pescar com landuá e/ou currú.
A pesca com tarrafa consiste em o pescado ocupar, de pé, a polpa da canoa, já com o castelo da tarrafa devidamente enrolado no braço e sustentar com a mão esquerda a borda com chumbadas da tarrafa, enquanto a mão direita entreabre o anel externo, seguindo-se um ágil movimento para a esquerda e rápido retorno a direita, lançando para um plano inclinado ascendente a tarrafa, que durante o movimento vai se abrindo até formar um circulo concêntrico perfeito. Essa atividade requer muita habilidade, eu que o diga, pois muitas vezes, quando eu aprendia a jogar tarrafa, meu irmão José Ramos, mestre em jogar tarrafa, insistia, “não é força é jeito.”
Já a pesca de corda consiste em atravessar o fio de nylon de uma margem a outra, dando o seio necessário para que após a colocação das poitas e dos anzóis ela possa localizar-se de leito, ou seja, de fato no fundo do rio. As cordas para serem efetivas, isto é pescar peixe, precisa ser iscadas, de acordo com o tipo de peixe que se quer pescar. Como por exemplo: a pesca de mandi reque anzóis médios iscados, de preferencia com minhocas; para pescar surubim, por exemplo, uma das iscas preferidas desse peixe é a piaba olho de fogo. Portanto, de acordo com o peixe a captura se define a iscar, que também é capturada pelo pescador.
A pesca de engancho requer conhecimento, sobretudo, dos rios e dos lagos em seus pontos de fluxo d’agua e passagem dos peixes em seus tipos e características, tais como os que deslocam-se em água profundas, em água medias e os que flutuam na parte superior. Dai o pescador escolhe o local e o tamanho da rede e da malha que vai capturar o peixe. Dessa forma, é só esperar os peixes caírem nas redes para poder embarcá-los na canoa. As pescas de landoá e currú são feitas especialmente nas capturas de iscas em água paradas e lagos. Todavia, tem suas especificidades científicas e técnicas de aplicação.
As contribuições da comunidade da Trizidela para Bacabal no campo da pesca é de valor inestimável, uma vez que contribui no trabalho de oferta de produtos de pescados, de diversos gêneros, para o povo da cidade se alimentar. Desse modo, a pesca constitui também o principal sustentáculo de sobrevivência dessa comunidade, pois se torna o fundante modus operandi de vida de uma comunidade e, através dela, se define a história desse povo. Portanto a sociedade bacabalense na sua totalidade, engloba, as características de parte de seu povo, aqueles que residem na Trizidela. Em tempos de abundancia da oferta de pescado costuma-se, não só suprir Bacabal, como também exportar para outros municípios os excedentes. É essa renda que permite a subsistência. Convém salientar que a cadeia de negociação do capital é perversa e aí, ao trabalho do pescador, alia-se ao do inesperado e indesejável atravessador que, em muitos casos, ganha muito mais que o trabalhador, pelo investimento do seu capital, em muitos casos, antes mesmo do pescador pescar o peixe.
3.4.1.4  - PRODUÇÃO DO BABAÇU: AS QUEBRADEIRAS DE COCO DO BAIRRO.
Muitas das donas de casa da Trizidela contribuíam com os maridos, em muitos casos pescadores, na quebra de coco babaçu. Nos idos dos anos 70 e 80 nas imediações da Catinga, do Bom Jesus, Alto dos Colar, etc. (vilarejos) havia abundância de palmeiras de babaçu. Desse modo, as mulheres saiam de seus lares pela manhã, com seus côfos pendurados a cintura, portando um machado e um macete para quebrar coco. Ao final da tarde haviam quebrado cerca de 5 a 10 quilos de coco. As amêndoas eram vendidas no quilo, em geral por um preço muito baixo. Essa atividade consistia um certo grau de risco, uma vez que a coleta dos frutos era feita em propriedades alheias, em que muitas vezes os donos não concordavam com a coleta. Essa produção era vendida e outra parte revertida na sua maioria para a produção artesanal do óleo de babaçu, um óleo comestível muito apreciado pelos bacabalenses. Desse modo, se mantinham a manutenção da vida pelo trabalho através da exploração e aproveitamento dos recursos naturais, porém de propriedade privada. Certas quebradeiras eram obrigadas a vender sua produção diária, seu coco, para os donos da terra na qual elas catavam o produto para quebrar. O problema é tinham que vender por um preço ainda mais barato, cerca de 1/3 a menos do valor.
    Assim, a grande ascensão econômica de Bacabal nas décadas de 50, 60 e 70 no que tange a produção de babaçu, veio da contribuição da produção das amêndoas do produto obtidas através do trabalho da quebradeiras de coco do bairro. Muitas vezes, como citamos acima, em condições adversas.

