terça-feira, 7 de janeiro de 2025

O DESENCANTO DO MUNDO EM WEBER E A ASCENSÃO DA EXTREMA DIREITA

                                                                                                                                  P/RFMonteiro.

         Na obra de Max Weber (1864-1920) endossada em Costa (2005), se pode interpretar e depreender "o desencantamento do mundo" como um conceito central da modernidade. "Weber considera dois momentos do desencantamento do mundo: o desencantamento da religião (que sufocou a magia) e o desencantamento provocado pela ciência (que por sua vez sufocou a religião)".

A primeira significa um mundo onde a “desmagificação” fez acontecer a perda de sentido, da graça e do encanto do mundo; o segundo momento se dá por um processo de intelectualização, certificação da burocratização formal ao qual estamos submetidos nos últimos séculos. A razão instrumental adicionada aos meios técnicos, suplantaram a mística da magia e esta da religião que habitava, desde os primórdios, o nosso inconsciente coletivo. Fomos bombardeados e desencantados com tamanha força pela burocratização, fruto da racionalidade cientifica e pela desmistificação do sagrado que muitos perdem a graça de viver.

Pelo exposto, com base em Pierre Levy (2000) e Manuel Castell (1999), podemos conjecturar que hoje, por decorrência da globalização e consolidação da era digital, o desencantamento veio mais forte sobre nós a medida que como Pierre Levy previa um encantamento oriundo do acesso ao conhecimento pelas massas, no conceito de "inteligência coletiva" e "cibercultura" hoje vigente pelas redes sociais digitais, que disponibilizaria e promoveria o conhecimento para todas classes sociais com enorme crescimento da fértil idealização do novo mundo embalado pelo "saber" e pelo "conhecimento", gerido que seria pelo otimismo e admiração dos sonhos de pôr em pratica as douradas utopias humanísticas, não aconteceu.

Que encanto, pura quimera de Levy e de Castell. O que surgiu das TICs foi mais um novo e arrebatador fator de desencantamento muito mais cruel. Neste contexto, foi gerado no interior das redes sociais, por criação ilegal desregulamentada de fake news, inspiradas e nascidas do seio da direita extremista emprenhada pelo ódio, extremismo, negacionismo e da completa oposição ao humanismo e até a qualquer ato fértil que vá ao encontro de solidariedade humana, comum ao processo civilizatório humanizado. Um completo desencanto provocado pelo resgate do fascismo, neonazismo e do autoritarismo, nos desanimando e nos desencantando, nos deixando boquiabertos e abatidos diante da dura e cruel realidade que nos faz pessimistas, desiludidos e descrentes no futuro. Uma lástima. A violência simbólica ganha dimensões antes só vista no fascismo e no nazismo. Não há mais dúvidas, estamos em processo de regressão de conquistas civilizatórias a muito consagradas, como por exemplo: mãe que se abstém de vacinar os filhos; alteração de leis pelo congresso nacional que retiram a sociologia e a filosofia do currículo escolar da educação básica; negação da ciência; falta de solidariedade humana no que tange a perdas de vidas humanas; negação do estado de direito e dos direitos humanos; negação da história diante das próprias vitimas; negação da arte e da cultura, etc.

Nos meus 6.8 anos, passei a ver diariamente tantas incompreensões, intolerâncias e discriminações etnocêntricas locais e regionais, propagadas com um rancor e ódio assustador.


REFERÊNCIAS:
Weber, Marx. Sobre algumas categorias da sociologia compreensiva" (Artigo1910).

Weber, Marx. A ética protestante e o espírito do capitalismo" (1920).

Costa, Maria Cristina Cartilho. Sociologia - Introdução a ciência da sociedade. 3ed, SP - Moderna, 2005

ManueI Castells. A sociedade em rede traduzido: Roneide Vemncio/atualizado para 6a edição: Jussara Simõess. São Paulo: Paz e Terra,1999.

Bembem, Angela Halen Claro. Inteligência coletiva: um olhar sobre a produção de Pierre Lévy. Perspectivas em Ciência da Informação, v.18, n.4, p.139-151, out./dez. 2013

LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2003.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

A IMPORTÂNCIA DO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA PARA O BRASIL

 

A IMPORTÂNCIA DO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA PARA O BRASIL


Raimundo Flor Monteiro[1]

SUMÁRIO

Procuramos descrever em formato de narrativa histórica, com riqueza de detalhes, os principais antecedentes históricos mais significativos que geraram no seio social e no dia-a-dia a consciência negra no Brasil. A história não se faz sem protagonistas, por isso, procuramos identificar quais são os nossos principais protagonistas que atuaram ao longo da história do Brasil. Não obstante, a luz da realidade social dos autores selecionados, investigamos quais são as dificuldades que se apresentam na nossa realidade atual, bem como a realidade futura de todos nós negros do Brasil e como resolver os problemas que se apresentam a nós.

Palavras Chave: negro, vanguardistas negros, o problema do negro, lutas a enfrentar

SUMMARY

We seek to describe in the format of a historical narrative, with a wealth of historical details, the main and most significant historical antecedents that generated black consciousness in Brazil in society and on a daily basis. History is not made without protagonists, therefore, we seek to identify our main protagonists who have acted throughout the history of Brazil. However, in the light of the social reality of the selected authors, we investigated what difficulties arise in our current reality, as well as our future reality for all of us, black people in Brazil, and how to solve the problems that present themselves to us.

Keywords: black, black avant-gardists, the black problem, struggles to face

INTRODUÇÃO

A sociologia antropológica inclui em seu ramo de estudo as etnias. Atualmente questões como a a importância do negro para o Brasil vem ganhando importância no debate social, político, econômico e educacional. Pela reflexão que o dia da consciência negra deve nos trazer, procuramos, em formato de narrativa histórica, óbvio, nos esforçando para incluir riqueza de detalhes, trazemos o nome dos principais destaques de nossos antecedentes históricos, responsáveis sobretudo, pela geração nacional do dia da consciência negra no Brasil. Elencamos o nome desses heróis os quais são os verdadeiros protagonistas de vanguarda das lutas por direitos humanos, processadas ao longo da história do Brasil. Não obstante, procuramos identificar quais são as restrições camufladas que a sociedade traz em seu seio que se converte em dificuldades e se apresentam na realidade atual e futura dos negros no Brasil e, especialmente, na conclusão elencamos as medidas de como resolvê-las.

Nosso objetivo é mobilizar a atenção da sociedade, para reflexão sobre o problema a que passam os negros no Brasil. A exemplo do despertar rememoro 1993, quando no UEMA/CESB fomos desafiados a, em sociologia geral, procurar as raízes de nossa ancestralidade. Foi quando pela primeira vez me perguntei quem sou eu? De onde eu venho? E para onde vou? A medida que mergulhava no saber me enternecia com as descobertas. A que mais me emocionou foi a de que, não há como negar, sou verdadeiramente um banto, senão sou um sudanês, ou mesmo pertenço aos malês.

      Naquela época, pré era digital, tivemos que nos internar por quase uma semana na pequena biblioteca da UEMA para identificar os autores[2], ler a obra e escrever os textos síntese inerente ao problema do negro no Brasil.

