terça-feira, 11 de abril de 2017

QUAL É O PERFIL DO TRABALHADOR QUE A INDÚSTRIA QUER?

O TRABALHADOR QUE A INDÚSTRIA QUER
Por Raimundo For Monteiro
Iniciamos as reflexões sobre o tema inspirado no espírito filosófico investigativo de perseguir, através de indagação, a estrutura substancial que envolve a verdade dos fatos implícitos no objeto em foco denominado “o trabalhador que a indústria quer”.
O tema se caracteriza como uma subcategoria pertencente às categorias educação e trabalho. Não obstante, inserido no universo histórico da educação e do trabalho encontra-se a escola, o currículo, o trabalhador, a indústria e todo universo social que os envolve, considerando as vertentes culturais, políticas e religiosa, que são determinantes para o a formação individual de alto teor abstrato com impacto direto no coletivo das pessoas.
No exercício da dúvida procuramos esclarecer as seguintes indagações: Qual o trabalhador que a indústria quer? Alguns atributos das instituições formadoras  e do processo de educação profissional desse trabalhador; Quais elementos da educação profissional devem ser abordadas? 
O desafio de construir o perfil profissional do trabalhador é importante para a comunidade acadêmica e científica, empresários e a sociedade em geral. No que tange o papel que cada instituição deve exercer para que a escola de posse desse currículo possa conduzir a sociedade a crescer e desenvolver-se.
Um perfil profissional adequado para os trabalhadores, em suas diversificadas áreas de atuação, torna-se imprescindível para a economia e para setor produtivo. Sobretudo para que a indústria possa investir no desenvolvimento de produtos e serviços com extrema agilidade, se considerando que as novas demandas que exponencialmente se multiplicam.
Parolin, Oliveira e Zanon, 2006. p. 06 chama de “competitividade sustentável da indústria” a condição de manutenção requerida pela indústria mediante uma educação profissional do trabalhador subsidiada por um perfil profissional que agregue um leque de competências objetivas e subjetivas maleáveis. Essas transformações se dão de acordo com as necessidades históricas da sociedade de consumo.
As empresas industriais requerem das escolas de formação profissional, principais responsáveis pela formação de profissionais para a indústria, através de um currículo que subsidie o formando se forjar as qualidades pessoais e nela a buscar incessante da criação, com iniciativa para formular e equacionar múltiplas saídas individualizadas as quais são consensuadas e viabilizadas como de uma equipe de trabalhadores.
Isso não seria possível sem uma unidade formadora, ou seja, uma escola de formação profissional. As instituições de educação são escolas que tem como fundamento de sua existência o educar para o trabalho. Para tanto, seleciona, desenvolve e aperfeiçoa uma pedagogia de acordo com o seu tempo histórico. No atual contexto em que as relações sociais, culturais e religiosas passam pelo burilamento dos valores ideológicos previamente determinados pela corrente neoliberal, a dinâmica do capital requer uma pedagogia de trabalho escolar com projetos. 
Essa instrumentalização concebida pelas demandas sociais e operacionalizada na escola é estruturada empiricamente pelos professores no âmbito da sala de aula. Essa dinâmica escolar vem ao encontro das demandas que a sociedade pós moderna requer do trabalhadores nesta fase líquida, como quer Bauman (2000). Essas demandas são explicitadas por um conjunto de competências maleáveis e resilientes de acordo com situações e desafios que se apresentam na produção. Uma formação profissional que conduz a uma realidade profissional líquida no seio da empresa.
No inicio do século XX Dewey (1971) já conclamava que e escola se aproriasse da  pedagogia de projetos advertindo que...
“o trabalho com projetos trás uma nova perspectiva para entendermos o processo ensino-aprendizagem”. A pedagogia de projetos visa à re-significação do espaço escolar, transformando em um espaço vivo de interações aberto ao real e as suas múltiplas dimensões. Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos. (p. 207)
Trabalhar com os discentes sob a mediação do docente usando a pedagogia de projetos é situá-los no mundo real sob a perspectiva de desafiar-se, com um fim de fazê-los concentrar energia psíquica e os conhecimentos necessários a solução de problemas existentes nas plantas industriais, isolados ou em conjunto, com vistas a transformar os sistemas de produção e o mundo através da ideação, equacionamento e resolução dos problemas de forma mediada.