3.5    - SETOR SECUNDÁRIO DA ECONOMIA - INDÚSTRIA
3.4.1     - DA CERÂMICA
A indústria da cerâmica, as famosas olarias, sempre esteve presente na Trizidela. Uma das primeiras dos anos 60 foi a grande a olaria do Sr. Francês que produzia em grande escala, porém de forma artesanal, telhas e tijolos para viabilizar a construção de edificações em Bacabal. Além da olaria do Francês, tivemos nas décadas de 70 e 80 outras grandes olarias, que eram as do Sr. João Tomé, Manoel Bandeira, José Vieira e Geraldo Vieira, e agora, recentemente, a Olaria do Tonico. Acreditamos que 80% das edificações de Bacabal eram feitas com material das olarias da Trizidela.
Para viabilizar a produção as olarias, no geral, mobilizavam diretamente mais de 300 trabalhadores da Trizidela e indiretamente centenas deles. Uma de minhas primeiras atividades de trabalho foi juntando esterco de animal para vender nas olarias, para após ser preparadas os estercos eram misturados a argila para a produção de telhas e tijolos. A cadeia de produção de tijolos e telhas envolve vários processos que vão desde a extração do barro, preparação do material com potassa, esterco e outros produtos químicos, que após bem amassados, é que vão para as formas. Após a secagem o material e armazenado em forno e queimado em caeiras, até chegar ao ponto de fusão da argila que é também o ponto de tempera do material, para após passar dois ou três dias no processo de resfriamento. Era assim que os materiais oriundos das caeiras da Trizidela ganharam fama em Bacabal, como os de mais duros, bem feitos e resistentes. Ainda hoje, muita gente ainda no Bairro sobrevive das atividades de cerâmica (olarias).  Com a evolução da tecnologia os processos são automatizados e não são mais artesanais, o formato dos tijolos e das telhas modificaram-se e os ceramistas da Trizidela não conseguem acompanharam essa evolução que, praticamente, a longo prazo decreta o fim dessas atividades que durante anos e anos alavancaram a subsistência de uma comunidade.
3.5 -  DA PRODUÇÃO DO ARROZ
Nas décadas de 60 e 70 e 80 a Trizidela contou com 02 grandes usinas de pilar arroz. O arroz com casca era transportado pelo Rio Mearim até as mediações da Trizidela onde era comprado e industrializado (pilado). Dois grandes comerciantes eram os principais protagonistas do negócio nesta época, um deles era o Sr. Maneco Mendes e sua família formada por seus filhos Zica, Nezinho e Edmilson. A Usina se situava na rua que hoje leva o seu nome, Rua Maneco Mendes. Sua usina de grande porte trabalhava dia e noite na industrialização do arroz produzindo cerca de 80 sacos por dia.
Outro usineiro do ramo do arroz era o Sr. Frances, cujo empreendimento se situava as margens da BR 316, na Trizidela, próximo ao porto fiscal. A grande maioria desse produto, o arroz pilado em sacos de 60 quilos, era destinado a venda para os comércios de Bacabal. A cidade, desse modo, dependia da produção do produto oriundo dos trizidelenses para sua alimentação e sobrevivência.