Assim, a metodologia se configura como uma pesquisa bibliográfica onde procuramos identificar as obras, dividir o material aos membros do grupo, após, reunião de apresentação e debate, dividimos os temas, para que cada um pudesse produzir os textos sobre sua responsabilidade. Tivemos o cuidado em nos esforçar para produzir um texto pautado no caráter qualitativo, aliado nossa experiência de classe da base da pirâmide social. Em meu caso um ribeirinho das margens do Rio Mearim, um dos primeiros da família a conseguir um emprego fixo em uma empresa.

A realidade social, política, econômica e educacional atual, que marca o fato do resgate do pensamento de extrema direita radical fascista e neonazista, serve de justificativa para a produção desse trabalho de pesquisa. No mundo e não só no Brasil, o negro permanece historicamente discriminado e fora do foco de das políticas públicas. Daí o nosso desejo de acordar as pessoas para essa realidade que, apresenta-se camuflada pela contra ideologia branca, e acredita que “o negro é mesmo um preguiçoso” possa mudar.

2 BREVE HISTÓRICO DA ESCRAVIZAÇÃO E O CALVÁRIO DO NEGRO NO BRASIL

A história de como chegamos ao “Dia da Consciência Negra”, finalmente celebrado em 20 de novembro, considerado como feriado nacional somente a partir de 2024, tem sua origem nos primórdios da escravidão no Brasil, época em que já se revelavam às resistências que se seguiam por séculos e séculos de violência e cruel opressão. O estarte inicial se dá com o manejo de pessoas de um continente para outro resultando na chegada dos primeiros africanos escravizados trazidos acorrentados nos porões dos navios negreiros. Já no século XVI, o Brasil se ergue economicamente sobre a exploração de homens e mulheres negros trazidos à força do continente africano. Para se ter uma ideia foram mais de 4 milhões de africanos que foram desembarcados a força em terras brasileiras, para serem vendidos e utilizados como mão de obra gratuita em trabalho forçado, sem direito a nada. Este país, a colônia, a serviço da metrópole portuguesa, entrou para a história como o maior fluxo transatlântico de pessoas escravizadas na história.

Por um longo e sofrido período de mais de 300 anos, nós, os africanos, nossos ancestrais e seus descendentes, fomos o mais significativo e importante pilar da economia colonial, sem nenhum reconhecimento histórico, já que até hoje, uma parcela significativa da população brasileira não reconhece o sacrifício do negro advinda de sua violenta e cruel exploração. Durante esse período que eu chamo de "calvário do negro no Brasil", que infelizmente se perpetua até hoje, sofremos a desumanização, produzida pela violência e negação de nossa cultura e as nossas raízes que constituem a nossa identidade. Nem por isso, deixamos de arrefecer, a resistência foi constante advinda da vontade inabalável de ser livre. A obstinação por deixar os castigos impostos na casa grande formaram centenas de Quilombos em todo o Brasil. Um dos mais historicamente citados foi o "Quilombo de Palmares", liderado por personagens como Zumbi, que veio a se tornar o símbolo maior da luta pela liberdade. Zumbi dos Palmares, tornou-se um ícone da resistência negra e é celebrado como herói nacional, morto que foi em 20 de novembro de 1695.

O sonho de igualdade trazido pela abolição da escravidão em 1888, através da Lei Áurea, infelizmente não trouxe igualdade. Como deixa transparecer em seus textos a grande escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), o negro foi lançado nu, num mundo inóspito do capital, em meio a escabrosa e violenta procura do lucro para sobreviver, uma vez que não enchia mais os bolsos do patrão colonizador.

Os ex-escravizados sem trabalho e isento de qualquer forma alternativa de como viver foram lançados à margem da sociedade excluídos do sistema social, sem terra, sem educação ou direitos políticos. A ausência permanente, ao longo dos anos, de falta de políticas de reparação sedimentou e contribuiu para a solidificação de um abismo social que subsiste e se propaga infelizmente até os dias atuais. A indigência a que foi levado marca a invisibilidade que criou e reforça o preconceito estrutural enquanto herança maldita do período escravista, cujos resquícios, perpetuaram até hoje na propagada desigualdade social.

3 OS PRINCIPAIS PROTAGONISTAS DA LUTA DO NEGRO AO LONGO DA HISTÓRIA

Não teríamos avançado no campo dos direitos sociais sem a preciosa colaboração dos ícones, ou seja, daqueles que protagonizaram a resistência e, para muitos, apesar das consequências trágicas, estiveram na vanguarda, atuando como líder de uma causa honrosa. Assim, a exemplo de homens como Martin Luther King nos EUA, Nelson Mandela na África do Sul ou Mahatma Gandi na índia, no Brasil a luta contra a desigualdade racial no Brasil é marcada por agentes históricos de infinita grandeza, que são protagonistas que desafiaram as estruturas sociais racistas, discriminadoras que ainda aviltam a grandeza dos negros:

Um dos maiores expoentes que de fato representou e representa a resistência quilombola até hoje, é sem dúvidas Zumbi dos Palmares como era chamado. Ele simboliza a honra de lutar pelos ideais de liberdade, justiça e autonomia dos negros no Brasil colonial. Conforme Martins (2019), Em 20 de novembro de 1695, Zumbi dos Palmares, liderança negra que lutou contra a escravidão, foi assassinado durante conflito entre colonos e quilombolas, na região hoje conhecida como Serra da Barriga, em Alagoas.

Não obstante, Dandara dos Palmares a companheira do guerreiro Zumbi e líder da vanguarda no Quilombo dos Palmares, carreou e representou a espetacular força das mulheres negras na resistência.

Luís Gama marcou a história, foi escravizado pelo próprio pai, contudo, considerado fora da média, em chegar no Rio de Janeiro tornou-se um importante intelectual negro. Atuou ainda como um eloquente jornalista e como rábula. Foi um exímio defensor radical da abolição do trabalho escravo. Atuou como advogado autodidata e chegou a libertar centenas de escravizados no século XIX.

Abdias Nascimento foi um célebre ativista, escritor, dramaturgo, pintor, escritor, professor, político tendo atuado como deputado e senador da República. Em 1944, Abdias criou o Teatro Experimental do Negro. Na época, uma iniciativa totalmente insólita que tentava promover a inclusão de atores, diretores e autores negros. Destacou-se como um dos principais defensores da valorização da cultura afro-brasileira.

Lélia Gonzalez (1935-1994), intelectual e ativista nascida em Minas Gerais e radicada no Rio de Janeiro onde viveu a maior parte de sua vida. Destacou-se como uma das principais vozes a se levantar no âmbito da discussão sobre a questão racial. Teve o mérito de denunciar, com rara perspicácia e objetividade, a situação da população negra no Brasil. Ela foi pioneira na abordagem interseccional de raça e gênero no Brasil.

A militante política do Psol Marielle Franco foi assassinada em 2018 no cumprimento do seu mandato de vereadora do RJ. Sua militância articulava ideias que hoje não pode faltar no léxico político, como representatividade, interseccionalidade, luta antirracista e contra todas as formas de opressão. Pelos seus ideais revolucionários, tornou-se um símbolo da luta contemporânea contra o racismo e a violência institucional.

