terça-feira, 7 de julho de 2015

“A ESCOLA É PARA COLOCAR O ALUNO PARA DENTRO DA SOCIEDADE"

“A Escola é para colocar aluno para dentro da Sociedade”
Marta Gil (*)
Essa afirmação é do Prof. Raimundo Flor Monteiro, do SENAI Maranhão. Menino negro e pobre, morador da cidade de Bacabal, no interior maranhense, era pescador – e dos bons, ele garante. Até que um dia conheceu a Escola SENAI e se encantou com as máquinas. Matriculou-se e foi bom aluno. Ouviu a mãe, analfabeta e observadora, que o instigou: “Tem gente que lê livro e tem gente que é carregador de livro – o que você vai ser?”
Ele leu livros; foi mais longe ainda por adorar pedagogia, sobretudo a freiriana: tornou-se professor e obteve o título de Mestre em Educação pela UFMA.
Foi em meio a formação profissional no SENAI-MA, ante a rejeição de alguns instrutores a alguns alunos que ele viveu a inclusão, no começo sem nem saber o nome  daquilo que fazia, seguindo sua mente e seu coração: observava o aluno, querendo conhecer suas condições de vida, entender seu comportamento, conquistar sua confiança para depois transmitir conhecimentos e valores, respeitando seu modo de ser e de aprender. “O professor reaprende com cada aluno”, afirma.
A vivência do Prof. Raimundo Flor, condensada nesta frase, soa ainda mais significativa no cenário atual, marcado pela discussão sobre a Meta 4 do Plano Nacional de Educação - PNE, objeto de contestação por um grupo de deputados e senadores.
Ao assim fazer, eles desrespeitam e atropelam o Projeto do PNE, aprovado na Conferência Nacional de Educação – CONAE, que foi construído com intensa participação de instâncias locais, estaduais até chegar à esfera nacional. Eles propõem o acréscimo de uma palavra – “preferencialmente” – aparentemente um detalhe, mas que na verdade muda totalmente o conteúdo da referida Meta.
Eles desrespeitam e desvirtuam também o artigo 24 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que trata do direito à Educação Inclusiva. A Convenção foi ratificada em 2008 com equivalência de emenda constitucional e está em vigor; ou seja, deve ser cumprida.
O desrespeito vai além e atinge parte significativa de famílias com filhos com deficiência e que optaram pela escola regular. O Censo Escolar do Ministério da Educação – MEC mostra que entre 1998 e 2010 aumentou de 13% para 69% o percentual de alunos com deficiência matriculados na rede de ensino regular - ou seja, uma decisão explícita e consistente a favor da Educação Inclusiva.
03 de Dezembro é o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Que cada um de nós, individualmente e através de entidades, associações, conselhos faça ouvir sua voz, alto e bom som, a favor da Inclusão!
Saiba mais:
Sobre a Meta 4 do Plano Nacional de Educação e um histórico da inclusão http://www.inclusive.org.br/?p=25438
Chamamento às pessoas com deficiência: Izabel Maior: http://www.inclusive.org.br/?p=25756
Denúncia sobre uso de recursos pela Federação das APAEs - Luiz Nassif
Como a educação inclusiva enfrentou o preconceito e as Apaes
No Paraná, recursos da Apae bancam clubes sociais privados
(*) Marta Gil - consultora na área da Inclusão de Pessoas com Deficiência, socióloga, Coordenadora Executiva do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas, associada à Ashoka Empreendedores Sociais, colunista da Revista Reação e colaboradora do Planeta Educação.
Um dos nomes mais respeitados no meio, essa paulistana, formada em Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, é especialista em comunicação e disseminação da informação na área da deficiência, especialmente em temas como trabalho e educação. A trajetória de Marta Gil junto a pessoas com deficiência começa em 1976, quando foi convidada pela Fundação de Atendimento na Cegueira (FACE) a elaborar uma pesquisa sobre o perfil sociológico das pessoas com deficiências visuais (cegueira e baixa visão) no Brasil, com parceria da Fundação Projeto Rondon e Associação Brasileira de Educação de Deficientes Visuais (ABEDEV). Não havia, na época, nada sistematizado sobre o assunto: a “invisibilidade” dessas pessoas era ainda maior do que hoje. O quadro encontrado foi desolador nos nove estados pesquisados até 1982: pessoas com deficiências visuais não trabalhavam, pouco saíam e nem conheciam o sistema Braille, entre outras dificuldades. 

Observação: Marta Gil escreveu esse pequeno comentário no início de 2013. Só agora, depois de mais de um ano é que resolvi publicar em meu blog. Naquela oportunidade Marta estava em meio a uma lutar de reivindicações de ações inclusivas no PNE.


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