3.5           - PRODUÇÃO DE AZEITE DE CÔCO
As delícias da culinária trisidelense eram preparadas a base do azeite de coco. Esse produto era obtido em pequenas fábricas artesanais destinadas a produção e fabrico do óleo de babaçu. A maior fabricante da Trizidela era a do Sr. Gongo que em média produzia 1.000 litros de azeite por semana. Essa produção era vendida no mercado velho municipal de Bacabal entre outros pontos de venda. Dentre esta produção, parte do quantitativo era exportada para outros municípios e até para a capital do estado são Luís. Ressalta-se que muitas quebradeiras produziam seu próprio azeite em casa posteriormente ofertando aos consumidores. Desse modo, essa atividade econômica, em muito, contribuiu para a sobrevivência de produtores e consumidores.
4.1 - SETOR TERCIÁRIO DA ECONOMIA TRIZIDELENSE
4.1 - O COMÉRCIO
Os grandes comerciantes de secos e molhados e em grosso da Trizidela eram Sr. Elias, cujo empreendimento era situado às margens da BR 316, próximo ao posto fiscal da Trizidela; O Sr. Domingos Gangá, empreendimento situado às margens da BR 135, do lado esquerdo da BR 316 no Bairro Trizidela; o complexo de negócio do Sr. Maneco Mendes, as margens do Rio Mearim. A importância desses comerciantes era grande, uma vez que atraiam muitos negócios oriundos da cidade de Bacabal e adjacências que mobilizava cerca de 1/3 do capital de giro que movimentava a cidade de Bacabal. Assim, muitos comerciantes de Bacabal tinham como mercado fornecedor de seu negocio o Bairro da Trizidela, tal era a importância econômica do Bairro para a cidade de Bacabal.
Outra fonte de negócio era o mercado da Trizidela, este foi construído na década de 1970 onde ficava o largo de São Raimundo, local onde eram realizadas anualmente as quermesses e novenas de São Raimundo. As atividades do mercadinho eram viabilizadas pelos açougues, peixarias, feirantes, bancas de comida e as mercearias adjacentes ao mercado.
Os açougues recebiam os quartos de boi, geralmente abatidos na moita, a serem vendidas à população da Trizidela. Havia três açougueiros no mercadinho, entre os quais podemos destacar o açougue do Chicão marido de Florita, filha do Sr. Faustino Pão Torrado, irmão de Massa Bruta e Faustino filho (pseudônimo de Velho); o açougue do Chicão filho de D. Ana, irmão do Damião. Os peixeiros eram compostos por comerciantes que compravam o peixe dos pescadores e os revendia no marcado com uma boa margem de lucro. Entre os peixeiros podemos citar o Sr. José Peixeiro. Dentre as feirantes que eram mulheres que vendiam frutas, verduras e cheiro verde no mercadinho, entre as quais podemos citar Cleide, Filha do Sr. Ozino. Já nas bancas de comida uma das representantes desse comercio era D. Raimunda, mulher do Sr. João Germano, morado na Rua Maria Helena, ajudada que era por sua filha-sobrinha a menina Raimunda Nonata Silva Ribeiro.
As mercearias do entorno, nos anos 70 e 80, eram representadas principalmente pela mercearia do Sr. Sérgio e a do Sr. Humberto, esposo de D. Dora, Mãe dos garotos Francisco, Humberto, Celane. Dona Dora era filha do Sr. Chico Teodoro e irmã de Dona Luiza que foi a minha primeira professora, aquela que me alfabetizou na segunda metade da década de 60.
É importante frisar que o mercadinho da Trizidela instado do lado do posto fiscal, no largo de São Raimundo, sofria concorrência dos açougues instalados do outro lado da pista, a margem da BR 316, representados pelos açougues do Sr. Silvestre  e o do Sr. Manduca Santos, tendo ainda como forte concorrente a Mercearia do Domingos Gangá e, a ainda de quebra, a grande mercearia do Sr. Paca, pai de Iran e irmão de Nevinha.
O mercadinho da Trizidela veio a ser demolido na década de 90 por falta de frequência de negociantes e compradores, dando lugar a uma escola municipal primária.
3.6           - OS PROFISSIONAIS LIBERAIS DA TRIZIDELA
Mesmo os filhos dos moradores da Trizidela de melhores condições financeiras não tiveram grandes projeções nos estudos. Portanto, nas décadas de 60, 70 e 80 não a Trizidela não produziu nenhum advogado, médico, sociólogo, pedagogo, economista ou outras formações. O fato é que a cidade de Bacabal só obteve um campo universitário da UFMA e UEMA em 1990. Somente na segunda metade da década de 90 é que tivemos em 1995 a 1ª formanda pedagoga da Trizidela, que foi a Sra Tereza, esposa de José Antônio, filha do Sr. Faustino "Pão Torrado", irmão de Maria Elvira, de Florita, Massa Bruta e Velho. Não obstante, após, em 1996 tivemos novos formandos pedagogos que foram Raimundo Flor, filho de D. Elvira e Francisco Neres, filho de Evangelho, ambos da mesma família, todos formados pela CESB- Centro de Estudos Superior de Bacabal – UEMA.