4 A REALIDADE ATUAL E FUTURA DO NEGRO NO BRASIL

Martins (2019), registra o fato do Brasil ter sido a última nação a abolir a escravidão na América Latina, e mesmo ela tendo ocorrido de maneira formal em 13 de maio de 1888, a luta por liberdade e pelos direitos mínimos sempre fizeram parte da população negra. Não se pode negar os avanços e as conquistas, porém, apesar delas, como a inserção de políticas afirmativas e a percepção social crescente e até a valorização da cultura afro-brasileira, os desafios no enfrentamento nas lutas da população negra por valorização, reconhecimento e cidadania permanecem em estágio de um desejar profundo. No campo das batalhas por reconhecimento e a cidadania estão entre as principais bandeiras, e também a expressiva necessidade de reconhecimentos, entre as conquistas futuras das bandeiras estão os entraves os quais destacam-se:

“A desigualdade social no Brasil” é a diferença entre as classes sociais. É um legado do período colonial, que se deve à influência ibérica, à escravidão e aos padrões de posses latifundiárias, que pouco se alterou no Brasil. Aspectos como "racismo estrutural", discriminação de gênero, alta tributação de impostos e o desequilíbrio da estrutura social só agravam a desigualdade brasileira. Uma realidade que não exclui os negros da caracterizada má distribuição de renda, falta de acesso a serviços públicos e oportunidades peculiares da seletividade capitalista, e estupenda concentração de riqueza nas mãos das elites. A desigualdade econômica é peculiar entre os negros e os índios em relação a minoria branca, uma vez os negros inda constituem a maioria entre os pobres desempregados e subempregados no Brasil. 

Também “o racismo estrutural” constitui um violento entrave que se manifesta na discriminação nas oportunidades e ascensão de trabalho, no acesso à educação, no atendimento incipiente de saúde e moradia. 

O entrave mais cruel, todavia, se dá através da “violência policial” contra a vida de jovens e adultos negros enquanto principais vítimas de homicídios e abordagens violentas. Vítimas da pobreza e da miséria os jovens negros adoecem físico e espiritualmente ao procurarem erroneamente o refúgio na dependência química e no álcool. Viciados eles perdem a saúde metal, uma vez que o estado não lhes possibilita nenhum tratamento. Eles são tidos pelos aparelhos de reclusão do Estado não como doentes, mais como marginais de alta periculosidade, e assim são exterminados compulsivamente pelas polícias.

A falta de ativismo político tem levado os negros a uma sub-representação política. É tímida, insatisfatória e limitada a “presença de negros em espaços de poder e decisão”, tais como incipiente militância sindical, participação em clubes de mães, associação de moradores e inserção política na instância municipal (prefeito e vereador), instância estadual (deputado estadual e governador) e na instância federal (deputado federal, senador, presidente). Os negros têm também participação incipiente nas instâncias do executivo estadual e federal, além do próprio judiciário estadual e federal e no poder judiciário.

5 OS CAMINHOS PARA O EQUACIONAMENTO E A SOLUÇÃO DO PROBLEMA DO NEGRO NO BRASIL

Os problemas de inclusão do negro enquanto ser social na sociedade brasileira, depende de conscientização da sociedade e de vontade política dos governantes. A superação dessas desigualdades requer uma profícua abordagem sistêmica e de longo prazo. Para caminharmos rumo a uma sociedade humanizada se faz necessário a inclusão de vários vetores força que atuem permanentemente no curto, médio e longo prazo sobre a vivencia cotidiana da sociedade, com vista a transformar pela conscientização. Não se pode atacar efetivamente um problema sem recorre ao conceito de intelectual orgânico de A. Gramsci. Daí é preciso:

a) Fortalecer a educação para que ela se torne uma “educação antirracista”. Capacitar professores, reformular os currículos e neles permitir a inserção da história e a cultura afro-brasileira e formar cidadãos que sobretudo entendam o sistema capitalista vigente, e nele possa, através da educação, formar cidadãos conscientes das desigualdades e aptos e capazes de, juntos em comunidades, atenuá-las, mudá-las e transformá-las.

b) Consignar o fortalecimento das políticas afirmativas, que resultem em ampliação quantitativa e qualitativa da inserção do negros. Isto só se torna possível com a expansão das cotas raciais e promoção de ofertas de formação que ampliem a capacidade de identificar e explorar os recursos naturais e concomitantemente canalizar os investimentos públicos na abertura e pavimentação dos serviços e da produção ao mercado de trabalho conforme potenciais inerentes à região.

c) A exploração da metrópole sobre a colônia, carreada pelos senhores de engenho sobre os escravos os verdadeiros proprietários dos meios de produção sobre os trabalhadores, denota o imperativo categórico de Kant, aplicados a necessidade de consistentes “reparações históricas” em vários âmbitos da vida social dos negros. Faz-se necessidade a imediata implementação de políticas de redistribuição de renda, de reforma agrária com acesso à terra, aos conhecimentos científicos e tecnológicos, a recursos financeiros para investimento em tecnologias, uma política de habitação e crédito para comunidades negras.

d) Subsídios concretos para o combate ao racismo institucional. A implantação projetada e ampliada para treinamentos antirracista nos órgãos públicos e instancias sociais e punição severa a atos de assédio, discriminação e violência contra os negros e negras.

e) Dar luz ao "ativismo político" enquanto prática social de poder e inserção dos negros e negras nas atividades de representação política e de poder. Conjecturar, arquitetar e incentivar a eleição de lideranças negras além de ampliar quantitativamente e qualitativamente a sua presença em espaços decisórios de poder com a força das lideranças capazes, tais como afirmam Silva (2003), Nascimento (1968), Martins (2019) Freyre (2006) entre outros intelectuais.

6 CONCLUSÃO

Hoje dia 20/11/2024 feriado nacional em que celebramos o “Dia da Consciência Negra” nos chama para um magistral momento de reflexão, sobre as lutas que transcenderam essa data. Sobretudo, essa reflexão tende a se assentar em três momentos: Quem somos e de onde viemos? Onde estamos atualmente e o que conquistamos? E finalmente, o que precisamos fazer para chegar onde queremos?

Essa proposta de chamado para que o Brasil enfrente as suas feridas do passado e assim possa construa um futuro verdadeiramente igualitário, onde todos tenham acesso às mesmas oportunidades, independentemente da cor da pele, não vira pelas asas da gratidão e do reconhecimento gratuito. Virar sim pelo conhecimento a ser conquistado na luta árdua, plena, honrada e persistente dos negros e negras com os canhões, pistolas e metralhadoras e demais artefatos bélicos presentes no campo da linguística simbólica. Essa jornada é longa, mas com o poder da palavra (artilharia) no ativismo da luta dos contrários, o contraditório, torna-se essencial para a realização do ideal de justiça social no país seja, a mais dia ou menos dia conquistado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Magda. Como escrever teses e monografias: um roteiro passo a passo - Rio de janeiro; Elservier, 2007 – 2ª reimpressão.

MASCARENHAS, Sidnei Augusto. Metodologia Científica – São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012. 

