O PORQUÊ DO ATAQUE AO JORNAL CHARLIE
HEBDO, NA FRANÇA? UM EMBATE ENTRE CAPITALISMO X FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO?
Por Raimundo Flor Monteiro.
Resumo.
A
relação entre os teóricos Marx e o capitalismo, Weber e o desencanto do mundo e
o fato em foco: ataque ao Charlie Hebdo. Um pouco do histórico de intolerância
religiosa desde as cruzadas. Breve explicitação do liberalismo, o cartum, a
arte frente ao fundamentalismo radical. A saída pelo campo da educação dos
jovens e adultos.
Os
referenciais acadêmicos ortodoxos exaltam em versos e prosas que na
contemporaneidade a única e real marca das transformações socioeconômicas desse
mundo é o desenvolvimento científico e tecnológico. A sociedade vive o
paradigma da relatividade pós-moderna. Assim, nega acintosamente as evidências
explicitas dos escritos de Marx, reveladoras de uma característica evidente: o
capital é, em sua essência, excludente. Disso resulta uma sociedade de classe
em que a minoritária burguesia mantem-se hegemônica pela manutenção de sua ideologia. O
capital no uso de estratégias de globalização do capital segmentou o mundo em
nações desenvolvidas e subdesenvolvidas e outras, a maioria, em completo atraso
social e econômico. Esse mesmo regime socioeconômico capitalista que com a
queda do pseudo regime socialista soviético, causou a queda do muro de Berlim
levando o capital reinar absoluto no caótico reino da terra.
Marx
foi considerado, pelos intelectuais heterodoxos, obsoleto e suas ideias passam a
existir somente enquanto objeto de adorno das prateleiras residencias e bibliotecas.
Porém,
com o recente fato ocorrido na gazeta do jornal Charlie
Hebdo, na França, que horrorizou o mundo, nos perguntamos: isso é produto de
qual tipo de educação? Que forma de desencantamento é esta?
É
aí que vemos que não há como não ressuscitar Weber. Para ele, nos
tempos modernos, o progresso irrefreável da ciência não cessa de explicar os
fenômenos naturais até então inexplicáveis, solapando assim o sentido totalizante
que a religião procura atribuir, seja ao mundo, seja à vida. Ao refletir sobre
o avanço da racionalização e os limites da razão humana e, portanto, sobre os
limites do fazer
ciência, Max Weber desenvolveu o conceito de ”desencantamento do mundo",
com o qual se procura compreender os rumos tomados pelo desenvolvimento da
economia capitalista e também os paradoxos da atual cultura da racionalidade
técnico-utilitária instrumental.
Ora, pelo menos para mim está claro que Weber identificou o
estopim do conflito atual quando afirmou que, segundo as religiões, o mundo em
que vivemos é transitório, não tem sentido em si mesmo. Somente a referência ao
“outro mundo" é capaz de conferir à existência mundana seu verdadeiro
significado como parte de uma totalidade.
Mas, se não, vejamos, Marx
apenas afirmou que a religião era o ópio do povo. Todavia, ele não previu que o
principal antagonista do capital, predador e excludente, não era o socialismo
trabalhista, mas, sobretudo, o desencantamento do mundo.
Olhemos
para trás vemos conflito religioso, basta ver o legado da história ao longo dos
séculos XI a XIV com a guerra santa, através de tropas ocidentais
enviadas à Palestina para recuperarem a liberdade de acesso dos cristãos à
Jerusalém. As cruzadas para a terra santa foram diligencias que duraram 400 anos mantiveram
o domínio dos turcos seljúcidas sobre a região considerada
sagrada para os cristãos, passando a impedir ferozmente a peregrinação dos
europeus, através da captura e do assassinato de muitos peregrinos que
visitavam o local unicamente pela fé.
E
o 11 de setembro? Eu estava no trabalho na Br 135, no Km 05, em São Luís-MA, quando
as 12h liguei o rádio de bolso para ouvir o noticiário e fiquei estupefato com
o massacre de humanos nas torres gêmeas. Portanto, faz 13 anos que outro fato terrorista
extraordinário não surpreendia o mundo, até o caso do jornal Charlie Hebdo na
semana passada, na Fraça.
O
radicalismo
em sociologia diz respeito ao exercício de uma doutrina favorável a mudanças culturais e sociais que
interessem a aspectos fundamentais da estrutura social existente. Essa
mudança cultural e social diz respeito a
manutenção do maometismo, ou seja, a religião fundada por Maomé
(570-652), sinônimo de islamismo e de muçulmanismo. Esse excessivo preciosismo de zelo religioso faz parte
de seus adeptos, os mais radicais, ganharem o adjetivo “fanático” que nada mais é que a adesão cega à doutrina ou sistema Islã.
O
fundamentalismo islâmico sai das fronteiras da religião e ganha status político
se organizando politicamente enquanto unidade de estado e do terror em
um sistema governamental
que impõe, por meio da força, os processos administrativos sem respeito aos
direitos e às regalias dos cidadãos. E o
pior, planejando e executando atos de
violência contra um indivíduo ou uma sociedade letrada, e de certo modo,
indefesa.
Mas, o que tem a França a
ver com isso? Volto ao fim da década de 70, em Bacabal, quando no Colégio de NSª dos Anjos,
Frei Solano nos colocava que em 1789, com a tomada da bastilha, o liberalismo se
consolidou como um
conjunto de teorias e princípios liberais que preconiza a liberdade política e
uma consciência emancipada, em oposição à autoridade do Estado ou da Igreja e
qualquer forma de alienação. Portanto, guardião da liberdade, igualdade,
democracia, a propriedade e justiça enquanto direitos inalienáveis.
O direito a liberdade de expressão, historicamente, sempre foi um legado que
a França deu ao mundo, ou seja, a livre manifestação da expressão falada, escrita e artística, por ser livre e, às vezes desdenhar da crença alheia, hoje paga um preço muito alto, pois a vida é muito preciosa. Marx previu o esgotamento do sistema capitalista e ascensão do socialismo, mas jamais pensou que o ópio do povo, a religião, chegasse a ameaçar a hegemonia do capital.
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