3.7           OS TÉCNICOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL – DA TRIZIDELA
Mesmo a Trizidela não produzindo Profissionais liberais, produziu excelentes profissionais que se notabilizaram nas atividades de construção civil de Bacabal. O de maior destaque foi sem dúvidas Evangelho Monteiro que ainda hoje é considerado um dos maiores profissionais da área de construção civil de Bacabal. Ele competiu diretamente com outros excelentes profissionais, tais como Zeca de Filuca e o Sr. Dico "boca de vaca". Em seu currículo Evangelho destaca as mansões mais luxuosas de Bacabal construídas sob sua égide, Tais com as Mansões do finado Bete Lago, os Hospitais, do Sr Zé Carvalho, dentre outras.
Não obstante, Evangelho formou, na prática, uma legião de outros profissionais, entre parentes e amigos, uma longa lista que podemos citar: Francisco Bacurau, filho do Abel, Mendes, Toinho, Ramos, Milton, Raimundo, dentre muitos outros.
3.8     - OUTRAS ATIVIDADES
A luta pela sobrevivência, no dizer de Marx e Engels, constitui o principal motor responsável pelos acontecimentos históricos. Assim, em pleno mundo pós-industrial o povo da Trizidela não tinha escolas, fontes de informação, era também desprovidos, por ausência do poder público de alguma capacitação profissional. Esse guerreiros, invisíveis para o estado brasileiro, eram obrigados a buscar em meio ao capitalismo selvagem, uma forma de tirar do trabalho seu sustento. Diga-se de passagem, um povo honesto e trabalhador. Desse modo, a pesca, a caça, agricultura com roças, vazante, sem nenhuma tecnologia, eram os principais lócus de trabalho, dos quais se destacava ainda juquireiros, ferreiros, vigias, estivadores, pequenos comerciantes, fabricantes de azeite, pirulitos, cocadas e bolos, e também muitos oleiros. Infelizmente, entres as forma de sobrevivência estava também a prostituição.
3.8.1     - A PROSTITUIÇÃO
A Trizidela velha, como é chamada hoje, divide-se em dois blocos de moradores. Um que fica a esquerda de quem vem de Bacabal para a Trizidela, antigamente conhecido pelo nome vulgar de “Mufumbo”, hoje atual rua dos prazeres, e os moradores que ficam do lado direito, lado do posto fiscal que é constituído por famílias. Ressalva-se que no mufumbo também sempre abrigou diversas famílias.
Pois bem, o “Mufumbo” teve sua gênese nos idos de 50, anos da construção da ponte na BR 316 sobre o Rio Mearim. O local foi formado pela aglomeração de mulheres solteiras livres (prostitutas) que se alojavam naquela região do Bairro em busca da garantia de sobrevivência, que era garantida pela venda de seus corpos em atividade de sexo aos trabalhadores da construção civil que tinham vindo para construir a ponte sobre o rio Mearim. Essas mulheres eram aliciadas e alojadas por cafitinas, que lhes davam comissões em troca de uma hospedagem e pagamento pelo tempo de uso da chave, ou seja, do tempo que o casal gastava fazendo sexo nos quartos dos cabarés. Em muitos casos as cafitinas ficavam com até 50% do valor do programa. Adicionado aos ganhos obtidos nos bares que, nos cabarés, em geral, os homens sentavam-se com a(s) companheira(s) e demoravam-se na bebida, que era vendida pelos proprietários dos estabelecimentos, consubstanciando uma fonte de renda a mais de alto valor agregado. Hoje, essa zona do bairro mudou muito, a maioria são de famílias, contudo ainda funcionam alguns cabarés e atividades de prostituição. Incluindo a vendas de bebidas alcoólicas. O Bar da chica é um desses remanescentes que permanecem até hoje com atividades de prostituição. No passado foram célebres o Zé da Pitú e o bar da Nazaré na Trizidela e o Preto 08 e as três com o bar do Tarrino em Bacabal.
O mufumbo, depois rua dos prazeres, pelas características descritas acima, era um local de risco de vida pela sua alta taxa de homicídios. Por ser uma área de prostituição e divertimento com bebida, após embriagados era comum os trabalhadores entrarem em conflitos uns com os outros e engalfinharem, por isso, ocorriam com frequência as brigas, e nelas o uso de armas brancas ou de fogo, culminando quase sempre com mortes. Na década de 70 ficaram populares jovens hábeis no jogo de briga com faca, entre eles podemos destacar o negro Ribamar Pretinho, célebre jogador de facas, considerado imbatível. Mais tarde, no fim dos anos 70 este mesmo personagem, o negro Ribamar Pretinho, veio a ser morto a tiros pelo caçambeiro de nome Bibi.
Contudo, era naquelas circunstancias, que podemos considerar sub-humanas que as mulheres cafitinas e prostitutas tiravam a sua sobrevivência. Assim, a Trizidela contribuiu e contribui, com o dinheiro gerado na prostituição, para a sobrevivência de seus filhos.
Na Trizidela criou-se também o mito da famosa “muda” do mufumbo. Era uma senhora meretriz que sobrevivia de iniciar os jovens na atividade sexual, ou seja, era uma professora de sexo.  Nas décadas de 70 e 80 dizia-se que os bacabalenses, pais de adolescentes, condiziam os filhos até a Trizidela para que a ilustre professora os inicia-se no sexo.