TACHIZAWA, Takeshy. Como fazer monografia na prática. Gildázio Mendes -12 edição ´Rio de janeiro. FGV, 2006

SANTOS, M. Ser negro no Brasil hoje: Ética enviesada da sociedade branca desvia enfrentamento do problema negro. Folha de São Paulo, São Paulo, domingo, 07 de maio de 2000. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs0705200007.htm

SANTOS, Milton. As exclusões da globalização: pobres e negros. Thoth, Brasília, n. 4, p. 147-160, 1998. Disponível: https://ipeafro.org.br/acervo-digital/leituras/obras-de-abdias/revista-thoth/

SILVA, Maria Aparecida Pinto, A voz da raça: uma expressão negra no Brasil que queria ser branco, São Paulo, Tese de Doutorado, PUC, 2003;

NASCIMENTO, Abdias do, "Teatro negro no Brasil. Uma experiência sócio-racial"Revista Civilização Brasileira, Caderno Especial, n. 2, Rio de Janeiro, 1968, p. 193-211.

MARTINS, Bárbara (2019). Entenda a importância do Dia da Consciência Negra. https://sinted.org.br/entenda-a-importancia-do-dia-da-consciencia-negra/ Produzido em 20/11/2019 

SILVA, Martiniano J. Racismo à brasileira: raízes históricas. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995.

FREYRE, G. (2006). Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal (51a ed.). São Paulo: Global.      

GUIMARÃES, A. S. A. (1999). Racismo e anti-racismo no Brasil. São Paulo: Editora 34.      

LANE, S. T. M. (1995). Usos e abusos do conceito de representação Social. In M. J. P.

SPINK (Org.). O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social (pp. 58-72). São Paulo: Brasiliense.   

LIMA, M. E. O., & Vala, J. (2004). As novas formas de expressão do preconceito e do racismoEstudos de Psicologia, 9(3), 401-412.

MUNANGA, K. (2004). Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica.      

NOGUEIRA, O. (1985). Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais. São Paulo: T.A. Queiroz Editor.         

PINSKY, J. (2000). A escravidão no Brasil (17a ed. rev. e ampl.). São Paulo: Contexto.         

QUEIROZ, D. M. (2004). Universidade e desigualdade: brancos e negros no ensino superiorBrasília, DF: Líber Livro.         

SANTOS, G. (2009). Relações raciais e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro.

SCHWARCZ, L. M. (1993). O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930. São Paulo: Companhia da Letras.         

TELLES, E. E. (2003). Racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociológica. Rio de Janeiro: Relume-Dumará.


[1]Pedagogo (UEMA). Mestre em Educação (UFMA. Especialista em Gestão de Recursos Humanos (UCAM). Licenciado em Mecânica (IFMA). Foi Instrutor de Ajustagem Mecânica e Tornearia no SENAI-MA, período de 1976 a 1989. Foi Coordenador pedagógico do SENAI-MA, no período de 1980 a 2006. Ocupou no SENAI-MA, o Cargo de Gerente de Educação no período de 2007 a 2010. Foi membro do Comitê Técnico Nacional do SENAI/DN. Ocupou o cargo de Assessor Técnico do SENAI-MA no período de 2011 a 2016.

[2] Autores de destaque nacional: Carolina Maria de Jesus (1914-1977) Considerada por muitos a maior escritora negra do país, foi precursora da literatura periférica e a primeira a contar a sua experiência na favela. Quarto de despejo é um dos seus principais livros; Conceição Evaristo (1946-presente) Autora que faz parte dos Cadernos Negros; Maria Firmina dos Reis. A primeira romancista negra da América Latina e a primeira autora mulher abolicionista da língua portuguesa; Luiz Gama. Um dos poucos autores negros lembrados. Lima Barreto. (1881-1922) Autor que difundiu produções enredadas por aspectos raciais e sociais; Antonieta de Barros (1901-1952) Autora que difundiu produções enredadas por aspectos raciais e sociais; Solano Trindade (1908-1974) Autor que difundiu produções enredadas por aspectos raciais e sociais; Oswaldo de Camargo (1936) Autor que faz parte dos Cadernos Negros; Geni Guimarães; (1947) Autora que faz parte dos Cadernos Negros; Cuti (1951) Autor que faz parte dos Cadernos Negros; Miriam Alves (1952) Autora que faz parte dos Cadernos Negros; Esmeralda Ribeiro (1958) Autora que faz parte dos Cadernos Negros.