Para a consecução dos desafios reais considerando que vivemos sob a doutrina socioeconômica capitalista, a mediação planejada e desenvolvida pelo docente conduz a aprendizagem para o âmbito do universo empresarial, produtivo e gerencial. É no campo da formação profissional para a produção industrial que os discentes sistematizam as soluções desdobrando-as em ações, definindo os objetivos, dimensionando os recursos, as condições, os equipamentos, instrumentos e máquinas e por fim as formas de avaliação dos produtos ou serviços.
Não obstante, isso seria impossível sem um currículo baseado e organizado em competências profissionais amplamente relacionadas e alinhadas com o mundo do trabalho contemporâneo. Aliás este currículo trás no seu ventre a didática capaz de instrumentalizar os discentes quanto aos desafios das transformações impostas pelo alto grau de competitividade empresarial, produtiva, organizacional e gerencial. Todas essas dimensões são transversalmente cortadas e hachuriadas pela ciência e pela tecnologia redundando em uma prática profissional inovadora. A nova formação subsidia o trabalhador a tirar o conhecimento do espaço dogmático e a tratá-lo de modo relativo à medida que as transformações no modo de produção são pressionadas pelo alto grau de competitividade e logo são reinventadas e recriadas pelos trabalhadores. A afirmativa acima justifica o caráter transitório e mutável das competências profissionais, uma vez que altera-se a tecnologia de produção modificam-se as competências. 
Os projetos consideram o contexto social real presente na dimensão econômica, produtiva, cientifica e tecnológica, religiosa e filosófica. É essa concretude que subsidia os alunos a construírem múltiplas saídas através da produção de conhecimento técnico/científicos, considerando o leque de competências socioprofissionais. A construção de um saber que responde as situações problema contextualizando os desafios históricos atuais são criados, inovados e elaborados durante o percurso da aprendizagem.
A especificidade do currículo na escola de educação profissional contemporâneo elimina a tradição historia da concepção tradicional de conhecimentos dogmáticos transmitidos aos alunos. Desse modo o conhecimento passa a agregar e transcender o dogma de um certo atavismo histórico de verdades prontas e acabadas. Quanto ao trabalho docente ideal para propiciar essa formação podemos nos reportar as “Dez Novas Competências para Ensinar”, Philippe Perrenoud, Artmed Editora, 192 p, no qual conceitua “competência como a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para solucionar uma série de situações altamente complexas” e enuncia uma nova dinâmica para o trabalho pedagógico.
Conclusão
Como vimos na sociedade contemporânea, a formação do trabalhador da indústria está relacionada e interconectada com a escola, instituição promotora da formação profissionalizante. A escola, por sua vez, está determinada por um sistema de valores demandados com base no capitalismo industrial. Ou seja, é o sistema produtivo que identifica as competências necessárias a consecução do perfil profissional necessário a formação do trabalhador ideal para imprimir, em ritmo acelerado, a produção e acumulação do capital. Toda essa sistemática de educação profissional está legalmente constituída pelo Estado brasileiro em sua Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, PCNs (parâmetros curriculares nacionais), e seus muitos pareceres e resoluções. A linha de raciocínio exposta segue as ideias de Marx (2001) que implicitamente enuncia que o modo de produção não é o único fator força que, preponderantemente, determina e altera a consciência do ser social e neste caso as questões evidenciadas sobre educação profissional. A formação do trabalhador ideal para a produção se traduz em uma questão de exigibilidade do capital que se dissipa no seio social e se torna condição SI NE QUA NON para a sobrevivência do trabalhador. Essa formação do trabalhador obedece ao desenvolvimento histórico do modo de produção industrial asiático, em seus tempo escravagista, feudal e capitalista específicos de suas fases, que são determinantes e decisivos para a organização social.


BIBLIOGRAFIAS
Parolin, Oliveira e Zanon. Elaboração de projetos inovadores. SENAI- Departamento Regional do Paraná. 2006.

Dewey. John. Experience and Education (1938). Traduzido para o português por Anísio Teixeira sob o título de “Experiência e Educação” (Companhia Editora Nacional, 1971).

Perrenoud. Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar, Artmed Editora, 192 págs.
Lessa e Tonet. Introdução a filosofia de Marx. 2 a edição ed. Expressão popular. São Paulo. 2001.

Bauman. Zymunt. Modernidade líquida. ed. Zahar 2000



Nenhum comentário:

Postar um comentário