4  - TRABALHO NO SETOR TERCIÁRIO – FRENTISTAS, ESTIVADORES, ENGRAXADORES, LUBRIFICADORES, CARROCEIROS, ETC.
4.1- ESTIVADORES
Às 6 horas da manhã os estivadores da Trizidela saiam de casa para o trabalho e só retornavam à noite para suas casas, esposas e filhos. A Trizidela utilizou o braço de força econômico que embalou, carregou e descarregou inúmeras carradas de materiais diversos para o comércio de Bacabal. Não obstante, esses mesmos profissionais embarcavam sacos e mais sacos de arroz e de babaçu durante o período áureo do ciclo do babaçu no Maranhão, que tinha em Bacabal um dos seus principais polos de produção. As 17 usinas de pilar arroz exigiam um contingente significativo de arrumadores para descarregar e carregar toda essa produção de arroz. A maioria dos estivadores eram do Bairro Trizidela. Entre muitos deles destaco o Sr Dalici e meu compadre Anísio esposo de comadre Princesa. Eram dois negros estivadores, alto e fortes de dentes brancos e bem acabados.
4.2 - LAVADORES/ENGRAXADORES/LUBRIFICADORES.
Até alguns anos atrás, décadas de 60, 70 e 80 em Bacabal havia poucos veículos. Era comum no cais de Bacabal, sobre o Rio Mearim, servir de principal posto de lavagem de veículos, onde os lavadores de carros, engraxadores e lubrificadores eram jovens e adultos trabalhadores informais da Trizidela. Os engraxadores que faziam ponto no porto Cinorte, no centro de Bacabal, eram da Trizidela, pelo menos dois deles eram meus amigos e vizinhos Sr. Josias irmão do mestre Kid e o Sr. Arlindo sobrinho de D. Deusa.
4.3 - OS CARROCEIROS
Nas décadas de 60, 70, 80 e 90 havia muito profissionais carroceiros em Bacabal, sendo 90% desses carroceiros oriundos do Bairro Trizidela. Entre os muitos carroceiros, havia um cidadão especial que era o Sr. Manoel Flor Monteiro, meu pai. Ele exerceu essa profissão de 1958 data que chegou em Bacabal até 1986 ano que deixa a profissão a passa a ser agricultor. A família teve vários carroceiros, entre eles podemos destacar os Srs. Eugênio, Sebastião, dentre ouros.
5    -  A CULTURA
O mercado da Trizidela foi construído na década de 1970 e ficava no largo de São Raimundo, onde eram realizadas anualmente as quermesses e novenas de são Raimundo. Durante muitos anos, nos anos 60, ali no largo funcionou a "Voz Mearim" de propriedade do locutor Osmar Nolêto. Mais tarde essa voz passou para o domínio da família de Hélio Santos que também foi locutor da voz Mearim por muitos anos. Observa-se que dado à população da Trizidela ocupar baixa posição socioeconômica a Voz Mearim era o único veículo de comunicação, cultura e lazer do bairro, levando informação e, principalmente a música. Nesse período histórico dos anos 60, 70 e parte da década de 80 se destacaram como locutores Osmar Nolêto, Hélio Santos, Banana e Durval, todos na época filhos da Trizidela.