sábado, 7 de março de 2020

103 ANOS DE BACABAL, PARABÉNS!

103 ANOS DE BACABAL, PARABÉNS!
Por: Raimundo Flor Monteiro

      Marco situacional de Bacabal
   A cidade de Bacabal é um município situado na macrorregião do Leste Maranhense com área estimada em 1.609 km2. Após passar por vários desmembramentos históricos nos últimos anos a cidade passou a limita-se com os municípios de Vitória do Mearim, Lago Verde, São Luís Gonzaga, Lago do Junco, Coroatá, São Mateus do Maranhão, Olho D’Água da Cunhãs e Pio XII. 
      Situação climática
    O clima é quente, úmido, com temperaturas quase constantes com máximas de 35° e mínimas de 30°C. O período normal de chuvas prolonga-se de janeiro a junho. 
     Posição geográfica
   É na mesorregião do leste maranhense e na microrregião do Médio Mearim que o município de Bacabal está situado. Seu território está quase todo localizado na área denominada “Superfície Maranhense de Testemunhos”, com o relevo correspondendo a uma superfície modelada em rochas cretáceas com alguns testemunhos tabulares. Detentor de uma área de 1.444  quilometro quadrados, a sede municipal localiza-se nas coordenadas geográficas de 4 graus, 14 minutos e 12 segundos de latitude sul e longitude de 44 graus, 43 minutos e 50 segundos a oeste de meridiano de Greenwich a uma altitude de 38 metros. A cobertura vegetal primitiva predominante era do tipo floresta estacional perenifólios com babaçu e campo brejoso. 
     O topônimo "Bacabal"
   Originou-se da extensa vegetação que cobria abundantemente sua extensão de terras. Ou seja, de plantas denominadas de "bacabeiras" – uma espécie de palmeira - existentes na localidade, quando de sua fundação em uma dinâmica Vila. Hoje, a palmeira que deu o nome à cidade está praticamente extinta devido ao extrativismo, enquanto os campos foram tomados pela rizicultura. Entre os principais acidentes geográficos, o principal é o "Rio Mearim" que, atingindo o município pela parte sul na localidade de lugar Vila Velha, alcançando o norte em Lage do Curral, prosseguindo até o limite com Vitória do Mearim. 
    O Rio Mearim, em função das estradas federais e estaduais, perdeu a condição de prioritário quanto a navegação. Contudo, ainda preserva a condição de navegável e bastante piscoso. Ele foi, até o advento das rodovias, o único veículo natural de comunicação do município. Não obstante, há também o igarapé Ipixuna, piscoso, que penetra na parte sul do Município, atravessa a rodovia BR-316 e deságua no Mearim, com o nome de Ipixuna Açu. Quanto ao limites, a cidade tem Olho D'água das Cunhãs, Lago Verde e São Mateus ao Norte; Ao Sul São Luís Gonzaga; Ao Oeste Bom Lugar; A Leste São Mateus e Alto Alegre.
    Situação Demográfica
  Bacabal, até a década de 1970, apresentou extraordinário surto demográfico especialmente nas décadas de 1950 e 1960. Em 1950, segundo o recenseamento, a população do município era de 54.949 habitantes. De acordo com o censo de 2000, a população se compunha de 91.823 pessoas habitantes, sendo 44.052 homens e 47.771 mulheres. Deste total de habitantes, 71.408 residem na zona urbana e 20.415 na zona rural. Em 2002, a população estimada de Bacabal era de 93.263 habitantes, apresentava densidade demográfica de 63.74 habitantes por quilometro quadrados, com uma taxa de crescimento de 0,52 por cento ao ano. 
    A descoberta da cidade
   Em 1613 inicia-se a história da ocupação da hoje denominada região do Médio Mearim e tem início ainda ao tempo da Invasão Francesa (1612-1615) quando Daniel de LaTouche, senhor de LaRaverdiére. Em 1613, mandou ao Rio Mearim, em expedição de reconhecimento, quarenta franceses para buscar os índios Tabajaras que estavam a duzentas léguas da Ilha de São Luís. Daniel de LaTouche autorizou ainda mais quatro viagens às cabeceiras desse Rio Mearim. Nessas incursões consegue trazer para a Ilha de Upaon-Açú os aguerridos índios Tupinambás.
    Dos primórdios da fundação de Bacabal
   Data de 1750, por ordem do Rei de Portugal, o Governador Francisco Pedro de Mendonça Gurjão (1751-1757) organizou expedições exploratórias às cabeceiras do rio Mearim. Estas expedições foram acompanhadas por padres jesuítas. Já no Século XIX e no início século XX, a nação Timbira, que habitava as campinas do sul do Maranhão teve seu território invadido por sertanejos nordestinos que, com seus rebanhos bovinos, apossaram-se das áreas de pastagem nativas de frente interior apropriadas para a criação de gado. Diante da expropriação de seus territórios os índios passaram a viver sem lugar fixo, mas onde quer que se instalavam, logo seus perseguidores vinham em seu encalço. 
  Os Timbiras expropriados de suas terras, passaram a trazer insegurança e transtorno para os colonizadores que aqui já se encontravam vivendo da lavoura do algodão, milho, arroz, mandioca e mamona, em terras que antes, eram suas. 
    O historiador Neto (1980), relata que a história de Bacabal inicia-se no século XIX, antes de 1830, com a "instalação de uma colônia indígena chamada "Colônia Leopoldina" que mais tarde se tornaria uma próspera fazenda agrícola de produção". Os nativos da região, os que habitavam nos povoados Boa Vista da Tábua e Aldeia do índio, não deixaram de esboçar resistência. 
      Nasce o povoado de Bacabal
    Em 1839 instala-se às margens do Mearim o Senhor José Machado, iniciando-se um povoado que seria conhecido como “Localidade Machado”, depois “Vila Velha”, hoje, São Luís Gonzaga. Entre uma e outra denominação, chamou-se “Ipixuna”. João Machado foi quem fundou o primeiro porto de navegação da cidade, denominado popularmente de “Porto do Machado”. Esse ano é dado como o da fundação da Freguesia (hoje) de São Luís Gonzaga, da qual o povoado de Bacabal fazia parte, segundo distrito Policial. Neste ano, pela Lei no. 85, de 02 de julho, o Governador Manoel Felisberto de Sousa e Melo criou três “Missões” ou aldeias indígenas. Existiam bem próximo à Vila Velha do Machado, algumas tribos indígenas: Carauzés, Pobeges, e Timbiras, e uma colônia de silvícolas - a Colônia Leopoldina – situado no povoado Matão, próximo à paragem Bacabal.
     Nasce a Vila de Bacabal
   1854: o presidente da Província, Eduardo Olímpio Machado, delibera sobre a situação dos índios Timbiras que deixavam as cabeceiras dos rios Mearim e Grajaú e se arriscavam nas fazendas localizadas nas margens desses rios. Nomeia para diretor da Colônia Leopoldina uma pessoa de sua inteira confiança que era o subdelegado do distrito de Bacabal, Lourenço Vieira, depois condecorado como coronel da Guarda Nacional que mais tarde tornara-se fundador da Vila de Bacabal. A instalação da Colônia Leopoldina, localizada nas proximidades do distrito de Bacabal, ocorreu no governo Olímpio Machado, e em função de atos hostis praticados pelos indígenas na fazenda do tenente-coronel José Caetano Vaz Júnior. Este fato está descrito em “A habitação dos Timbiras”, do indigenista Curt Nimeundaju (alemão, com adoção de nome indígena), publicado em 1944 e que identificavam os Timbira Orientais do norte vivendo nos cursos inferiores dos rios Mearim e Pindaré. No Mearim, eram os Krenyê de Bacabal (núcleo urbano junto ao qual eram habitantes), os Kukoikateyê e, possivelmente, os “Pobzé”. 1857 A Colônia Leopoldina, regida pelo Regulamento Provincial de 11 de abril de 1854, destinada ao aldeamento de índios Crenzés (Carauzés) e Pobés (Pobeges), foi dirigida pelo padre alemão Carlos Winkler. Em um seu relatório, esse padre afirmava que a colonização dos índios, como vinha sendo feita, causava muitos prejuízos. Propôs a sua substituição pela colonização estrangeira.
    Em 1867 surge relatos na Vila de Bacabal que indicavam a existência de 671 índios no alto Mearim (hoje, Médio Mearim). 1876  Registro da primeira ação de povoamento de Bacabal, iniciada pelo coronel Lourenço Antônio da Silva, depois consolidada por outro coronel, de nome Raimundo Alves de Abreu. O coronel Lourenço Antônio da Silva, oriundo de Portugal, fundou uma fazenda às margens do Rio Mearim, onde hoje é a Praça de Nossa Senhora da Conceição, para o cultivo do algodão, arroz e mandioca. Lourenço da Silva também trouxe para o local seu irmão João Lázaro da Silva, que se instalou na localidade, precisamente na área compreendida pelo atual Bairro Juçaral.
    No período de 1876-1878 o historiador Neto, narra que até 1876, as tribos dos Guajajaras e Crentes, essa última de origem desconhecida, habitavam a região do médio Mearim, exatamente na região onde está localizada Bacabal. Suas malocas situavam-se onde hoje é o atual bairro do Juçaral.
A existência belos rios e lagos fartos em águas límpidas e muito peixe, em uma vasta região de planície caracteriza pela riquíssima flora e fauna fizeram brotar as primeiras vias de acesso que possibilitou a chegada do Coronel português Lourenço da Silva em 1876, naquela região encontrou o ambiente ideal, propício para a instalação de sua fazenda, destinada ao cultivo da mandioca, feijão, milho, mandioca e algodão. Onde hoje é a atual praça Santa Terezinha, antes denominada Praça de Nossa Senhora da Conceição, situava-se a fazendo a fazenda que deu origem a cidade.
    No ano de 1877 ocorreu uma grande seca que provocou uma alta corrente migratória de povos de toda região Nordeste em direção ao Estado do Maranhão, cujo fluxo maior se dirigiram à região do Alto Mearim. Para atender esse forte fluxo migratório, em 1878 foi criada a Colônia Flores, às margens do Mearim, na confluência do Rio Flores. Outras localidades beneficiaram-se daquele movimento migratório, além de Pedreiras. Bacabal recebeu centenas de famílias que se estabeleceram às margens do Mearim, iniciando um processo de natural de colonização.
    Já em 1882 o Diretor-Geral dos Índios da Província do Maranhão Trajano A. Valente, informou que a Colônia Leopoldina contava com 226 índios que plantavam algodão, arroz, milho e mandioca, fazendo seu próprio custeio. Nesse período a Colônia era dirigida por Raimundo Alves de Abreu, pai do Coronel Manoel Alves de Abreu.
    As consequências da Lei Áurea assinada pela princesa Isabel impactou fortemente o empreendimento que era a fazenda do Coronel Lourenço da Silva, fazendo-o entra em decadência, uma vez que a mão de obra que tocava a fazenda era do tipo negra e escrava e auxiliada pelo trabalho subserviente dos indígenas. Desse modo a fazenda foi vendida ao também português, o Coronel Raimundo Alves de Abreu que, habilidoso, passou a produzir pelo braço da "mão de obra livre", passando a ser conhecida como "Sítio dos Abreus".
    O ano de 1888 marca, portanto, a abolição da escravatura. Ano em que houve o declínio das fazendas da região ocasionando o repasse para outros proprietários. Nesta ocasião destacou-se o também fazendeiro, de origem portuguesa, coronel Raimundo Alves de Abreu, pai do coronel Manoel Alves de Abreu e do fazendeiro Francisco Alves de Abreu, que através do denominada fazenda situada no “Sítio dos Abreus”, ousou produzir com mão de obra livre, logrou êxito e prosperidade nos negócios da fazenda, período em que inicia-se a atração de pessoas para a região, principalmente do Nordeste, devido à seca que então se agravava. Essa migração contribuiu muito para o desenvolvimento agrícola. O Coronel. Raimundo Alves passa a comercializar com esses trabalhadores livres e com os índios, com suas malocas que ficavam situadas na altura do bairro do hoje Juçaral.
    O ano de 1895 trás em seu histórico o florescimento do comércio de Bacabal, que atraiu imigrantes e estes, com seu trabalho, fizeram desenvolver a produção na fazenda "Sítio dos Abreus". Houve, dessa forma, o aumento populacional que provocou a necessidade de rápida ligação entre o povoado, que então exponencialmente se formava e a Capital São Luís. O fato enche os olhos das autoridades da época que, entusiasmadas, com as benesses econômicas, buscam na tecnologia o suporte ideal para corroborar com o crescimento. Assim, inaugurando-se um Posto do Telégrafo Nacional, na sede da fazenda, Sitio dos Abreus, em 1895.
    O primeiro ano da primeira década, ou seja o ano de 1901, no governo estadual de João Gualberto Torreão da Costa, foi autorizada em acordo com a Diretoria Geral dos Telégrafos a construção de uma linha telegráfica partindo de Bacabal, margeando o Rio Mearim, até Barra do Corda. Em 1913, Bacabal passa a ser estratégico para o Maranhão, pois aqui foram criadas as Coletorias Federal e Estadual. Em 1916, ainda vinculado a São Luís Gonzaga, o Intendente do Município Francisco de Abreu, conhecido pela alcunha de "Chico Abreu", trouxe do povoado Urubu ou Mata-Fome, do distrito de Bacabal, seu irmão mais moço, chamado Manoel Alves de Abreu, que ali vivia de pequeno comércio, para auxiliá-lo em seus negócios particulares. Manoel Abreu cresce politicamente, vindo a dominar a região por mais de três décadas.
    Dados histórico confirmam que em 1920 Bacabal é elevada à categoria de Vila, através da Lei Estadual de número 932, de 17 de abril, assinada pelo então governador do Estado Urbano Santos Costa Araújo, passando a se chamar de "Bacabal dos Abreus", gozando de ter, a partir daquele momento, seu território desmembrado do distrito de São Luiz Gonzaga. A instalação oficial do Município de Bacabal ocorreu poucos meses depois, em 07 de setembro de 1920, como já citado, com o seu território demarcado e desmembrado do município que era sede, São Luís Gonzaga, naqueles idos denominado de "Ipixuna".
    Naquele período histórico, Bacabal apresentava, em termos demográficos, cerca de 9.500 habitantes em todo seu vasto território. Desde a sua fundação em município-distrito, sofreu vários desmembramentos.  Em 1961, para formação dos municípios de Lago Verde (Lei nº 2.157, de 30 de novembro), Olho d’Água das Cunhãs (Lei nº 2.158, de 30 de novembro), e São Mateus do Maranhão (Lei nº 2.170, de 26 de dezembro). 
    Entre o final da década de 1930 até a década de 1960, constituiu-se a fase áurea da economia regional de Bacabal. O carro chefe foi uma indústria francesa, estabelecida na cidade vizinha de São Luís Gonzaga, que se dedicava à compra e venda de algodão, exportado através da hidrovia do Rio Mearim. Em razão da Segunda Guerra Mundial, o Cotoniére Brasil Cia Ltda. foi vendida para a empresa brasileira Chames Aboud e Companhia, de propriedade de Wady Aboud e seus filhos César e Alberto Aboud. Em função desse movimento, Bacabal torna-se centro comercial e de produção, com um porto de muito movimento, atraindo muitos migrantes nordestinos. A firma dos Aboud possuía filial em Bacabal. 
    Em 1931 é inaugurada a iluminação elétrica, com sua primeira usina substituída por outra mais possante, estando atualmente, sob responsabilidade das Centrais Elétricas do Maranhão - CEMAR. No ano de 1938 a Vila de Bacabal é elevada à categoria de Cidade pelo Decreto-Lei número 159, de 06 de dezembro de 1938.
    Endossa o historiador Neto (1980), supra citado, que até o final da década de 40, os índios passavam sempre por Bacabal ao viajarem para São Luís, através de embarcações, para visitar o "Pai Grande", que era a forma como tratavam o Governador do Estado do Maranhão. Portanto, até a década de 1940, antes da construção da estrada BR 135 e 316, a viagem de Bacabal para São Luís, capital do Estado, era feita basicamente de lancha e durava em média uma semana. Em 1945, Alceu Pedreiras Martins, por indicação do Interventor Estadual Paulo Ramos, é nomeado Interventor Municipal em Bacabal. Em 1966, um dos candidatos a Prefeito de São Luís Gonzaga, de nome Bete Lago, teve impugnada a sua candidatura por residir em Bacabal. 
    Aspectos relacionados a saúde: Quanto à saúde pública, existiu em Bacabal o hospital Santa Terezinha, com especialistas e clínicos gerais. Chegou a possuir 40 leitos, e estava instalado em prédio especialmente construído para esse fim. A população conta, ainda, com três postos de saúde, sendo um deles de propriedade da Paróquia de São Francisco, inaugurada em junho de 1970. 
    Já na década de 1970 o Município dispunha de cinco médicos, quatro dentistas, cinco farmacêuticos e 12 enfermeiros. Havia, nesse mesmo período cerca de 20 farmácias e drogarias em funcionamento.
    Aspecto religioso: Na cidade o culto católico, até aproximadamente os anos 80, era praticado em 13 templos entre os quais a Catedral de Santa Terezinha, matriz de São Francisco das Chagas, cuja paróquia tem jurisdição sobre as capelas das cidades de Santa Inês, Olho D’Água da Cunhãs e Lago Verde, Igreja de Sant’Ana e 15 capelas. Entre as igrejas protestantes citavam-se a Batista que foi Pioneira, a Adventista do 7º Dia e a Assembleias de Deus.