O compositor e músico de maior destaque do Bairro Trizidela sempre foi Lindomar, apelidado de "Massa Bruta", filho do Sr. Faustino Pão Torado, acompanhado do seu parceiro Durval, filho de Dona Nega. Os dois, ano após anos, protagonizaram as principais composições dos sambas enredo do "Salgueiro do Samba", escola da Trizidela. Durval também atuou como mestre de bateria do Sagueiro durante os muitos anos que a escola desfilou. Não obstante, no cenário artístico ficou famoso como um dos maiores interpretes de samba enredo de Bacabal disputando esse pódio com Laurindo da escola "Asas do Samba". Mais tarde é que apareceu o grande talento trizidelense a cantora Zeneide Miranda, principal intérprete do Conjunto "Carlos Miranda Show". Vale ressaltar o esforço do comerciante Domingos Gangá, que com recursos próprios alavancava, por muitos anos a presença do Salgueiro do Samba nas passarelas de Bacabal.
6       - O ESPORTE
Nos anais do futebol bacabalense o América Futebol Clube da Trizidela foi durante vários anos, um dos principais clubes de futebol. Combatido, mais nunca igualado, o América F. C. possuía uma constelação de craques que lhe permitia enfrentar as demais equipes de igual para igual.  Mais a quem chamamos demais equipes?  Várias e excelentes equipes, entre as quais se destacavam o Santos F. C, que era uma equipe orientada e organizada pelo ilustre médico de nossa cidade o Dr. Paula; tínhamos o Botafogo de Bacabal, equipe orientada e organizada pelo ilustre  enfermeiro Zé Correa; tínhamos o Campinense; o Tamandaré, equipe orientada e organizada pelo autônomo  Cambota; tínhamos o Corinthias de Bacabal outra boa equipe; e o Tupã, equipe orientada e organizada pelo ilustre bicheiro Tarrino. Os principais craques da época do clube Santos era o craque Corrô; do Botafogo do Botafogo Kraus; do Campinense Nonato; do Corinthias Melancia; do Tupã Raimundo de Balsas; No América Futebol Club brilhavam sucessivamente o bom goleiro Luminoso, depois José Gangá e depois Lorico; Raimundinho rasteiro, o ponta Arnaldo, Coquinho, Xuxo dentre outros. Só no final dos anos 90 e inicio do milênio é que Bacabal teve o BEC - Bacabal Esporte Club e posteriormente o Americano organizado pelo Sr. Araújo.
Os principais craques do futebol bacabalense de antigamente eram Lambal, que foi jogador do América, Rato, Flaubert, Capijuba, Zé Gangá, Coró, Pirrita, Aroldo, Naná, Emilson, (Barrão) e Paulinho.
Entre os árbitros destacavam-se o lendário arbitro de futebol da Trizidela o sapateiro e também confeccionador e consertador de bolas de futebol Sr Coqueiro. Não menos importante era o outro arbitro de Bacabal chamado de Telê, depois veio Sambô e o Paulinho, dentre outros de renome.
7- A CULTURA E O LAZER
A Escola de Samba da Trizidela era destaque entre as escolas, era denominada de ”Salgueiro do Samba” da Trizidela. Suas principais concorrentes eram o Unidos do Bairro da Areia, O Estrela do Samba, o Carcará de Ouro do Ramal, O Unido do Juçaral, o Asas do Samba, e o Boêmio do Samba.