Referências Bibliográficas:

DACOSTA, Lamartine. (ORG.). Atlas do Esporte no Brasil.  Rio de Janeiro: CONFEF, 2006.
MONTEIRO, Raimundo Flor. As contribuições da Trizidela para Cidade de Bacabal. 2013

Observações: Raimundo Flor Monteiro é: Pedagogo (UEMA). Mestre em Educação (UFMA). Especialista em Gestão de Recursos Humanos (UCAM). Engenheiro Mecânico Industrial (IFMA). Especialista em Historiografia Brasileira (IGUAÇU). Foi Instrutor de Ajustagem Mecânica, Tornearia Mecânica e Higiene e Segurança no Trabalho no SENAI-MA, no período de 1976 a 1989. Foi Coordenador Pedagógico do SENAI- Bacabal/MA, no período de 1980 a 1996, quando foi transferido para o SENAI/DR/MA em São Luís, onde ocupou os cargos de Supervisor Pedagógico, Gerente de Educação e Assessor Técnico da Direção Regional no período de 2007 a 2016. Período em que foi também membro do Comitê Técnico Nacional do SENAI/DN.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

DE "EDUCAÇÃO PARA A RESPONSABILIZAÇÃO INDIVIDUAL PARA EDUCAÇÃO E CONSCIÊNCIA DE CLASSE"