Nas décadas de 60 e 70 fazia muito sucesso o “Cine Teatro Ideal”, localizado no centro de Bacabal em frente à Cinorte. O cinema era de propriedade da família Séba, entre eles o Alfredo Séba e seu irmão João de Deus. Alguns garotos da Trizidela eram exímios frequentadores do cine ideal. Naquela época, sem muita opção de lazer, eu era fascinado pela sétima arte. Eu e o colega José Freitas Filhos chegávamos a ir quase todos os dias apenas para contemplar os cartazes dos novos filmes de bang-bang e também dos épicos, aqueles que eu mais gostava. Aos domingos, lá estávamos nós trocando e vendendo revistas de Tarzam, Super-homem, Batmam, Fantasma, Robin Hood, entre outras. Após vender e trocar revistas culminava com assistir ao filme. Mais tarde foi fundado o Cine Kenned, do Sr. Leomar, situado a Rua Magalhães de Almeida, onde hoje funciona o Banco do Brasil.
8      – CONCLUSÃO
Embora a Trizidela historicamente seja ignorada pelo poder público municipal, estadual e federal em relação aos serviços de saúde, educação, moradia, saneamento básico e trabalho, a produção de trabalho e renda dos seus moradores, sempre esteve integrada a economia da cidade de Bacabal. Desse modo, as pessoas de nível socioeconômico mais baixo, que são os mais pobres moradores da Trizidela, só desenvolvem as atividades econômicas mais simples, porém não menos importante, para a sobrevivência da população de Bacabal.
As ocupações profissionais mais simples sempre foram os principais serviços prestados pelo povo da trizidela ao povo de Bacabal. Longe do olhar do poder público a Trizidela também, todos os anos, era e é vitimada pelas enchentes do Rio Mearim. Geralmente o exercito brasileiro, quando havia tiro de guerra e às vezes a prefeitura era que socorria o povo, com caminhões, para o translado das bagagens dos moradores. Não obstante, com as enchentes ocorriam também as doenças que castigava, principalmente, as crianças.
É importante ressaltar que no inicio da década de 90 o poder público dispões aos moradores um novo Bairro, o da Trizidela nova. Esse bairro nasceu do desejo das autoridades de transferir todos os moradores para o novo bairro para que ficassem livres do flagelo das enchentes. O que infelizmente as autoridades não constataram antes da proposta de mudança é que os principais recursos para a sobrevivência desse povo é o próprio Rio Mearim. Desse modo é impossível separar aqueles que dependem de um recurso da natureza, no caso o rio, de alguém que dele depende pra viver. Decorrente das condições, muitas vezes insalubres, resulta que na década de 90 uma epidemia de tuberculose que atingiu um elevado número de trizidelenses.
Pra concluir trazemos alguns ilustres moradores: minha mãe que se instalou na Trizidela em 1958 – Dona Elvira e o Sr. Manoel Carroceiro; Sr. Bendito Jorge, esposo de D. Santana; João Tiú; Mestre Kid, Compadre Zezinho; Sr. Virgílio; Sr. Eugênio, Sr. Ivo; Geraldo Vieira, Zequinha Cocal, Sr. Humberto, Domingos Gangá; Faustino Pão Torrado, Zeca Batista; Sr Sérgio, Sr. Ozino. Sr. Marciano, Dona Balbina, Sr Nonatinho, a maioria já falecidos.

Empreendimento ideológicos midiático – destaca-se a Rádio Jainara de Bacabal propriedade do grupo Coelho Dias, conceituado médico de Bacabal. Mais tarde, após sua morte, essa rádio passou a ser coordenada pela sua filha Mônica Coelho. Os dois locutores de destaque eram Osmar Nolêto e Zé do Forro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
SOUSA, Elane Cristina Costa1. ALVES, Maria Esterlian Ferreira da Silva2.

SOUSA, Ana Paula Ribeiro de 3 COLÉGIO NOSSA SENHORA DOS ANJOS
(CONASA): O ENSINO FRANCISCANO NO MUNICÍPIO DE BACABAL - 2002

Prof. Neto. Bacabal e sua História. Dados gerais sobre Bacabal. 2006.

Projeto Crescer. Centro educacional de Niterói. Diagnóstico do Setor Educacional – 1992 

Dicionário da Educação do Campo. / Organizado por Roseli Salete Caldart, Isabel Brasil Pereira, Paulo Alentejano e Gaudêncio Frigotto. – Rio de Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012.

MONTERO, Raimundo Flor. As políticas públicas sociais e o desenvolvimento tecnológico regional do município de Bacabal-MA . São Luís - Maranhão - 2023 (Artigo produzido pelo autor, como pré-requisito para o título de Especialista em Políticas Publicas)

ANEXO I – HINO DE BACABAL
LETRA: Iranise Lemos
MÚSICA: Zezíco Miranda

Entre tantas frondosas palmeiras
E um leito que corre a banhar
Tuas terras, surgiste garrida
          Oh cidade que sabe cantar
          Entoado tom majestoso de avanço para i
Inaltecer aos que emigram e o teu povo
Inato és futuro, és progresso, és viver.
Tens recursos da natureza
Tens cultura e beleza
Tens recursos presentes da natureza
Tens cultura e beleza
Terra luz, céu tão azul que brilha
Refletindo valor colossal que
Espreita com viva esperança
CORO
          Tens recursos da natureza
          Se retratas por vir tão risonho
          Incentivas o homem a dizer
          Bacabal, Bacabal tão querida,
Tua meta é sempre crescer
Tudo em ti é airoso
Es poema, es hino também
Resplandece em tua área a nobreza
Correrás para além muito além
          Oh galante diversas
          Caudeloso é teu rio Mearim
          Babaçu te eleva em paisagens
          Poesia, riqueza és enfim.
Linda aurora o povo canta
Boa terra de encantos mil
Entre norte e nordeste ficaste
Dando marco de amor ao Brasil.

FIM
  

ANEXO II – DESCENDO O MORRO (Samba do Salgueiro da Trizidela - anos 70)
LETRA: Massa Bruta
MÚSICA: Durval

Vou descendo o morro
Com esse samba pra você sambar
O Salgueiro do Samba
Tem capacidade
Pra sambar a batucar
          Segura a marcação
          Segura o tamborim
          Segura o contratempo
          Também o ganzá
Vamos descendo
Para o centro da cidade
Pra mostrar que o Salgueiro
Esse ano é de abafa
          Oi vou descendo o morro!
FIM




ANEXO III – MISERÊ
LETRA: Massa Bruta
MÚSICA: Durval

Pobre não sai do miserê
Pobre não tem o que comer
Ai seu doutor ...
Tem com paixão
Dá ao pobre um pedacinho de pão
Somos todos irmãos.
Pobre não sai do miserê
Pobre não tem o que comer
Ai seu doutor ...
Tem com paixão
Dá ao pobre um pedacinho de pão
Somos todos irmãos.

FIM