RESENHA: DE "EDUCAÇÃO PARA A RESPONSABILIZAÇÃO INDIVIDUAL PARA EDUCAÇÃO E CONSCIÊNCIA DE CLASSE".
Resenha do último artigo do livro "Educação e luta de classe". 1a ed. São Paulo: Expressão Popular, 2008. 144p, cuja autora é Angela Maria Hidalgo.Resenhado por Raimundo Flor Monteiro, em 02/12/2019, Mestre em Educação, formado pela UFMA - Universidade Federal do Maranhão.
O assunto é tratado sob a perspectiva crítico-progressista. A autora inicia o artigo afirmando que no conceito de "educação permanente" enquanto prerrogativa proposta pela UNESCO, afirma-se o pressuposto de que educação e consciência das responsabilidades individuais pode resolver todos os problemas sociais. Autora enfatiza que "educação permanente", exponencialmente difundida, atribui "poderes desmedidos a educação" ao mesmo tempo que esvazia os processos educativos e a própria educação formal. Desse modo, a autora afirma que a educação formal perde sua especificidade frente a ações sociais de caráter educativo.
O fato para ela, a autora, acontece dado que os teóricos da ONU aproximam a educação formal da educação informal, através de alteração no conteúdo da primeira, incluindo autoestima, heterogeneidades sociocultural, o entorno social da escola e a busca de aliados para a superação do atual insucesso escolar. A autora reconhece o potencial das práticas educativas para as transformações sociais, porém ressalta que não é a unica. Afirma que as exigências sobrecarregam a escola fazendo-a perder sua especificidade. A autora chama de "falácia" a ideia de que a educação é eficiente em resolver todos os problemas sociais, em especial, se tiver a participação de todos os setores da sociedade, uma condição que somente a educação concatenada com outras dimensões sociais pode resolver.
A autora defende o investimento público maciço pelo Estado em educação e demais campos do social. Reafirma que no momento histórico de restruturação do capital, o financiamento estatal priorizam a expansão econômica em detrimento do social. Assim, o Banco Mundial e a Unesco, hoje, orientam para a captação de investimentos que subsidiam a transferência das responsabilidades da educação para a esfera da sociedade civil. A autora cita um Caderno da Unesco Brasil em que o autor demonstra o "círculo perverso" da pobreza e defende a articulação das políticas econômicas e social, para que haja crescimento econômico e consequente redução das tensões sociais.
Deduz a autora que o "investimento no capital social" é necessário, para estabelecer o clima de confiança dos sujeitos, motivar o interesse nas questões coletivas e despertar a consciência cívica, bem como a promoção de políticas sociais e a minimização das desigualdades e da pobreza, bem como a emersão de um novo Estado. Este, o Estado liberal, estaria responsável apenas pela "gestão das políticas "na linha da "gerência social" e "gerencia interorganizacional", em que cada setor da sociedade assume responsabilidades, incluindo ONGs, igrejas, universidades, empresas, sindicatos e voluntariado. Enfim, minimizado a ação e a responsabilidade institucional do Estado.
A partir da página 130 a autora passa a enumerar os parâmetros utilizados de "intervenção societal " pelo Estado na execução do novo papel neoliberal:
a) Esvaziamento da função educativa da escola, através da superestimação do papel da escola, ao atribuir-lhe múltiplas funções e inúmeras responsabilidades, que são desenvolvidas através da centralidade nos projetos sociais. Os projetos executados por ONGs servem de parâmetros para atender ao mercado, bem como de base para regulação social pretendida pelo Estado. O Estado, ante a sociedade civil, afirma como "sujeitos" do processo de implementação de políticas sociais, as ONGs, empresas, as diversas associações, etc. Sobre esse fato Montaño (2002) afirma que o Estado promove o esvaziamento e transfere para os agentes da sociedade civil, já citados, as ações de conceber e executar as politicas públicas de sua alçada.
b) Atuação escolar com base no associativismo (voluntariado) para atuarem em causas pontuais, a medida que nega a atuação sindical; Cita (Enguita, 2007), ao afirmar que o acesso a informação, dentro da nova sociedade do conhecimento, como elemento socialmente segregador, que implica flexibilização curricular, definição do planos de estudos, inserção dos pais e das comunidades para maior ascensão cultural. (a autora não se declara contra inserção dos pais e das comunidades na escola).
Para afirmar "a relação entre educação e consciência de classe" a autora reafirma que: 1. Submeter a centralidade dos "processos materiais de produção", subordinado aos fundamentos da "produção das relações sociais" da existência humana.
2. Assunção do trabalho como definidor da essência humana, dado que ao agir sobre a natureza, ao alterar o meio físico, ao produzir artefatos e instrumentos de trabalho, ao realizar no âmbito social objetivações, que resultam em novas necessidades, que incorporadas subjetivamente, passam a historicamente a fazerem parte do seu ser social.
3. Vai buscar em Márkus, 1974; Duarte 2000, a afirmativa de que somos seres humanos quando incorporamos um modo de vida material, cultural e social, forjado num processo de criação e recriação de formas de produção material e simbólica de nossa existência social.
4. As crises peculiares e constantes do modo de produção capitalista são resolvidas temporariamente por "novos arranjos produtivos", permanecendo assim a hegemonia de classe;
5. As alterações no modo de regulação social vigente advém da passagem do modo de produção taylorista-fordista, para o regime de produção flexível. O primeiro exigia do sistema educativo a formação em diferentes níveis de ensino e grau de conhecimento, pré-estabelecidos; ao segundo, as novas configurações do mercado passam a exigir a formação de um trabalhador polivalente em diferentes atribuições, capaz de elevar a produção com um reduzido número de trabalhadores, visto que a terceirização, junto a contratadas, promovem a subcontratação sem garantia de direitos, produzindo alta instabilidade, baixos salários (em função da alta rotatividade da demanda por novos produtos). Essa nova escola neoliberal terá que desenvolver competências e habilidades - competência para aprender, para fazer, enfim que lhes permita viver num mundo instável em que direitos é obstáculo para o desenvolvimento das empresas.
6. Esclarece que o comprometimento das agencias internacionais com o modo de produção capitalista, demanda do sistema de ensino as necessidades impostas pelo mercado de trabalho. O discurso humanista é pura retórica para amenizar a miséria e melhor conter as tensões sociais, via atribuição de responsabilidade a sociedade civil.
7. Defende, para um futuro contexto onde haja consciência de classe a defesa de uma educação politécnica que preconize o amplo desenvolvimento das forças produtivas, de avanço tecnológico. Uma educação humana e libertária que supere as contradições centrais do modo de produção capitalista e que contribua com o processo global de transformação societal, preservando a educação formal e o caráter do ensino e do conhecimento científico-filosófico.
8. Imprescindível, diz a autora, destacando o papel do sindicato de trabalhadores da educação na busca de melhorias para a categoria, e no campo de correlação de forças, bem como do seu papel educativo na perspectiva de educação permanente, voltada aos interesses amplos da sociedade, na medida que educação e promove espaços de formação continuada da categoria.
9. Reitera a defesa de uma concepção pedagógica de educação que reconheça os processos de produção da existência humana, na dialética entre objetivação e subjetivação, em que os conceitos e classificação dos fenômenos naturais e sociais, sejam expressos em uma lógica-dialética em detrimento da aparente organização lógico-formal instrumental.
10. A adoção de um trabalho pedagógico ministrado pela lógica dialética que evidencie o papel social da escola, as atualizações históricas da humanidade, inclusão de aspectos políticos e culturais, explicitação dos embates de diferentes interesses socioeconômicos e culturais.
11. Uma pedagogia histórico-crítica, a exemplo de Saviani (1980) e Gasparin (2002), com um corpus teórico e metodológico que preserve a educação formal, priorize o trabalho, os conhecimento da área e saberes de imediato necessários aos alunos; uma base curricular que aborde os conhecimentos científicos escolares x saberes de senso comum dos alunos, através dos passos: problematização, instrumentalização e a cartase; um currículo escolar de regulação nacional e estadual definidos em fóruns coletivos de educadores.
12. Defende uma ação democrática da escola com forte vínculo com o entorno, com espaços de formação política, via participações em que haja expressão das necessidades e expectativas das pessoas; inserção de profissionais da educação com domínio dos conteúdos, capacidades política, aberto ao confronto.
Se pôde extrair da obra que:
A globalização e a financeirização do capital acirram a competição e as demandas por acumulação. O antigo modo de produção tornou-se insustentável, a medida que subsidiou a garantia o bem-estar social do trabalhador em detrimento da menor acumulação do capital.
A educação para a responsabilização individual é uma estratégia do capital para esvaziar a educação e desvirtuar e obstacularizar uma nova consciência de classe". A educação, para o capital, passa a ser a base para a desconstrução do atual modo de produção fordista e a nova base para instalação do modelo de produção flexível.
A denuncia do equívoco da colocação da "educação" como único constructo social, capaz de resolver todos os problemas na atual e complexa sociedade contemporânea. Portanto, o pseudo humanismo é um fator de condicionamento dessa inculcação e consequente condicionamento, que redunda em obstáculo que impossibilita uma consciência de classe.
A educação escola formal se esvazia mediante a incorporação de múltiplos problemas de outras instâncias, que tangenciam a educação, mais que não estão diretamente ligada a sua alçada.
Há uma prática de desconstrução da estrutura escolar atual, que visa isentar o Estado da obrigação constitucional de gerir a educação para todos. Tal processo, consiste em entregar a gestão da educação para os seus beneficiados, representados por associações e ONGs, além de obter o seu financiamento através das empresas, conjugado com trabalho intermitente de voluntários. Dessa forma, a educação escolar formal passaria a funcionar completamente voltada para suprir as demandas do capital.
Questões teórico práticas que se levantam sobre a obra lida?
1. A educação enquanto campo de atuação social para o novo modo de produção flexível, trás em sua gênese as estratégias de desconstrução e desarticulação do modo de produção anterior. Por conseguinte, quais seria as diversas táticas sociais e estruturais de combate ao novo, predatório aos direitos sociais?
2. Até que ponto o protagonismo das ONGs a serviço do capital e as associações que ora assumem o papel do Estado como executoras da educação nesse novo contexto sócio-produtivo se afastam do social?
3. A amplitude da pedagógica das competências as concebe como a capacidade de mobilizar conhecimentos, habilidades e atitudes, para equacionar, adequar e resolver situação complexas. Assim, como se estrutura esta pedagogia, na teoria e na prática, para atender ao novos reclames do novo modo de reestruturação produtiva?
Quais são as aplicações práticas que a leitura poderá possibilitar?
a) Nos permite enxergar no espaço e no tempo, o elevado grau de nossa ingenuidade social diante de uma realidade complexa, na qual estamos submetidos ao controle social e o quanto já incorporamos as teses deterministas econômicas neoliberais em nosso contexto atual. Portanto, hora de fazermos um marco situacional individual e projetarmos, sair da zona de conforto para uma ação e posterior consolidação de um novo ativismo na defesa da democracia, justiça social e anti teses liberais.
b) Qual o público indicado para leitura? Todos os cidadãos e cidadãs que estiverem dispostos a crescerem pessoal e profissionalmente, independente de cor, escolaridade, raça e credo.
c) Conclusão do autor?
A autora procede uma análise acurada dos processos de isenção (isentar) que culminam na desobrigação do Estado para com o social, no que tange a Educação Formal. Faz isso através da desconstrução de sólidas políticas anteriormente implantas e via a implantação de novas políticas neoliberais, que se processa sob a orientação dos órgãos multilaterais (Banco mundial, ONU, etc). Um dos objetivos principais é conseguir, através do esvaziamento do papel da educação formal, isentar o Estado do seu papel de principal protagonista, colocando em seus lugar ONGs e instituições que operam com recursos privados. As consequências dessas orientações pseudo humanísticas tem relação com a alienação do cidadão, que os faz perder a sua consciência de classe. O equivoco neoliberal identificado pela autora, é que os pressupostos neoliberais superestimam a educação formal, o que o torna uma miragem ou mesmo uma panaceia. E pior, passa a defender uma escola financiada com recursos públicos, além do esvaziamento curricular e foco direcionado nas necessidades do mercado, fazendo com que a gestão escolar esteja apenas voltada para as necessidades do sistema produtivo em detrimento das graves questões sociais.

R
AIMUNDO FLOR MONTEIRO
MESTRE EM EDUCAÇÃO
UFMA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

Referências:
Educação e luta de classes/Paulino José Orso, Sebastião Rodrigues Gonçalves, Valci Maria Mattos (organizadores) - - 1. ed. - -  São Paulo  : Expressão popular, 2008. 144p  :il.